Publicidade
Publicidade
13/08/2000
-
06h22
LUÍS INDRIUNAS, da Folha de S.Paulo
Cerca de 85% das 561 terras indígenas brasileiras sofrem algum tipo de invasão. A estimativa é aceita pela Funai (Fundação Nacional do Índio) e por ONGs ligadas a causas indígenas.
Demarcação e registro da área não garantem o território. Reconhecida desde 1945 e registrada em 1992, a reserva Alto Rio Guamá, de 279 mil hectares (cerca de 2.790 km2, ou duas vezes o tamanho da cidade de São Paulo), tem 60% do seu território invadido.
Os motivos mais comuns para as invasões são furto e roubo de madeira. O último levantamento do Conselho Indigenista Missionário sobre violência, em 96, mostrou 32 casos registrados de pessoas pegas retirando madeira de reservas indígenas naquele ano.
O roubo de minério vem em seguida. Em 96, foram 15 casos de garimpeiros e mineradoras em terras indígenas. As lutas pela posse da terra geraram a invasão de 13 outras áreas naquele ano.
Alguns índios, mesmo sabendo ser ilegal, preferem comercializar com os invasores para lucrar com a retirada de bens naturais. Os caiapós, etnia dos sequestradores dos 16 turistas que ficaram uma semana reféns em Novo Progresso (PA), fazem negócio com madeireiros desde a década de 80.
No entanto, a negociação de seus bens com brancos e a consequente
devastação de suas áreas não interessam à maioria dos índios, diz o presidente da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), Euclides Macuxi Pereira.
A Coiab organiza atualmente 14 oficinas, financiadas pelo PPG-7 (Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais no Brasil), para criar modos sustentáveis para os índios sobreviverem.
Pereira lembra, no entanto, que a demarcação e registro das áreas são importantes para que o índio continue a viver sem devastar.
Dos três últimos presidentes da República, Fernando Henrique Cardoso foi o que mais registrou terras indígenas. Segundo levantamento da ONG Instituto Socioambiental, FHC homologou 117 terras. Fernando Collor homologou 112 e Itamar Franco, 16.
Mesmo assim, o governo não tem apoio das organizações indigenistas. "O decreto 1.775 é deste governo", disse o vice-presidente do Cimi, Saulo Feitosa, referindo-se a decreto do então ministro da Justiça, Nelson Jobim, que permitiu contestação administrativa sobre as demarcações.
"O decreto possibilita o contraditório em duas vias, judicialmente e administrativamente", defende o procurador da República Ubiratan Cazzeta.
Segundo a procuradora regional da 6ª Câmara Federal, Débora Duprat, no governo FHC também foram reduzidas ao menos oito áreas indígenas -entre elas, a reserva do Baú. A demarcação dessa área foi a única condição para os caiapós liberarem os 16 reféns.
Eles foram soltos só depois que o ministro José Gregori (Justiça) garantiu o início do processo.
O principal problema será enfrentar os 250 fazendeiros que dizem ter títulos de posse do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e ameaçam usar as armas contra a demarcação. A Prefeitura de Novo Progresso entrou com mandado de segurança no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Segundo Cazzeta, as indenizações dependem de vontade política. Na reserva Alto Rio Guamá, mesmo com a indenização decidida pela Justiça, apenas 176 famílias receberam -350 esperam.
Em fevereiro de 99, líderes caiapós assinaram um acordo com o Ministério do Meio Ambiente no qual se comprometiam a não negociar com madeireiros.
"Sabemos que há, mas eles (os caiapós) fazem sem nos informar porque
sabem que isso é ilegal", disse o administrador da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Colider (MT), Megaron Txucarramãe, que também é caiapó.
Segundo o procurador Felício Pontes Júnior, os negócios são feitos apenas por alguns líderes.
Leia mais notícias de política na Folha Online
Discuta esta notícia nos Grupos de Discussão da Folha Online
85% das reservas dos índios são alvo de invasões
Publicidade
Cerca de 85% das 561 terras indígenas brasileiras sofrem algum tipo de invasão. A estimativa é aceita pela Funai (Fundação Nacional do Índio) e por ONGs ligadas a causas indígenas.
Demarcação e registro da área não garantem o território. Reconhecida desde 1945 e registrada em 1992, a reserva Alto Rio Guamá, de 279 mil hectares (cerca de 2.790 km2, ou duas vezes o tamanho da cidade de São Paulo), tem 60% do seu território invadido.
Os motivos mais comuns para as invasões são furto e roubo de madeira. O último levantamento do Conselho Indigenista Missionário sobre violência, em 96, mostrou 32 casos registrados de pessoas pegas retirando madeira de reservas indígenas naquele ano.
O roubo de minério vem em seguida. Em 96, foram 15 casos de garimpeiros e mineradoras em terras indígenas. As lutas pela posse da terra geraram a invasão de 13 outras áreas naquele ano.
Alguns índios, mesmo sabendo ser ilegal, preferem comercializar com os invasores para lucrar com a retirada de bens naturais. Os caiapós, etnia dos sequestradores dos 16 turistas que ficaram uma semana reféns em Novo Progresso (PA), fazem negócio com madeireiros desde a década de 80.
No entanto, a negociação de seus bens com brancos e a consequente
devastação de suas áreas não interessam à maioria dos índios, diz o presidente da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), Euclides Macuxi Pereira.
A Coiab organiza atualmente 14 oficinas, financiadas pelo PPG-7 (Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais no Brasil), para criar modos sustentáveis para os índios sobreviverem.
Pereira lembra, no entanto, que a demarcação e registro das áreas são importantes para que o índio continue a viver sem devastar.
Dos três últimos presidentes da República, Fernando Henrique Cardoso foi o que mais registrou terras indígenas. Segundo levantamento da ONG Instituto Socioambiental, FHC homologou 117 terras. Fernando Collor homologou 112 e Itamar Franco, 16.
Mesmo assim, o governo não tem apoio das organizações indigenistas. "O decreto 1.775 é deste governo", disse o vice-presidente do Cimi, Saulo Feitosa, referindo-se a decreto do então ministro da Justiça, Nelson Jobim, que permitiu contestação administrativa sobre as demarcações.
"O decreto possibilita o contraditório em duas vias, judicialmente e administrativamente", defende o procurador da República Ubiratan Cazzeta.
Segundo a procuradora regional da 6ª Câmara Federal, Débora Duprat, no governo FHC também foram reduzidas ao menos oito áreas indígenas -entre elas, a reserva do Baú. A demarcação dessa área foi a única condição para os caiapós liberarem os 16 reféns.
Eles foram soltos só depois que o ministro José Gregori (Justiça) garantiu o início do processo.
O principal problema será enfrentar os 250 fazendeiros que dizem ter títulos de posse do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e ameaçam usar as armas contra a demarcação. A Prefeitura de Novo Progresso entrou com mandado de segurança no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Segundo Cazzeta, as indenizações dependem de vontade política. Na reserva Alto Rio Guamá, mesmo com a indenização decidida pela Justiça, apenas 176 famílias receberam -350 esperam.
Em fevereiro de 99, líderes caiapós assinaram um acordo com o Ministério do Meio Ambiente no qual se comprometiam a não negociar com madeireiros.
"Sabemos que há, mas eles (os caiapós) fazem sem nos informar porque
sabem que isso é ilegal", disse o administrador da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Colider (MT), Megaron Txucarramãe, que também é caiapó.
Segundo o procurador Felício Pontes Júnior, os negócios são feitos apenas por alguns líderes.
Leia mais notícias de política na Folha Online
Discuta esta notícia nos Grupos de Discussão da Folha Online
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Nomeação de novo juiz do Supremo pode ter impacto sobre a Lava Jato
- Indicação de Alexandre de Moraes vai aprofundar racha dentro do PSDB
- Base no Senado exalta currículo de Moraes e elogia indicação
- Na USP, Moraes perdeu concursos e foi acusado de defender tortura
- Escolha de Moraes só possui semelhança com a de Nelson Jobim em 1997
+ Comentadas
- Manifestantes tentam impedir fala de Moro em palestra em Nova York
- Temer decide indicar Alexandre de Moraes para vaga de Teori no STF
+ EnviadasÍndice