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13/04/2003 - 06h08

85% dizem sentir orgulho de ser brasileiros

CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

Entra ano, sai ano, e o brasileiro segue fazendo coro com o título de um livro lançado há mais de um século: "Por que me ufano de meu país", de Afonso Celso.

Pesquisa realizada pelo Datafolha no início do mês aponta que 85% dos entrevistados sentem orgulho de ser brasileiro, que 61% acham um país ótimo ou bom para viver e que o Brasil é "muito importante" no cenário mundial, opinião de 72% dos consultados.

Com margem de erro de dois pontos percentuais, o levantamento reforça as linhas mestras de pesquisas equivalentes feitas nos últimos três anos. E há quem sustente que os resultados seriam os mesmos há 500 anos.

José Murilo de Carvalho é um deles. Professor titular de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pensador da brasilidade de longa data, o autor usa o termo "razão edênica" para explicar o orgulho exacerbado que acompanha o povo brasileiro. "Sempre tivemos a idéia de que vivemos em um Éden. Nossos primeiros cronistas já falavam em paraíso terrestre", diz.

Em uma pesquisa coordenada por ele em 1997, ouviu como resposta à pergunta "por que você se orgulha do Brasil" a frase "por ser um país no qual se plantando tudo dá". "É uma das idéias dos tempos de Pero Vaz de Caminha que sobrevivem até hoje."

Mas no país "abençoado por Deus e bonito por natureza" as opiniões não seguem sempre o paraíso absoluto. Se a maioria inconteste acha que o Brasil é um país ótimo ou bom para viver o quadro se afunila um pouco quando dividido por idades.

Os jovens entre 16 e 24 anos são os menos "otimistas". Metade deles responde de modo positivo -coeficiente que salta para os 71% entre os acima de 60 anos.

"É muito sintomático que os mais novos se sintam menos confortáveis com o país. É neles que incide mais forte o aumento da violência e o desemprego", opina Eduardo Giannetti.

Autor do volume ensaístico "Felicidade" (Companhia das Letras), o professor de economia das Faculdades Ibmec, de São Paulo, afirma que ainda que com as adversidades o jovem, e o brasileiro em geral, sempre se declara feliz. "O quadro só muda quando perguntam se o sujeito acha que os outros brasileiros são felizes. Aí ele diz que não."

Felizes mesmo, segundo o Datafolha, são duas categorias específicas: os que ganham acima de dez salários mínimos e os empresários. No levantamento, o primeiro grupo tem 66% de defensores de que o Brasil é um ótimo país para viver (contra 60% dos que arrecadam abaixo de 5 salários).

Na clivagem ocupação, o empresariado lidera o ranking otimista com largos 80%, deixando para o último posto os estudantes, com 47% de aprovação ao Brasil.

Do ponto de vista político, também existem disparidades. Simpatizantes dos partidos da base governista, o PT e o PL, são os que sustentam a menor taxa de ótimo e bom (57% e 52%), ficando o PPB no outro extremo: 73%.

O relativo "pessimismo" dos partidários de Lula contrasta com outra divisão dos entrevistados. É entre os que avaliam o presidente como ótimo ou bom que estão as taxas mais otimistas sobre o país (74%); dos críticos do lulismo, cai para 47% a aprovação ao Brasil.

"A avaliação mais baixa dos petistas sinaliza o desgosto com a herança maldita que receberam do outro governo. O otimismo dos que avaliam positivamente Lula sinaliza a esperança com o que virá", interpreta Emir Sader, professor da USP e da Uerj.

O sociólogo, que declarou recentemente à Folha que "a luta entre a esperança e o medo continua dentro do governo Lula" (parafraseando o "a esperança venceu o medo" lulista), defende que o descontentamento de alguns intelectuais afinados com o PT não tem eco estatístico no eleitorado geral do presidente.

Mais do que em esperança, ou medo, o professor de filosofia da USP Renato Janine Ribeiro prefere falar em moral, ética e fé.
O autor de "Sociedade Contra o Social" (Companhia das Letras), que discute os problemas atuais do país à luz da filosofia, afirma que o "brasileiro tem a preocupação constante de afirmar que tem valores éticos", mesmo vivendo em um país "estressado".

Essa moralidade, que teria reflexos na "capacidade extraordinária de mobilização do nosso povo" (ele relembra: "Diretas Já, os fiscais do Sarney, o movimento do Betinho, o Impeachment"), ajudaria a explicar por que 85% dos entrevistados têm "mais orgulho do que vergonha" de ser brasileiros.

"Se o governo Lula conseguir engatar nessa coluna vertebral da força moral ele terá um apoio muito valioso, ao qual o presidente Fernando Henrique não deu importância", diz.

A goleada que o orgulho dá na vergonha de ser brasileiro, que essa força moral impulsionaria, não é acompanhada com o mesmo vigor pela projeção que o país ganha no cenário mundial. Se em 2000 79% dos entrevistados diziam que o Brasil tinha "muita importância" no mundo de então essa cifra cai hoje para 72%.

"É interessante ver a diminuição da utopia da grande potência brasileira, que já nos marcou em tantos momentos. Esta é uma herança que vem do sebastianismo português e que se expressou com força até o período recente do chamado milagre econômico", afirma José Murilo de Carvalho.

Ainda assim, o historiador acha exagerado o número dos que dão destaque ao Brasil no mapa-múndi. "O país é absolutamente irrelevante no cenário internacional."
 

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