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25/01/2003 - 22h09

Em Davos, Lula defende "modelo próprio" para o país

CLÓVIS ROSSI
da Folha de S. Paulo, enviado especial a Davos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu em Davos um modelo brasileiro de desenvolvimento, diferente do europeu, norte-americano, japonês ou chinês.

"Um dos grandes defeitos do Brasil nos últimos 500 anos é ter ficado com o pensamento e os olhos voltados para a Europa, (com o que) nos esquecemos de pensar em nós mesmos, nos esquecemos de defender um verdadeiro modelo de desenvolvimento que levasse em conta nossa realidade", afirmou o presidente.

Voltou ao tema ao finalizar a sua fala, para dizer que, por mais respeito que tenha pelos europeus, norte-americanos, japoneses e chineses, "quem tem que pensar no Brasil e nos brasileiros sou eu e os brasileiros".

O mais importante banqueiro presente ao jantar, William Rhodes (Citigroup), aplaudiu o discurso, especialmente o trecho em que Lula se desvincula do modelo chinês. O discurso foi feito no "Jantar Iberoamericano", no superlotado salão Aspen do Centro de Congressos de Davos, QG habitual dos encontros anuais do Fórum Econômico Social.

Cansado da viagem de 24 horas de Porto Alegre a Davos, via São Paulo, Paris e Zurique, Lula ainda teve que enfrentar o medo para vencer de helicóptero o trecho final até Davos (180 quilômetros), porque a estrada estava semi-bloqueada pelo esquema de segurança contra manifestações. "De helicóptero até gosto, mas de helicóptero no escuro, dá medo", comentou o presidente, que chegou por volta das 18h (15h em Brasília).

Antes de Lula, falou o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González. Depois, os presidentes Álvaro Uribe (Colômbia), Eduardo Duhalde (Argentina), Alejandro Toledo (Peru) e Vicente Fox (México).

No intervalo, Lula derreteu-se em elogios à deliciosa costela da Patagônia, que Duhalde encomendara para o jantar.

O discurso do presidente foi mais Porto Alegre que Davos. No melhor estilo do velho PT, atacou as elites brasileiras "ou parte delas" pela "perversidade" de não ter redistribuído renda durante o período, até 1980, em que o crescimento econômico foi o maior entre todos os países do mundo.

Mas, de todo modo, estendeu a ponte que havia anunciado entre Porto Alegre e Davos, ao defender a necessidade urgente de "um debate aberto e franco" entre os participantes dos dois fóruns.

Além disso, convocou os ricos para uma guerra contra a fome no mundo, em frase que foi também crítica à perspectiva de uma guerra contra o Iraque.

"Se existe uma razão para haver uma guerra, não é uma guerra entre povos, mas a guerra dos ricos para acabar com a fome no mundo", afirmou. O jantar foi todo ele conduzido em espanhol, menos no caso de Lula, que falou em português, com versão para o inglês feita pelo seu tradutor habitual, Sérgio Ferreira.

No seu discurso, Felipe González alentou Lula, primeiro ao dizer que "o mundo estava com os olhos voltados para o Brasil". Depois, ao lembrar que, há exatos 20 anos, chegara ao governo, "com a mesma sensação que Lula tem agora". E afirmou que conseguiu combinar "liberalização de verdade com coesão social".

Já Lula afirmou que dissera a Antonio Palocci, ministro da Fazenda, que podia até ser "um pouco conservador", na área econômica, porque "onde o governo vai radicalizar é na atenção social".

Palocci tinha agendado sua ida a Davos na quinta-feira. A pedido de Lula, cancelou todos os compromissos para estar no vôo presidencial. "Eu fui a Porto Alegre na quinta-feira e iria embarcar à noite para Davos. Mas o presidente me ligou e perguntou: 'Por que você não vai comigo?'. Não precisou dizer mais nada", relatou no vôo 8096, da TAM, de São Paulo para Paris. Por isso, faltou a um café da manhã promovido ontem em Davos pela Goldman Sachs, um dos principais bancos de investimento do planeta.

Colaborou FERNANDO RODRIGUES, enviado especial a Paris
 

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