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29/01/2003 - 06h06

"No começo é bom sonhar", diz FHC sobre Lula

FERNANDO RODRIGUES
da Folha de S.Paulo, em Paris

Com alguma ironia, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) disse ontem que "no começo é bom sonhar" ao se referir à proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de criação de um fundo internacional para combater a fome.

"Já devem existir vários programas semelhantes na FAO [Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação]. Como idéia, o fundo internacional é bom. Mas tem de ver se alguém vai fazer algum aporte de capital. A reciprocidade é muito difícil", disse FHC ontem em Paris, cidade que escolheu para permanecer descansando até março.

Apesar da ironia, FHC não quis dar declarações que pudessem causar constrangimento a Lula. "Ele [Lula] quer chamar a atenção para esse assunto, de combate à fome. Mesmo que dificilmente tenha resultado agora, o presidente do Brasil tem mesmo que ter esse papel", afirmou FHC pelo telefone do apartamento que ocupa na avenida Foch, localizada num dos bairros mais elegantes de Paris.

"Eu mesmo fiz muito isso, chamando a atenção para esses temas, para a assimetria causada pela globalização. Ocorre que é muito difícil, mesmo em casos em que nós tentamos obter remédios para os pacientes de Aids. Não dão. A guerra de patentes é enorme", declarou o ex-presidente, que ontem de manhã foi procurado por Lula por telefone.

A conversa entre o petista e seu antecessor tucano durou cerca de dez minutos, segundo ambos. "Ele [Lula] foi muito gentil em me telefonar para saber como eu estava, perguntando também da Ruth [Cardoso, mulher de FHC]", relatou o tucano sobre o telefonema -ocorrido logo após Lula chegar a Paris, por volta de 10h30 (7h30 em Brasília), vindo de Berlim.

Na conversa, um dos temas foi a situação no Iraque. "O Lula acha que ainda pode não haver guerra. Eu acho que será inevitável", disse FHC. Para ele, os EUA já avançaram demais e não têm como recuar. Ele acredita ser necessário "cautela" em momentos como esse. O Brasil tem, acredita, uma posição correta ao defender que as decisões sejam tomadas pelo Conselho de Segurança da ONU.

Na opinião de FHC, Lula tem dado "boas declarações" sobre o eventual conflito no Iraque. O petista sempre intercala a posição brasileira com uma ressalva, afirmando que seu governo é solidário "com o sofrimento do povo americano" pelos atentados de 11 de setembro de 2001.

Depois que Lula falou com FHC, passou o telefone para o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. A conversa foi quase protocolar. Palocci elogiou os assessores econômicos que herdou do governo tucano. Disse que todos têm sido cooperativos com a nova administração petista.

Bem-humorado, FHC tem comentado em seus encontros em Paris que Palocci é uma das figuras mais equilibradas do governo Lula. Chega a brincar dizendo que o ministro de Lula se parece muito com o ex-titular da Fazenda Pedro Malan -que está na Índia, mas já avisou FHC que passará um mês em Paris enquanto ele estiver na cidade.

Veja também o especial Governo Lula
 

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