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19/01/2003 - 04h30

Fórum Social Mundial "embaralha" governo e sociedade

RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo

A chegada do PT à Presidência embaça a fronteira, sempre tão prezada pelos organizadores do Fórum Social Mundial, que começa quinta-feira, em Porto Alegre, entre governo e sociedade civil no encontro.

Membros de organizações que estarão na capital gaúcha entre os dias 23 e 28 apontam uma contradição no fato de o idealizador do fórum e membro do comitê organizador brasileiro, o empresário Oded Grajew, ser ao mesmo tempo integrante do governo. Grajew foi nomeado, no último dia 8, assessor especial da Presidência.

Na Carta de Princípios, documento que contém as diretrizes fundamentais do fórum, o encontro é definido como um espaço "não-governamental e não-partidário" que "reúne e articula somente entidades e movimentos da sociedade civil de todos os países do mundo".

Grajew diz não ver contradição na sua dupla função nesse momento, resultante do convite para que participasse do governo. Mas afirma que existe a possibilidade de, no futuro, passar a ser "membro de honra" do comitê brasileiro. "Isso é uma coisa que ficamos de ver depois. Minha ligação com o fórum é algo que sempre existirá, por ter sido seu criador."

A participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva também é questionada. O sociólogo Pablo Bergel, vinculado à CTA (Central dos Trabalhadores Argentinos) e integrante do comitê argentino do Fórum Social, afirma que um convite oficial a um chefe de Estado para participar do encontro vai contra a Carta de Princípios.

Segundo Bergel, para que Lula participasse legitimamente do fórum, ele deveria ser convidado por alguma organização ou movimento social para tomar parte em uma das oficinas organizadas independentemente da coordenação do encontro.

Bergel afirma que "a maior utilidade oficialista a que o fórum vai se prestar" será a de permitir que Lula, ao seguir para o Fórum Econômico Mundial, após discursar em Porto Alegre, "exproprie o capital social" do encontro, usando-o a seu favor na reunião de Davos, na Suíça.

Sobre a condição de Grajew, o sociólogo argentino diz que, "se fosse membro da organização" pediria "que [o assessor da Presidência" se afastasse, porque ele tem uma dupla representação". "Ou é governo, ou é movimento social", afirma.

O sociólogo qualifica a ida de Lula aos dois fóruns como "uma manobra da mais velha política populista". Manobra essa, diz, "que pode acabar com a credibilidade futura" do encontro.

Integrantes de organizações ligadas ao fórum propuseram que o presidente de Cuba, Fidel Castro, participasse do encontro em 2002. Seu nome teria sido negado por integrantes do comitê brasileiro, sob o argumento de que se tratava de um chefe de Estado.

Segundo Grajew, Lula irá a Porto Alegre apenas na condição de anfitrião do encontro.

Mas a identificação entre o fórum e o governo eleito é ressaltada por organizadores do evento. Sérgio Haddad, também do comitê brasileiro, disse à Folha que o presidente é uma das principais causas da expectativa dos organizadores de que o número de participantes do fórum este ano dobre -de 50 mil em 2002 para 100 mil em 2003.

"[A eleição de Lula] faz parte um pouco desse movimento contra o atual modelo de globalização, que o fórum encarna", disse Haddad há cerca de dez dias, quando foi anunciada a ida do presidente e de ministros de seu governo a Porto Alegre.

Fernando Henrique Cardoso, que também seria anfitrião nos anos anteriores, não foi convidado por ter feito críticas ao Fórum Social Mundial, diz Grajew.

O empresário Antônio Martins, também integrante da organização, rechaça, no entanto, qualquer possibilidade de que o Fórum Social possa assumir um caráter "governista".

"De jeito nenhum", diz Martins. "Seria estranho se, na medida em que conseguem legitimidade eleitoral, eles não fossem ao fórum." Também irão a Porto Alegre, para participar de debates e eventos, José Genoino, presidente do PT, Eugênio Bucci, presidente da Radiobrás, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, e Tarso Genro, secretário de Desenvolvimento Econômico e Social.

"Lula e esses ministros se identificam profundamente com o fórum", argumenta Martins.

Veja também o especial Governo Lula
 

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