Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
19/01/2003 - 04h16

Lula chegará à Suíça em dia de protestos

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca em Davos, nos Alpes suíços, exatamente no mesmo sábado, 25, para o qual está programada a já habitual manifestação de protesto contra o encontro anual do Fórum Econômico Mundial.

Mas, desta vez, Lula estará do lado de dentro da barricada que protege governantes, acadêmicos e empresários que formam a clientela básica dos encontros anuais que o Fórum promove todo mês de janeiro faz 33 anos.

Será o primeiro governante a participar, no mesmo ano, do encontro na Suíça, tido como a reunião dos ricos, e do Fórum Social Mundial em Porto Alegre, criado como contraposição a Davos.

Antes de Lula, apenas um dirigente de organização internacional participou das duas reuniões: o chileno Juan Somavía, diretor-geral da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Somavía usou argumento muito parecido ao que a assessoria de Lula esgrime agora para rebater as críticas à sua presença em Davos: "É preciso levar a mensagem de Porto Alegre a Davos, para que o povo de Davos entenda que é preciso mudar e o povo de Porto Alegre entenda que é preciso sentar-se para discutir com os outros que mudanças podem ser feitas".

Paradoxo
Esse mesmo argumento foi usado por Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Internacional e veterano de Davos, para convencer Lula a comparecer ao encontro na Suíça: "O senhor é o único que pode fazer a ponte entre Porto Alegre e Davos", disse o ministro ao presidente.

Na perspectiva de quem vê de fora, essa ponte é definida como "genial iniciativa" pelo embaixador da Alemanha no Brasil, Uwe Kaestner. "Genial" porque, acha o embaixador, Davos inclui na sua agenda os temas sociais que são o forte da retórica do PT e de Lula.

De todo modo, o paradoxo de um homem com raízes fincadas em Porto Alegre comparecer a Davos aumenta quando se sabe que a representação brasileira na cidade suíça foi sempre esquálida.

Depõe, por exemplo, o empresário Roberto Teixeira da Costa, um dos executivos brasileiros de maior quilometragem em eventos internacionais:
"Percebe-se em Davos e em outros importantes foros internacionais a que tenho comparecido, que não somos muitos. Busco explicações e as encontro na nossa timidez, domínio modesto de línguas estrangeiras, complexo de inferioridade e baixa vocação internacional."

O governo Lula rompe o molde: além do presidente, a comitiva brasileira incluirá cinco ministros, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, o senador Aloizio Mercadante (SP), o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, o porta-voz André Singer e o assessor de imprensa Ricardo Kotscho.

De muito longe, a maior delegação que o governo brasileiro jamais mandou ao convescote suíço nesses 33 anos.

Quando foi a Davos, em 1998, o presidente Fernando Henrique Cardoso não levou um único ministro da área econômica.

"Carnegie Hall"
Lula usará a tribuna de Davos para dar a sua mensagem ao mundo, na avaliação obtida pela Folha.

Não será muito diferente do discurso que fez na posse, mas, conforme ouviu a Folha, "se você quiser ser ouvido pelo mundo, não basta tocar no bar da moda do bairro; é preciso estar no Carnegie Hall", alusão a uma das salas de espetáculos mais notórias do planeta, situada em Nova York.

Davos é um pouco o Carnegie Hall do mundo empresarial, governamental e acadêmico, pelo menos nos seis dias de janeiro em que se desenvolve o Fórum.

Lula chega sábado, o dia do protesto, e à noite participa de um jantar com representantes ibero-americanos, entre os quais os presidentes Álvaro Uribe (Colômbia), Gonzalo Sánchez de Lozada (Bolívia) e Vicente Fox (México).

Língua predominante
No domingo, será o dia do discurso formal, embora o formato preveja mais uma espécie de sabatina conduzida em espanhol por José María Figueres, ex-presidente da Costa Rica (social-democrata) e hoje diretor do Fórum.

Já é uma cortesia ao presidente brasileiro, porque a língua predominante em Davos é, de longe, o inglês. Será, claro, uma sabatina amigável. Um dos temas que Figueres levantará será o Fome Zero, o programa social que é a menina dos olhos do brasileiro.

Mas a mensagem básica de Lula, de acordo com a programação do encontro de Davos e as informações de seus assessores, será sobre "governança global".

Lula falará sobre a necessidade de mudanças na ordem mundial, "mas sem um viés ideológico", antecipa Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência. Enfocará muito mais os interesses concretos dos países.

Não se trata, sempre segundo Dulci, de fazer uma denúncia dos formidáveis desequilíbrios da globalização, mas de "afirmar uma perspectiva de um país que tem peso para ser ouvido internacionalmente".

Conceitos à parte, Lula repetirá o apelo que fez nos Estados Unidos, ainda antes de assumir, pela retomada dos investimentos no Brasil. O público-alvo não poderia ser melhor: entre 800 e mil executivos das principais multinacionais, incluindo os principais bancos do planeta.

Veja também o especial Governo Lula

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade