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23/01/2003 - 08h11

Lula leva proposta de pacto social a Davos

CLÓVIS ROSSI
da Folha de S.Paulo, em Davos

O Centro de Congressos de Davos, habitual quartel-general dos encontros do Fórum Econômico Mundial, já estava sitiado ontem pela polícia e pelo Exército suíços para proteger os cerca de 2.000 participantes de 99 países dos igualmente habituais protestos contra o encontro, promovidos pelos adversários do que chamam de "globalização corporativa".

As cercas de arame bloqueiam o acesso duas quadras antes de cada entrada do QG do Fórum, na Promenade, uma das duas únicas avenidas desta cidadezinha de 13 mil habitantes encravada nos Alpes suíços, banhada ontem por um sol inusualmente forte, a amenizar os 5C de temperatura.

No ano passado, ao chegar a Porto Alegre para participar do Fórum Social Mundial, o contraponto a Davos, Luiz Inácio Lula da Silva comentou: "Aquela quantidade de cerca de arame farpado que a imprensa exibiu mostrava que o que aqueles homens estavam pensando não seria bom para uma grande parte da humanidade, sobretudo os pobres".

Desta vez, porém, o presidente Lula estará do lado de dentro da cerca de arame farpado, pensando junto com "aqueles homens".

Lula, pelo menos no script desenhado por sua assessoria, imagina fazer uma ponte entre "aqueles homens" de Davos e o chamado "povo de Porto Alegre", ao qual também falará, hoje, dois dias antes de desembarcar em Davos.

Mais que uma ponte, ao menos a julgar pelo que a Folha ouviu no Palácio do Planalto, a presença de Lula em Davos é mera ampliação para o mundo de sua pregação interna em favor de um "novo contrato social" entre o capital e o trabalho. Em tese, faz sentido, se se considerar que o Fórum de Davos é considerado o convescote do capital, pelo enorme número de executivos que a ele comparecem, e que Porto Alegre seria, em tese, o encontro do trabalho.

Pode parecer uma pretensão exagerada, mas há quem de fato veja no novo presidente brasileiro a possibilidade de unir a ortodoxia financeira ao avanço social, com repercussão pelo menos na América Latina.

"Se o governo Lula for capaz de produzir estabilidade financeira, boa governança e reforma social, pode oferecer um novo modelo social-democrata que seria relevante para o resto da América Latina", escreve Richard Lapper, editor de América Latina do jornal britânico "Financial Times" para o mensário também britânico "Prospect", número de janeiro.
Lapper é um dos mais lúcidos analistas de um jornal que se pauta pelo liberalismo.

Montanha mágica?
De certa forma, o terreno já está semeado há algum tempo para algum tipo de diálogo entre os mundos supostamente representados por Davos e por Porto Alegre. Primeiro, o fórum de Davos abriu-se para as lideranças sindicais há oito anos. Depois, mais recentemente, para as ONGs (Organizações Não-Governamentais), que formam a clientela principal do Fórum de Porto Alegre.

Depois que se criou o fórum da capital gaúcha, Klaus Schwab, presidente do Fórum Econômico Mundial (a ONG que promove os encontros de Davos), tentou convencer Oded Grajew, idealizador do Fórum Social, a participar dos encontros na Suíça.

Este ano, 71 ONGs estarão representadas em Davos, tanto no encontro oficial como num evento paralelo chamado "Fórum Aberto Davos 2003".

É sintomático que, no mesmo domingo em que Lula falará no encontro oficial, o "Fórum Aberto" estará discutindo "A globalização pode ser ética?".

Entre os participantes, Christoph Stuckelberger, secretário-geral de "Pão para Todos", uma ONG suíça que, pelo nome, bem poderia ser a idealizadora de um programa Fome Zero planetário.

Lula dialogará com José María Figueres, ex-presidente da Costa Rica e diretor do Fórum Econômico, exatamente sobre a governança global, entre 14h30 e 15h (11h30 e 12h em Brasília).

O presidente brasileiro falará sobre a necessidade de mudanças na ordem mundial, tema aliás frequente de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Mas não será para fazer, em Davos, a denúncia da globalização que tem sido frequente -e contundente- no Fórum de Porto Alegre, ao menos pelas informações de Luiz Dulci, o secretário-geral da Presidência e colaborador habitual na redação de seus discursos.

Lula aproveitará o público, formado essencialmente por homens de negócio, entre eles grandes banqueiros, para repetir o apelo feito nos Estados Unidos a favor da retomada do fluxo de financiamento para o Brasil.

Embora a situação financeira tenha melhorado algo desde a posse, com queda do dólar (ainda que revertida parcialmente nos últimos dias) e diminuição do risco-Brasil, a avaliação do governo federal é a de que a melhora ainda é "artificial".

O apelo de Lula e sua intenção de ser a ponte entre Porto Alegre e Davos terão um advogado a que o público do encontro suíço está habituado: Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e assíduo e ativo participante dos encontros de Davos, como presidente da Sadia.

Furlan chega hoje, para dizer a seus antigos pares do mundo dos negócios que está muito feliz no governo Lula. "Sempre sonhei com um governo brasileiro que desse prioridade ao comércio externo, porque gera emprego e desenvolvimento", depõe Furlan.

Veja também o especial Governo Lula

 

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