Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
20/01/2003 - 05h23

Dirceu interfere no Legislativo e inaugura rolo compressor petista

RAYMUNDO COSTA
RAQUEL ULHÔA

da Folha de S.Paulo, em Brasília

Na última terça-feira, o ministro José Dirceu (Casa Civil), percorreu a pequena distância que separa o Palácio do Planalto do Congresso e foi ao gabinete do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). O natural seria ACM ir ao Planalto. Dirceu quis evitar um constrangimento para o governo.

Aos poucos, o chefe da Casa Civil desenha um novo estilo na articulação política do governo com o Congresso. Um estilo que até mesmo alguns aliados consideram de alto risco. A relação com ACM, expoente da oligarquia nordestina, seria um exemplo.

As digitais de Dirceu ficaram nitidamente impressas em pelo menos três operações no Congresso: o "enquadramento" da senadora Heloísa Helena (PT-AL), que chorou ao ser obrigada a engolir o nome de Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central, a desastrada articulação para cooptar o PMDB em troca de ministérios e a operação para eleger José Sarney (PMDB) presidente do Senado. As três revelaram um mesmo estilo, do rolo compressor.

Dirceu começou as conversas sobre ministério com a cúpula do PMDB antes mesmo da posse do novo governo.

Chegou com dois nomes que, tinha certeza, os peemedebistas recusariam. As conversas ficaram em banho-maria. Mais adiante, fechou com o partido os ministérios das Minas e Energia e da Integração Nacional.

Lula tinha -e tem- outros planos. Convencido de que nunca terá o PMDB inteiro, o presidente joga na tomada da direção pelo grupo dissidente do partido. Dirceu teve de voltar atrás e ver arranhado o prestígio de superministro do novo governo.

Para a oposição, especialmente o PMDB, foi um erro. Argumento: cumprir o acertado é pedra angular das negociações no Congresso. Não é à toa que os dirigentes do partido dizem que o ministro "não é confiável".

Dirceu defende-se dizendo que informou aos dirigentes peemedebistas que iria levar a proposta acertada a Lula. O presidente é que daria a palavra final.

Por essa época, o governo já emitia sinais de que não cumpriria outro acordo feito por Dirceu com o PMDB, pelo qual os dois partidos combinaram apoiar os candidatos das bancadas majoritárias nas eleições para as presidências da Câmara (PT) e do Senado (PMDB).

O que Dirceu não disse para a cúpula do PMDB é que o Planalto apoiaria o candidato indicado pela bancada do partido no Senado desde que o nome escolhido fosse o de José Sarney.

Enquanto pôde, o ministro disse que o governo não interferiria. Mas quando Calheiros, o candidato vetado por ACM, convocou a bancada, não hesitou em passar o rolo compressor.

Riscos A avaliação é recorrente nos partidos da oposição, mas encontra guarida também na situação: ao chamar alguns senadores ao Palácio do Planalto e telefonar para outros tantos, pressionando em favor de Sarney, o chefe da Casa Civil expôs o governo. Se perdesse, seria a primeira derrota de Lula no Congresso.

O risco, segundo aliados do governo, é o de que Dirceu esteja criando problemas para o futuro.

Por enquanto, com o governo fortalecido por altos índices de popularidade, ele não teria muito com o que se preocupar. Mas, ao primeiro sinal de dificuldades do novo governo, as vítimas do rolo compressor estarão à espreita.

E podem se articular num grupo de oposição estruturado e perigoso, por causa da escassa maioria do governo.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página