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02/01/2003 - 19h54

Leia a íntegra do discurso do novo ministro dos Transportes de Lula

da Folha Online

veja a íntegra do discurso do novo ministro dos Transportes Anderson Adauto, na cerimônia de transmissão de cargo.


Senhoras e senhores,

"Assumo o Ministério dos Transportes com a consciência de que estou participando do primeiro governo, em toda a História deste país, em que o autêntico povo brasileiro se encontra representado. Este governo não traz os nomes nobiliárquicos dos fidalgos portugueses, mas os sobrenomes dos que trabalham e produzem. Ele marca seu simbolismo na aliança entre dois homens, nascidos no meio rural, educados no trabalho e nas dificuldades, e que foram vitoriosos na dura competição com os nascidos entre lençóis de cambraia e em berços dourados. É um governo que supera a luta de classes, ao unir o operário e líder sindical Luis Inácio ao empresário José Alencar, para ser um governo do Brasil e para o Brasil.

Mas não é um governo que pretenda eliminar as reivindicações sociais. O confronto dialético entre o capital e o trabalho continuará sendo uma expressão da democracia e da liberdade. O que este governo pretende e está claro nos pronunciamentos de seu Chefe é reunir todos os esforços e sacrifícios da sociedade, nas tarefas indispensáveis à reconstrução nacional. O entendimento entre todos os setores da sociedade brasileira deverá ser dirigido para a correção das desigualdades seculares, mediante a justa distribuição de renda e das oportunidades. Quero relembrar, neste momento, um dos mais importantes estadistas brasileiros, meu conterrâneo Tancredo Neves: é preciso que sejamos moderados no método, se quisermos ser radicais no objetivo.

Orgulho-me de haver participado das articulações políticas entre o Partido Liberal, o Senador José Alencar e o Partido dos Trabalhadores, na construção da aliança que nos possibilitou chegar à frente no primeiro escrutínio eleitoral.

Essa aliança teria sido impossível sem o espírito, ao mesmo tempo ousado e conciliador, de José Alencar. Alencar é um homem de Minas, fiel aos valores de sua gente. Ele tem sido uma das personalidades públicas mais respeitadas pelos setores produtivos de nosso País, não só pela forma exemplar com que construiu suas empresas, mas, principalmente, pelo respeito que sempre dedicou aos trabalhadores. Foram essas virtudes que lhe permitiram a adesão de importantes personalidades dos setores produtivos à nossa coligação política. Também durante a campanha, como companheiro de chapa de Lula, José Alencar foi incansável na sua peregrinação cívica pelo país.

Nas conversações para a construção da aliança, destacou-se o espírito público do deputado Valdemar da Costa Neto, presidente de nosso Partido. Ele soube entender o valor histórico da chapa de centro-esquerda, sem a qual não seria possível qualquer projeto de retomada do desenvolvimento do Brasil.
Senhoras e senhores,

O relato que o Ministro Antonio Palocci, como chefe da equipe de transição, fez sobre a situação do Brasil, é uma estarrecedora ata da realidade do Pais hoje. É um documento que deve ser lido por todos os cidadãos deste País, pois ele retrata a situação nacional, e infelizmente nos mostra que o País está arruinado.

A minha vontade pessoal era assumir minha cadeira na Câmara dos Deputados, para a qual fui eleito, e na condição de parlamentar dar minha contribuição na construção deste novo Brasil.

Mas fomos honrados pelo convite do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a chefiar o Ministério dos Transportes.
Não desconheço as dificuldades que me esperam.

Este Ministério tem a responsabilidade de cuidar de um dos setores mais importantes deste país, que é o da infra-estrutura viária.

Sem estradas, sem portos, sem hidrovias e sem as ferrovias, todas as atividades econômicas entram em colapso.

É importante lembrar que uma das principais prioridades deste governo é de gerar empregos.

E para criar empregos, temos que aumentar a produção, abastecer racionalmente o mercado interno e, principalmente, exportar mais.

Para que possamos cumprir essas metas, em beneficio de todos os brasileiros, o Ministério dos Transportes oferecerá a infra-estrutura necessária.

Não poderemos ser neste Ministério apenas os capatazes que orientam a reparação de buracos nas rodovias, após o período das chuvas, que tantas mortes causam aos nossos irmãos.

Para bem servir à sociedade brasileira neste momento de mudanças, o Ministério dos Transportes atuará, de forma decidida, na integração da malha rodoviária e ferroviária com as hidrovias, buscando a intermodalidade reclamada pela economia moderna.

Nas relações com os órgãos do Estado e com todos que atuam no setor de transportes, e a sociedade brasileira como um todo, o Ministério atuará com absoluta transparência.

Muito há por se fazer, e precisamos do esforço de todos, principalmente dos servidores deste Ministério. Queremos promover amplo debate com todos os que trabalham direta ou indiretamente com este Ministério, estabelecendo todas as parcerias, que sejam a favor de nosso País.


Um dos primeiros atos de nossa gestão será o de obter a maior colaboração dos Batalhões de Engenharia e Construção do Exército Brasileiro, na reparação e construção de estradas. A seriedade e competência destes batalhões estão acima de qualquer suspeita, e esta contribuição será importantíssima no sentido de estabelecer os parâmetros técnicos de qualidade e de custos.

Senhoras e Senhores,

Algumas dúvidas surgiram, naturalmente, em meu espírito, quando soube que a minha posse seria neste recinto: foi necessário ou útil extinguir o velho e conhecido DNER e criar o DNIT? Não se tratou de uma mera troca de nomes? Por acaso, com isso, o órgão se livrou de suas dificuldades ou de suas falhas eventuais?

Estas minhas reflexões se associaram a outras. O DNER era um dos mais antigos órgãos brasileiros, vinculado inicialmente ao Ministério de Viação e Obras Publicas. No governo de Juscelino foi uma das repartições administrativas que mais se destacou na acelerada modernização do país, responsável pela abertura dos grandes eixos rodoviários entre o sul e o norte, e entre o leste e o oeste.

Seus servidores, com dedicação e entusiasmo, ajudaram o país a crescer. Se alguns dos seus dirigentes foram menos dedicados e, eventualmente, criticados pela gestão do órgão, os engenheiros e funcionários da administração não poderiam ter sido alcançados por uma decisão desta natureza.

É uma pergunta que me ocorre: tornando-se DNIT, o DNER ficou mais eficaz e mais ágil na resposta às demandas da sociedade brasileira?

Senhoras e senhores,

O desempenho do Ministério dos Transportes depende do esforço conjunto de todo o governo. As dificuldades orçamentárias se devem ao elevado volume da dívida pública, que passou de 30% a 60% do PIB, nos últimos quatro anos. Todos os setores produtivos da vida nacional, e não só a administração pública, se encontram atingidos pelo elevado custo financeiro. A política de juros altos, adotada em nome da estabilidade monetária, tem manietado os empreendimentos honrados, estimulando a sonegação fiscal, promovendo o desemprego e levando numerosos contingentes humanos à marginalidade.

Essa situação anômala tem sido claramente denunciada por muitos de nós. O Vice-Presidente José Alencar foi veemente, em sua última palestra no Rio de Janeiro, ao levantar os braços e identificar, na irracional taxa de juros, um assalto aos que trabalham e produzem neste País. Como disse o Vice-Presidente, nunca, em toda a História deste e de outros países, houve tamanha transferência de renda do setor produtivo para o setor financeiro. É impossível, a qualquer produtor que necessite tomar empréstimos para financiar sua atividade, pagar taxas de juros muitas vezes superior à margem de lucros que o seu negócio permita. Isso se torna ainda mais claro, quando a abertura das importações favorece os produtores estrangeiros, que trabalham com dinheiro barato. A taxa de juros paga pelos norte-americanos acompanha a fixada pelo governo dos Estados Unidos, que é de 1,25% ao ano.

Senhoras e senhores,

Em seu pronunciamento, o Ministro Palocci tocou, a meu ver, na questão fundamental da crise brasileira: a da desigualdade social fomentada pelo egoísmo e pela ostentação. Permito-me citar essa passagem forte de seu discurso:
"O fortalecimento da solidariedade social é o único remédio contra o individualismo desmesurado que, rapidamente, pode derivar para o exibicionismo e o egoísmo social. Este é o caldo de cultura da esperteza, responsável pela pequena e pela grande corrupção que infestam as relações de indivíduos e de empresas com os poderes públicos. Combater a corrupção significa enterrar de vez a concepção de que a lei vale para uns e não vale para outros, em nosso País".

É na completa adesão a esses princípios, que me emposso no cargo de Ministro dos Transportes do Brasil, com a certeza de que Deus me ajudará a corresponder à confiança do Presidente da República, às expectativas de meu partido e aos sentimentos do povo brasileiro.

Muito Obrigado

 

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