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04/01/2003
-
04h34
da Folha de S.Paulo
Qualquer pessoa colocada face ao simples dilema de comprar caríssimos aviões de caça ou investir no "combate à fome" dificilmente optaria por torrar dinheiro em canhões em vez de manteiga.
Mas a decisão do recém-instalado governo federal petista de adiar a compra de caças para a FAB (Força Aérea Brasileira) exala um nítido cheiro de populismo. Pois os fatos não são tão simples assim, nem é exatamente essa a escolha.
Praticamente toda compra de vulto de equipamento militar feita no mundo hoje é uma espécie de acordo de política industrial. É completamente diferente de ir a uma loja, apanhar a mercadoria na prateleira e pagar em dinheiro vivo.
O mercado está favorecendo os compradores, pois a concorrência internacional é fortíssima, e as indústrias estão desesperadas por conseguir encomendas que permitam manter uma escala de produção sem a qual a atividade se torna antieconômica.
A palavra chave é "off-set", termo que se usa para as compensações comerciais que o vendedor do equipamento militar concede ao país comprador.
Desde 1991 que a FAB tem a chamada Política de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica da Aeronáutica, embora só recentemente ela tenha começado a ser aplicada.
Modernização
O melhor exemplo ocorreu com o programa em curso de modernização dos caças F-5. A concorrência foi vencida pela empresa israelense Elbit, que se comprometeu a investir no país cerca de US$ 230 milhões, incluindo a produção aqui de componentes eletrônicos para o avião.
A FAB espera o mesmo do projeto F-X -um investimento no país pelo consórcio vencedor no mesmo valor da compra dos caças (em torno de US$ 700 milhões), além de transferência da tecnologia envolvida na integração dos sensores e armamentos do avião.
A Embraer e seus sócios franceses ainda são os favoritos para vencer a concorrência com o caça Mirage 2000. "Compre Brasil", é o recado que a empresa passa em palestras, pois os franceses se dispõem a montar o Mirage 2000 no Brasil (se as encomendas passarem dos 12 aviões previstos inicialmente) e a transferir pontos sensíveis de sua tecnologia.
Campanha
Durante a campanha eleitoral o agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia se declarado favorável a uma solução brasileira para a compra dos caças, assim como um dos nomes do PT mais versados em assuntos militares, o deputado federal José Genoino. A nova decisão é um banho de água fria na Embraer e na FAB.
A Força Aérea Brasileira está hoje com a maior parte de sua aviação de combate obsoleta, em um processo que vem de longa data e resultou não só da falta de verbas como também de erros gerenciais e desvio de atenção e recursos em outros aspectos do que ela chama de "poder aeroespacial", como a administração da aviação civil.
Veja também o especial Governo Lula
Análise: A FAB, a Embraer e o PT
RICARDO BONALUME NETOda Folha de S.Paulo
Qualquer pessoa colocada face ao simples dilema de comprar caríssimos aviões de caça ou investir no "combate à fome" dificilmente optaria por torrar dinheiro em canhões em vez de manteiga.
Mas a decisão do recém-instalado governo federal petista de adiar a compra de caças para a FAB (Força Aérea Brasileira) exala um nítido cheiro de populismo. Pois os fatos não são tão simples assim, nem é exatamente essa a escolha.
Praticamente toda compra de vulto de equipamento militar feita no mundo hoje é uma espécie de acordo de política industrial. É completamente diferente de ir a uma loja, apanhar a mercadoria na prateleira e pagar em dinheiro vivo.
O mercado está favorecendo os compradores, pois a concorrência internacional é fortíssima, e as indústrias estão desesperadas por conseguir encomendas que permitam manter uma escala de produção sem a qual a atividade se torna antieconômica.
A palavra chave é "off-set", termo que se usa para as compensações comerciais que o vendedor do equipamento militar concede ao país comprador.
Desde 1991 que a FAB tem a chamada Política de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica da Aeronáutica, embora só recentemente ela tenha começado a ser aplicada.
Modernização
O melhor exemplo ocorreu com o programa em curso de modernização dos caças F-5. A concorrência foi vencida pela empresa israelense Elbit, que se comprometeu a investir no país cerca de US$ 230 milhões, incluindo a produção aqui de componentes eletrônicos para o avião.
A FAB espera o mesmo do projeto F-X -um investimento no país pelo consórcio vencedor no mesmo valor da compra dos caças (em torno de US$ 700 milhões), além de transferência da tecnologia envolvida na integração dos sensores e armamentos do avião.
A Embraer e seus sócios franceses ainda são os favoritos para vencer a concorrência com o caça Mirage 2000. "Compre Brasil", é o recado que a empresa passa em palestras, pois os franceses se dispõem a montar o Mirage 2000 no Brasil (se as encomendas passarem dos 12 aviões previstos inicialmente) e a transferir pontos sensíveis de sua tecnologia.
Campanha
Durante a campanha eleitoral o agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia se declarado favorável a uma solução brasileira para a compra dos caças, assim como um dos nomes do PT mais versados em assuntos militares, o deputado federal José Genoino. A nova decisão é um banho de água fria na Embraer e na FAB.
A Força Aérea Brasileira está hoje com a maior parte de sua aviação de combate obsoleta, em um processo que vem de longa data e resultou não só da falta de verbas como também de erros gerenciais e desvio de atenção e recursos em outros aspectos do que ela chama de "poder aeroespacial", como a administração da aviação civil.
Veja também o especial Governo Lula
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