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11/04/2003
-
06h47
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Em um recado a sindicalistas, sobretudo representantes de servidores públicos que se opõem às mudanças na Previdência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou ontem para o "conservadorismo" da esquerda, que equiparou ao comportamento de setores da direita no Brasil.
"Normalmente, do ponto de vista ideológico, a gente sempre diz que a direita é conservadora. Mas, do ponto de vista das reformas, a esquerda também tem comportamentos muito conservadores", disse o presidente, na abertura da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social sobre a reforma previdenciária, ontem, no Planalto.
Para reforçar a necessidade de mexer no sistema, o presidente relatou ter recebido uma lista com o nome de 518 beneficiários de "superaposentadorias" -a mais alta chegando a R$ 53 mil, de um servidor de Santos (SP) que não teve o nome revelado. Elas significam R$ 5,18 milhões em gastos para o governo. O presidente qualificou as altas aposentadorias do serviço público como "coisas indescritíveis". Lula condenou o "medo do novo", citando ainda as resistências entre sindicalistas à mudança na legislação sindical.
"As pessoas têm medo da mudança, do novo. Nasci dizendo que era preciso mudar a estrutura sindical porque ela era a cópia da "Carta di Lavoro", de Mussolini [líder fascista italiano]. Mas tem gente que acha que tem que continuar assim", disse o presidente.
Muitas das mudanças propostas pelo governo para a Previdência, como instituir teto único e criar fundos complementares de aposentadoria, têm forte resistência de sindicatos da CUT (Central Única dos Trabalhadores), historicamente ligada ao PT. Deputados da chamada ala radical petista também se mostram hostis.
Apesar da crítica, o presidente se disse "muito à vontade" para negociar com os servidores, lembrando que são parte de sua base social. "São pessoas que eu tenho certeza que votaram em mim, grande parte", afirmou.
Ao dizer que poderia postergar a reforma, uma vez que a eventual "quebra" da Previdência não ocorreria no curto prazo, Lula acabou cometendo uma gafe que soou como alfinetada contra o presidente da CUT, João Felício, que estava na platéia.
"Eu poderia empurrar isso com a barriga, não é João Felício? Para que ficar arrumando pontos de atrito com quem me apoiou?". Vários dos conselheiros presentes riram discretamente.
Lula reafirmou que deve enviar as reformas ao Congresso na semana que vem e pediu a aprovação no máximo até setembro.
Mesmo dizendo que não iria "se meter" no trabalho do Congresso, que tem "ritmo próprio", o presidente sutilmente convidou os conselheiros a pressionar deputados e senadores a aprovarem os projetos de interesse do governo.
"Não farei nenhuma interferência. Mas a sociedade civil organizada pode conversar com deputados, senadores, pode debater. Esse debate pode continuar lá [no Parlamento]", disse Lula, a uma platéia de cerca de 80 integrantes do CDES. Para ele, a aprovação das reformas faria o Brasil avançar "dez anos em poucos meses".
Esquerda é conservadora e tem medo do novo, diz Lula
FÁBIO ZANINIda Folha de S.Paulo, em Brasília
Em um recado a sindicalistas, sobretudo representantes de servidores públicos que se opõem às mudanças na Previdência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou ontem para o "conservadorismo" da esquerda, que equiparou ao comportamento de setores da direita no Brasil.
"Normalmente, do ponto de vista ideológico, a gente sempre diz que a direita é conservadora. Mas, do ponto de vista das reformas, a esquerda também tem comportamentos muito conservadores", disse o presidente, na abertura da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social sobre a reforma previdenciária, ontem, no Planalto.
Para reforçar a necessidade de mexer no sistema, o presidente relatou ter recebido uma lista com o nome de 518 beneficiários de "superaposentadorias" -a mais alta chegando a R$ 53 mil, de um servidor de Santos (SP) que não teve o nome revelado. Elas significam R$ 5,18 milhões em gastos para o governo. O presidente qualificou as altas aposentadorias do serviço público como "coisas indescritíveis". Lula condenou o "medo do novo", citando ainda as resistências entre sindicalistas à mudança na legislação sindical.
"As pessoas têm medo da mudança, do novo. Nasci dizendo que era preciso mudar a estrutura sindical porque ela era a cópia da "Carta di Lavoro", de Mussolini [líder fascista italiano]. Mas tem gente que acha que tem que continuar assim", disse o presidente.
Muitas das mudanças propostas pelo governo para a Previdência, como instituir teto único e criar fundos complementares de aposentadoria, têm forte resistência de sindicatos da CUT (Central Única dos Trabalhadores), historicamente ligada ao PT. Deputados da chamada ala radical petista também se mostram hostis.
Apesar da crítica, o presidente se disse "muito à vontade" para negociar com os servidores, lembrando que são parte de sua base social. "São pessoas que eu tenho certeza que votaram em mim, grande parte", afirmou.
Ao dizer que poderia postergar a reforma, uma vez que a eventual "quebra" da Previdência não ocorreria no curto prazo, Lula acabou cometendo uma gafe que soou como alfinetada contra o presidente da CUT, João Felício, que estava na platéia.
"Eu poderia empurrar isso com a barriga, não é João Felício? Para que ficar arrumando pontos de atrito com quem me apoiou?". Vários dos conselheiros presentes riram discretamente.
Lula reafirmou que deve enviar as reformas ao Congresso na semana que vem e pediu a aprovação no máximo até setembro.
Mesmo dizendo que não iria "se meter" no trabalho do Congresso, que tem "ritmo próprio", o presidente sutilmente convidou os conselheiros a pressionar deputados e senadores a aprovarem os projetos de interesse do governo.
"Não farei nenhuma interferência. Mas a sociedade civil organizada pode conversar com deputados, senadores, pode debater. Esse debate pode continuar lá [no Parlamento]", disse Lula, a uma platéia de cerca de 80 integrantes do CDES. Para ele, a aprovação das reformas faria o Brasil avançar "dez anos em poucos meses".
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