Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
08/04/2003 - 08h37

Motta era ingênuo perto de Dirceu, diz Mendonça

da Folha de S.Paulo

O debate entre o ministro José Dirceu (Casa Civil) e o ex-ministro do governo FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros materializou ontem a troca de papéis entre PT e PSDB e transformou o economista no "estraga-prazeres" da comemoração dos cem primeiros dias de Lula no poder.

Os dois reeditaram uma discussão que marcou o início de mandato do ex-presidente tucano (1995-2002), só que com sinais trocados. Mendonça de Barros disse que os petistas, capitaneados por Dirceu, têm um projeto ambicioso de permanecer um longo período no poder. Ainda no primeiro mandato de FHC, o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, morto em 1998, afirmou que os tucanos poderiam ficar 20 anos no comando do país.

Mendonça de Barros disse ainda que Motta, que ganhou fama de ter sido o "trator político" dos tucanos, era um "ingênuo" se comparado a Dirceu. No governo atual, o ministro da Casa Civil ocupa papel semelhante.

"[O PT] é o partido cujos objetivos são: primeiro, tomar o poder; segundo, não sair mais do poder. Nesse aspecto, acompanho muito o ministro da Casa Civil, e, até por ter sido durante muitos anos amigo de Sérgio Motta, um exercício que procuro fazer é ver a semelhança de comportamento dos dois. Hoje estou convencido de que Sérgio Motta era um ingênuo do ponto de vista político, era uma pessoa que tinha aspirações políticas modestíssimas", disse.

O ex-ministro, que também presidiu o BNDES na gestão FHC, afirmou ter dúvidas "éticas" quanto à mudança de posição do PT e recomendou a Dirceu cautela nos momentos de euforia, após dizer que o atual governo copia a política econômica do antecessor.

"O governo do PT trouxe na área econômica um software importado do governo anterior. Só não podemos esquecer que foi esse software que levou à crise do segundo mandato de FHC."

Em seguida, Mendonça alfinetou Marcos Lisboa, secretário de política econômica da Fazenda, que também tomava assento na bancada de debatedores.

Após dizer que o grande desafio do governo é vencer a euforia de curto prazo, ele disse que Lisboa, um "economista novo", poderia demorar dez ou 15 anos para descobrir isso. E, em tom carregado de ironia, "alertou" Dirceu: "Na história brasileira, esse tipo de pessoa, economista, brilhante, com sotaque carioca, nessa idade, costuma causar confusão", em alusão a Gustavo Franco, que comandou o BC no governo FHC.

Lisboa esboçou um sorriso, mas logo fechou o semblante. Quando retomou a palavra, o secretário do ministério fez só uma leve referência ao governo anterior ao dizer que as soluções agora não seriam buscadas nas idéias mirabolantes de "três ou quatro gênios".

O ministro José Dirceu, por sua vez, respondeu a Mendonça de Barros. "Não aceito dizerem que nós tenhamos projeto para ficar 20 ou 30 anos no poder, nós temos um projeto democrático. Já demos prova de que podemos sair do governo e ir para a oposição com humildade. Prova disso foram as derrotas do PT."

Os dois se desafiaram para um debate na área das telecomunicações. O Grupo Abril, organizador do fórum de ontem, prometeu que o encontro se dará em maio.

"O ministro foi muito cuidadoso ao tratar da questão das telecomunicações aqui em respeito à minha pessoa. Infelizmente, não foi esse o tratamento que eu e o Sérgio Motta tivemos no passado", disse Mendonça.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página