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08/12/2002 - 03h00

Polícia liberta "primo" de Lula que fazia trabalho escravo em Rondônia

JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

Edejasme Correia da Silva, 62, foi libertado terça-feira com outras 35 vítimas de trabalho escravo numa fazenda dos confins de Rondônia. Com muita simplicidade, ele disse aos fiscais do Ministério do Trabalho que acreditava ser primo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. O que não se confirmou.

Além do Silva no sobrenome, o que não chega a ser um diferencial muito sólido, Edejasme nasceu em Garanhuns (PE), nas imediações de Caetés, cidade do presidente eleito, e tinha um primo mais moço, também apelidado de Lula e que emigrara com a família para São Paulo.

O fato é que tantas coincidências deixaram perplexos os fiscais e os agentes da Polícia Federal que irromperam na propriedade da Agropecuária Corumbiara, no km 110 da Rodovia Estrada Vicinal Usina do Álcool, em Pimenta Bueno (RO), que fica a 450 km ao sul de Porto Velho e a cerca de 40 km da fronteira com a Bolívia.

"Eu pensei que era ele, o Lula", disse Edejasme por telefone à Folha, sem evocar o suposto parentesco para obter vantagens.
O fato é que Edejasme perdeu há coisa de dez anos todos os documentos. Não sabia como se identificar. Disse aos fiscais que o resgataram ser filho de Maria Tereza da Conceição e de Manuel Correia da Silva.

Em São Paulo, contatado pelo jornal, Genival Inácio da Silva, 62, o Vavá, um dos 15 irmãos de Lula ainda vivos, disse desconhecer esses dois nomes. O lado Silva da família veio com a prole de Guilhermina, mãe de Aristides _pai do presidente eleito, que morreu em 1978_ e de seis outros filhos naturais e mais dois adotivos.

A linhagem de Edejasme tem outra origem no interior pernambucano. Veio dos avós Laurentino Correia da Silva e da avó Maria Terezinha Leopoldino, também desconhecidos de Vavá, o irmão de Lula de boa memória.
Desfeito o mistério, a história de Edejasme perdeu a singularidade, mas manteve intactos seus componentes de miséria.

As coisas começaram a não dar certo quando ele tinha por volta de dez anos. Quase se afogou, mas preserva sequelas do acidente.

"Fiquei frouxo, vermelho, com febre. Minha idéia se afastou da mente", diz ele. Tomou chá de folhas de uma curandeira. Mas já não servia para os estudos. Concluiu só o segundo ano primário.

Nunca se casou. Chegou a São Paulo em 1952. Foi estafeta e auxiliar de cozinha. Trabalhou numa padaria. Aos 18 anos mudou-se para Mato Grosso. Em 1985, tenta obter emprego em São Paulo. É recrutado por um "gato" (aliciador de mão-de-obra escrava) para o interior de Rondônia.

Estava há dois anos na fazenda da qual foi agora resgatado. Morava com companheiros num barracão sem água ou instalações sanitárias. Não tinha registro profissional e não era remunerado em dinheiro. Recebia cupons, trocados por comida no mercado mais próximo. Não tem mais família ou referência geográfica.
 

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