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09/12/2002 - 03h54

Lula não tem "idéia do problema" que vai assumir, diz FHC

ELIANE CANTANHÊDE
enviada especial a Nova York

O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou a performance do seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, na viagem da semana passada à Argentina e disse a parlamentares, durante o vôo de Brasília para Nova York, no sábado, que Lula ainda está em fase de euforia com a vitória e não sabe do tamanho dos problemas que vai assumir depois de janeiro.

"Ele [Lula] não tem idéia do tamanho, da profundidade do problema", disse FHC a um deputado e a quatro senadores, na conversa informal, em que também condenou as críticas que Lula fez na Argentina à globalização, à política de abertura adotada pela América Latina e especificamente ao Brasil. "Depois, eu é que tenho de ficar dando declaração para acalmar o mercado", disse o presidente, conforme relato de passageiros do vôo especial da TAM que o transportou e a 23 parlamentares para Nova York.

Ontem, em entrevista, o presidente voltou ao assunto: "Quando as pessoas assumem o governo, como agora o presidente Lula, elas compreendem melhor que não se fez mais porque é difícil fazer mais. E vão ver também que nós fizemos numa direção que é também o desejo dele", disse (leia texto abaixo).

Durante a conversa com parlamentares no vôo, um dos deputados ironizou o fato de o médico Antônio Palocci, virtual futuro ministro da Fazenda, não falar inglês. FHC exclamou: "Não? É mesmo?!"

O parlamentar confirmou: "Ele [Palocci] fica só no 'the book is on the table'". FHC então riu, enquanto outro dos convivas comentava que o atual ministro, Pedro Malan, fala inglês impecavelmente e "dá um show", por exemplo, nas reuniões do conselho de ministros de economia.

Faziam parte do grupo o ex-assessor especial Moreira Franco (PMDB-RJ), o senador Siqueira Campos (PSDB-TO) e os deputados Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), Alberto Goldman (PSDB-SP) e Geddel Vieira Lima (BA), líder do PMDB na Câmara. Pouco mais adiante, estavam a atriz Regina Duarte e a secretária de Assistência Social, Wanda Engel.

"Personal adviser"
Ao chegar ao hotel Plaza, no sábado à noite, FHC confirmou que dará hoje resposta ao convite para ser, na sua definição, um "personal adviser", ou "conselheiro pessoal", do secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Kofi Annan. FHC e Annan almoçam hoje na casa do embaixador brasileiro na ONU, Gelson Fonseca, em Nova York.

A tendência de FHC é aceitar o convite, que lhe foi formulado por Annan durante recente viagem dos dois a Johannesburgo (África do Sul). FHC, porém, disse logo ao chegar ao hotel Plaza, onde está hospedado, que não pretende assumir muitos compromissos depois de deixar a Presidência.
"Tenho tantos convites que tenho que ir devagar, senão vou trabalhar mais do que o necessário", disse ele, relacionando algumas das universidades interessadas em tê-lo como professor ou consultor: Madri, Harvard, Brown, Dallas e a London School of Economics.

"Mas tenho que descansar um pouquinho. Vocês não viram como trabalhamos estes anos todos? Senão, vocês não vão ter folga também", disse a jornalistas.

Para sua última viagem internacional, FHC chegou a Nova York com uma comitiva de mais de 30 pessoas e com uma agenda mais sentimental do que presidencial, e seu principal compromisso é a cerimônia em que receberá o primeiro prêmio do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano) por avanços nessa área.

A solenidade será hoje, na Morgan Library, centro de Nova York, e FHC falará durante 20 minutos em tom de resposta às críticas que recebe dentro do Brasil ao ritmo e às conquistas de seu governo na área social. A pedido do PNUD, falará em inglês.

Durante o vôo de cerca de nove horas de Brasília a Nova York, o presidente se dividiu entre conversas e brincadeiras com os deputados e senadores, no espaço correspondente à classe econômica, e o almoço reservado com a família, na cabine presidencial.

O ex-candidato à Presidência José Serra (PSDB-SP) não estava no vôo, pois viajou direto da Índia para Nova York. Mas estavam, por exemplo, o presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), e ex-ministros como José Jorge (PFL-PE), Pimenta da Veiga (PSDB-MG) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Pelo PPB, viajou o senador Romeu Tuma (SP).

Segundo a assessoria do Planalto, FHC se limitou a dar "uma carona" para os parlamentares, e cada um deles escolheu, inclusive, em que hotel iria ficar. Muitos ficaram no Plaza, com diárias a partir de US$ 429, fora da estação, e até US$ 1.650, para a principal suíte, a Plaza.

Os embaixadores Rubens Barbosa (Washington) e Walter Pecly (OEA) se dividiram entre o presidente que sai e o que entra, Luiz Inácio Lula da Silva, que desembarca hoje à tarde aos EUA. Os dois chegaram a Nova York no sábado e embarcam hoje cedo de volta para Washington, onde está previsto para amanhã o encontro de Lula com o presidente George W. Bush, na Casa Branca.
 

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