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03/02/2003 - 06h40

Desnutrição não depende só da renda

JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a população mais pobre de dez regiões metropolitanas pode estar sofrendo os efeitos da insuficiência de alimentos, mas nem sempre o consumo de calorias está diretamente ligado à renda familiar.

Um dos co-autores da pesquisa, Luís Carlos Garcia de Magalhães, exemplifica com o caso de Belém. Uma família com renda de até dois salários mínimos, disse ele à Folha, compra o equivalente a 1.807 calorias diárias per capita. Em São Paulo, uma família com a mesma renda compra bem menos: 1.132 calorias. O consumo recomendado é de 2.200 calorias.

Apesar da diferença, inexiste subnutrição crônica entre os mais pobres paulistanos, em contraste com a relativa opulência alimentar do pobre de Belém. O Ipea, ligado ao Ministério do Planejamento, publicou o trabalho em junho de 2002. Trata-se do "Texto para Discussão" nº 884, um dos documentos da rotina de produção do instituto. Embora não fosse seu objetivo, ele indicou que uma parcela desconhecida dos mais pobres consome alimentos que não precisou comprar.

O tema ganha agora temperatura porque, sem outro critério, é na baixa renda que se baseiam as estimativas sobre o tamanho da clientela a ser atingida pelo Fome Zero, prioridade do governo.

Já que "não há indicações de que as populações com risco nutricional estejam vivendo uma situação de fome endêmica", diz o estudo, "uma explicação plausível, que deve ser melhor investigada, é a existência de redes de proteção sociais privadas, comunitárias e públicas que estão assegurando o acesso à alimentação a um importante contingente dessa população de risco".

Uma família de baixíssima renda corre o risco de passar fome. Mas o risco diminui se parte da nutrição tiver como origem alimentos que não foram obtidos em troca de dinheiro. É o caso da merenda escolar, distribuída no último semestre a 37 milhões de crianças, ou então das refeições do PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador), que atingem 8 milhões de assalariados.

Outra indicação indireta é dada pelo estudo "A Iniciativa Privada e o Espírito Público", publicado pelo Ipea (2000), em que a socióloga Anna Peliano pesquisou as redes sociais mantidas por empresas nos Estados do Sudeste. De um grupo de 300 mil empresas, 40% atendem à comunidade por meio de ajuda alimentar.

Não há pesquisa recente sobre os nutrientes que o cidadão consome sem comprar. Os pesquisadores do Ipea dizem ter ficado surpresos com a quantidade relativamente baixa de calorias compradas pelos pesquisados: "Existem redes informais e formais, programa de merenda escolar, prefeituras. Se não essa gente não teria como viver", diz Magalhães.
 

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