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16/12/2002 - 08h13

PT articula para facilitar diálogo com PMDB

FÁBIO ZANINI
RAYMUNDO COSTA
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A nomeação do economista Carlos Lessa, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, para o Ministério do Planejamento, se vier a se confirmar, será feita na cota pessoal do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e não na do PMDB, partido ao qual é ligado o economista.

O recado é do futuro chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP), e tem o objetivo de facilitar o entendimento com o PMDB, que deve ser retomado nesta semana. O último contato entre o PT e a cúpula do PMDB deu-se na manhã de sexta-feira passada.

Desde então mudou o tom do discurso dos dirigentes peemedebistas sobre a participação da sigla no governo Lula. Ontem, o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), disse que a tendência é o PMDB ficar independente, sem cargos, mas dar apoio parlamentar a iniciativas do próximo governo.

"Não procuramos, fomos procurados. Vamos esperar por uma proposta concreta e só então reunir o partido para decidir. A tendência de independência é muito forte", disse Temer, que apoiou a candidatura do tucano José Serra à Presidência.

Dirceu disse que ainda não está confirmada a participação de Lessa no ministério, mas o fato de afirmar que a eventual nomeação do economista se dará na cota de Lula serve para aparar arestas com a cúpula peemedebista.

A direção do PMDB está desconfiada de que o PT joga na divisão do partido e quer impor seus representantes no ministério. Lessa é ligado historicamente à legenda, mas não é um dos nomes que o partido apresentaria a Lula para compor o governo.

Os discursos do PT e do PMDB também soaram fora de sintonia durante o fim de semana.

Ontem, ao chegar à Granja do Torto para assistir com Lula ao jogo Santos e Corinthians, Dirceu disse que conversara "com muita gente do PMDB" ao longo do dia. Temer e Renan Calheiros (AL), líder no Senado, diziam que desde sexta-feira passada não tiveram mais contato com o petista.

A negociação com o PMDB é a mais importante e a mais complicada para o novo governo. Importante, porque a sigla terá em 2003 uma bancada de 74 deputados e 20 senadores, cuja adesão daria mais consistência à sustentação parlamentar do governo. É complicada devido à divisão interna da sigla. Entre os governadores, Jarbas Vasconcelos (PE) e Germano Rigotto (RS) são os mais refratários à participação. Ambos têm o PT como principal adversário em seus Estados.

No Congresso, Temer evolui para a posição de independência, mas Calheiros balança entre as duas posições porque disputa com José Sarney (AP) -que está com Lula desde a eleição- a presidência do Senado. Ao mesmo tempo que diz que não se oferecerá para participar do governo, o PMDB pressiona uma decisão do PT retomando conversas com o PSDB e o PFL - na oposição - em torno de uma atuação conjunta no Congresso no próximo ano.

O quebra-cabeças peemedebista é o mais complicado de acertar, devido às divisões da sigla, mas há dificuldades também em relação a outros partidos, especialmente ao PDT. Lula quer nomear o deputado Miro Teixeira (RJ) para as Comunicações, mas sofre a oposição de Leonel Brizola.

Dirceu disse que trabalhou duro no fim de semana. Além do PMDB, contou que teve conversas também com o PPS e o PSB.

O representante do PPS no governo deve ser Ciro Gomes (CE), cotado para a Integração Nacional, mas que pode ficar com a Previdência Social se o primeiro ficar com o PMDB.

Mas o PSB está em pé de guerra por causa da provável indicação de Roberto Amaral, um de seus vice-presidentes, para a Ciência e Tecnologia. Os senadores eleitos do partido prometem boicotar a nomeação. Hoje, Dirceu discutirá o assunto com o ex-governador do Rio Anthony Garotinho.

O PTB não deve ser problema: deixou nas mãos de Lula a escolha de seu representante no governo, que deve ser o deputado Walfrido Mares Guia (MG), para o Esporte e Turismo. O senador Carlos Wilson (PE) corre por fora, mas deve ficar com uma estatal, provavelmente a BR Distribuidora.

O PL deve ser beneficiado com a retirada do Ministério dos Transportes da negociação com o PMDB, que ficaria para o partido. O nome cogitado é o do prefeito de Manaus (AM), Alfredo Nascimento, que, a exemplo de Carlos Lessa, também conversou com Lula na quinta-feira passada.

Segundo Dirceu, o presidente eleito, "se desejar, terá todas as condições de anunciar o ministério até quinta-feira, as coisas estão evoluindo bem".

Lula, após mandar recados no sábado dizendo que os partidos não iriam escolher os ministros de acordo com seus interesses, passou o dia ontem recolhido à Granja do Torto. Pela manhã, caminhou com a mulher, Marisa. Depois, recebeu os petistas de Brasília Sigmaringa Seixas e Pedro Celso.

Veja também o especial Governo Lula
 

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