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28/04/2003 - 20h47

Dulci critica petistas que combatem reformas do governo

PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Um dos principais ideólogos do PT e do governo Lula, o ministro Luiz Soares Dulci (Secretaria Geral da Presidência) criticou hoje os petistas e outras pessoas da esquerda governista que combatem as propostas do Executivo, afirmando que eles não evoluíram com a história.

Dulci disse que não é possível dar respostas do século 19 a problemas do século 21 e afirmou que os "grandes líderes do socialismo" ficariam "perplexos" com as atitudes da "minoria da esquerda brasileira".

As declarações de Dulci ocorreram durante palestra para empresários do comércio em Belo Horizonte, um dia depois que o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, e uma ala do PT se reuniram no Rio para criar uma frente contra as reformas tributária e da Previdência.

As críticas tiveram início quando o ministro discorria sobre os objetivos do governo Lula de recuperar a estabilidade econômica "perdida" para criar condições para a retomada do crescimento econômico "sólido e duradouro", sem que o PT tenha que deixar de ser um partido da "esquerda democrática".

Disse que "boa parte das grandes transformações sociais do mundo se devem à esquerda democrática" e que o governo tem "orgulho" de pertencer a ela.

"Agora, evidentemente, nós não podemos dar respostas do século 19 a problemas do século 21. A esquerda também evolui. Aliás, uma das suas grandes capacidades é evoluir com a história, ainda que haja setores, alguns até pequenos, mas dentro do próprio PT, que se recusam a aprender a lição dos grandes fundadores dos partidos de esquerda, que é, antes de mais nada, realizar a realidade, compreender o que está acontecendo, extrair as propostas de uma análise da realidade, e não apenas nas doutrinas, sobretudo de doutrinas que foram elaboradas para responder a problemas de 100, 150 ou 200 anos antes", afirmou.

Ele citou até Karl Marx (1818-1883) para criticar essas "minorias". "Marx, se fosse vivo _quem sou eu para fazer 'ventriloquismo' de Marx_, provavelmente diria: dêem respostas à realidade de vocês no início do século 21 e não à nossa realidade de Manchester no século 19", disse o ministro, assinalando que o filósofo alemão "buscou analisar, antes de mais nada, o processo que estava vivendo a correlação de forças".

Foi pregando essa evolução que ele disse que o governo Lula quer que a atual política econômica, de busca da estabilidade, se "desdobre em um programa de crescimento". "É fácil de falar e difícil de fazer, mas não é impossível", disse Dulce, assinalando: "Nós queremos justamente fugir desse falso dilema que paralisou um pouco a vida econômica e, em grande medida, a vida política brasileira nos últimos dez anos: ou estabilidade ou crescimento".

Citou duas vezes as disputas entre desenvolvimentistas e monetaristas no governo FHC para dizer que o governo Lula não fará da estabilidade "um fim em si mesma". Até porque, disse, o governo Lula "terá sentido pleno" fazendo as mudanças estruturais", que afirmou ser a "essência" do programa petista.

Segundo o ministro, o governo sempre soube que a sua "base social" e "político-eleitoral" reivindicariam mudanças imediatas, mas que a "responsabilidade de quem chega ao governo não é apenas de expressar os anseios das maiorias sociais, mas também de informar a sociedade sobre o que se passa". Disse que o governo é transparente e exerce ainda "uma certa pedagogia política em relação" à sua base.

Disse que o governo não tomará medidas por "voluntarismo", porque seriam "demagógicas", seria "contemporizar com expectativas que muitas vezes são superficiais".

"Não quero ser rotundo, mas a responsabilidade de quem está dirigindo uma entidade e que tem uma base não é fazer tudo aquilo que a base pede. Se eu acho que tem alguma coisa que recomenda não fazer, tenho a obrigação de dizer", disse Dulci, assinalando que a avaliação do governo é de que as pré-condições para que o país volte a crescer "estão quase todas asseguradas".

Em entrevista, Dulci contemporizou em relação aos "minoritários". "Na fase de debate, qualquer um pode e deve apresentar sua opinião. Depois que a bancada do PT por maioria democraticamente decidir, todos têm que cumprir a decisão."
 

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