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21/05/2003 - 20h54

No Maranhão, Lula critica invasões do MST

da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou hoje a série de invasões promovidas pelo MST (Movimento Sem Terra) em distintas localidades do país.

Em discurso na cidade de Balsas (sul do Maranhão), o presidente afirmou que era preciso realizar uma reforma agrária "pacífica". O discurso de Lula, que foi ao Maranhão inaugurar uma feira de agricultura, foi uma resposta às violentas ocupações em Mato Grosso e Pernambuco.

"Não é possível imaginar o país deste tamanho, com a quantidade de terra que tem, precisar ter ocupação com violência contra quem quer que seja. Nós precisamos fazer uma reforma agrária tranquila e pacífica", disse.

Leia a íntegra do discurso de Lula:

"Meus amigos e minhas amigas do Estado do Maranhão e da região de Balsas, Meu caro companheiro Governador José Reinaldo Tavares, Minha querida companheira Roseana Sarney, que não vacilou, em nenhum momento, em me ajudar na campanha eleitoral, no ano passado, Meu caro Senador Edson Lobão, que, junto com a Roseana, me ajudou, Meu caro Senador João Alberto, Meu caro Prefeito de Balsas, Companheiros Deputados e companheiras Deputadas aqui presentes,

Nós temos, aqui, o nosso companheiro Governador do Estado de Tocantins, Marcelo Miranda, que está aqui, ao meu lado. O nosso companheiro Governador do Piauí teve que ir embora, porque o Governador de Alagoas acaba de chegar ao Piauí e ele foi para lá.

Mas tenho pouco tempo para conversar com vocês, por conta do sol. Um dia, a INFRAERO vai ter dinheiro e, junto com o Governador do Maranhão, a gente vai iluminar, quem sabe, o aeroporto de Balsas. E, aí, a gente não vai precisar mais levantar vôo com a claridade do sol. E o sol, aqui, se esconde muito cedo. Dizem que a lua aqui é tão bonita que o sol se esconde mais cedo, para a lua aparecer.

Mas a minha vinda a Balsas é o reconhecimento, em primeiro lugar, da capacidade produtiva demonstrada por esta cidade e pela região do Nordeste brasileiro. Todo mundo sabe que sou pernambucano e que fui embora para São Paulo com 7 anos de idade, fugindo de acontecimentos que ainda hoje são motivos pelos quais outros fogem, que são a pobreza e a miséria.

Eu nunca me conformei com a idéia de que o Nordeste nasceu para ser pobre. Nunca. Acho que mesmo a região mais seca deste país não deveria ser a responsável pelo alto grau de empobrecimento dessa área que chamamos de semi-árido nordestino, porque, se a seca é um fenômeno da Natureza e não temos como enfrentá-la, mas estabelecer políticas de convivência com ela, a verdade é que a fome causada pela seca, muitas vezes, é por falta de vergonha dos governantes do nosso país.

E esta região é a região que, possivelmente, há 30 anos, alguém que pudesse passar aqui, diria: "Isso aqui não é terra para agricultura. Isso aqui é uma terra que tem muito salitre. Não vou plantar aqui.

Graças a Deus, a Humanidade é feita de homens e mulheres covardes e corajosos, ousados e não ousados. E, por causa da ousadia de alguns brasileiros que residem aqui ou que vieram para cá, Balsas está se transformando em um grande centro produtor de grãos neste país.

E fico imaginando, meu caro Governador José Reinaldo, minha querida Senadora Roseana e demais Senadores, Prefeito, o dia em que nós fizermos para esta região os corredores de transporte necessários para escoar a nossa produção. Fico imaginando o dia em que a gente fizer uma ferrovia ligando Barreiras, na Bahia, a Balsas, aqui, chegando a Estreito e até o porto do Itaqui. Fico imaginando o dia em que a gente melhorar as estradas brasileiras financiar corretamente a agricultura familiar, porque durante muito tempo se vendeu a idéia de que era incompatível a convivência da agricultura familiar com a agricultura empresarial. Uma completa a outra e o Brasil precisa das duas.

Da mesma forma, não é possível se imaginar um país deste tamanho, com a quantidade de terra que tem, precisar ter ocupação com violência contra quem quer que seja. Nós precisamos fazer uma reforma agrária tranqüila e pacífica, para fazer justiça social neste país. E não precisa haver nenhuma briga. Acontece que reforma agrária não é confinar o pequeno no campo para pegar carrapicho e carrapato. Reforma agrária significa terra, significa crédito, significa assistência técnica e, muitas vezes, significa garantia de preços. Mas, também, é preciso levar em conta a importância da agricultura empresarial para o nosso país, porque é a agricultura hoje a atividade que mais dá superávit para o Brasil na sua política de comércio exterior. E nós precisamos produzir mais porque o Brasil na agricultura é imbatível e não há país no mundo que possa competir com o nosso país.

Eu vim aqui, e disse bem o companheiro Ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e esta é a sexta feira agrícola a que eu vou este ano. E em cada uma eu vou para demonstrar - durante muito tempo muitos agricultores tiveram medo de mim, nem me conheciam e tinha medo de mim - e para provar muitas coisas. Eu estou aqui para provar que acabar com o analfabetismo neste país não é coisa de professor universitário, mas quem sabe seja coisa de um torneiro mecânico que estava faltando para este país. Eu estou aqui para dizer para vocês que acredito na agricultura como acredito na indústria nacional, acredito porque acho que não há país no mundo que tenha o povo com a competência do povo brasileiro. O que o nosso povo precisa, Governador, e nós vamos dar, se Deus quiser, é que a educação deste país seja melhorada. O que o nosso povo precisa é de escola técnica. O que o nosso povo precisa é de investimentos em pesquisas, e eu sei da situação em que peguei a Embrapa, mas não tem nada, não. O que o nosso povo precisa é apenas de uma oportunidade, e nós vamos garantir essa oportunidade ao povo brasileiro, para que nunca mais nós sejamos tratados como se fôssemos a parte pobre do mundo, como se nós fôssemos cidadãos de segunda classe.

Todo mundo aqui sabe: eu devo muita coisa ao querido Estado de São Paulo. Foi lá que minha família me criou, foi lá que eu estudei, foi lá que me formei, foi lá que virei dirigente sindical. Mas eu não esqueci que o sangue que corre nas minhas veias é do Nordeste brasileiro. E eu disse, companheiro José Reinaldo, durante a campanha: eu quero provar que nunca neste país se fez tanto pelo Nordeste brasileiro como eu pretendo fazer em quatro anos de mandato neste país.

Eu vivi durante muitos anos o preconceito contra o nordestino, eu vivi na escola, eu vivi jogando bola, eu vivi na minha adolescência, eu vivi no SENAI. E, se Deus quiser, nós, nordestinos, seremos motivo de orgulho para o nosso querido país, para o nosso querido Brasil. E Balsas é uma região que me inspira dizer isso, porque se, há trinta anos, alguém pudesse não acreditar no sucesso desta região, hoje nós temos que agradecer a Deus, por aqueles que aqui chegaram, que acreditaram, que plantaram, que colheram e que nos ensinaram o "caminho da roça" para que o Maranhão deixasse de ser um Estado em fase de sub-desenvolvimento para se tornar um Estado desenvolvido.

Nós só temos quatro anos de mandato, mas quatro anos são tempo suficiente não para a gente fazer tudo que precisa ser feito, mas para a gente mostrar o caminho que este país tem que trilhar. Este país é extraordinariamente grande, este país foi abençoado por Deus, tem um povo maravilhoso e não pode continuar tendo 43 milhões de pessoas passando fome. E eu sei o que é a fome bater duro no estômago de uma criança ou de uma mulher. Por isso, meu caro José Reinaldo, eu quero que você saiba, quero que os Deputados saibam, quero que os Senadores saibam, este país vai mudar.

Eu cheguei atrasado, aqui, hoje. Eu cheguei atrasado, aqui, porque fiz uma reunião muito importante com parte dos maiores empresários brasileiros, para discutir o desenvolvimento brasileiro e, sobretudo, o desenvolvimento regional. Nenhum governante deste país pode andar pelo mundo mendigando ajuda. Nós temos que ter projetos para que a gente possa exigir parceria com o empresariado brasileiro, parceria com os trabalhadores, parceria com empresários estrangeiros, mas não subserviência. E é assim que este país aprendeu e vai aprender a andar cada vez mais de cabeça erguida.

Quero terminar agradecendo a vocês, ao José Reinaldo pelo convite para vir aqui. O José Reinaldo me visitou duas vezes. Atendeu ao meu pedido e participou das duas reuniões que fiz com os Governadores. E, toda vez, ele dizia: "Presidente, você tem que ir a Balsas. Você tem que ir a Balsas. Você tem que ir a Balsas." Pronto, eu estou em Balsas e agradeço a você a oportunidade de conhecer uma região do país que, se dependesse de governos há muito tempo, não estaria desenvolvida. Eu sei que o meu Ministro da Agricultura é empresário agrícola aqui. Ele me falou das estradas que você, José Reinaldo, abriu aqui. E é importante saber que uma região, para se desenvolver, tem que ter estrada, tem que ter ferrovia, tem que ter energia, senão, não vai para a frente. Tem que ter escola fundamental, escola técnica, Universidade, tem que ter Embrapa, tem que ter centros de pesquisa. Eu quero dizer isto para vocês: eu não tenho um diploma universitário, mas este país vai ficar orgulhoso de ver como é que um torneiro mecânico, formado no SENAI, pode cuidar deste país melhor do que alguns doutores, que governaram este país durante tantos anos.

Muito obrigado, José Reinaldo. Muito obrigado, Roseana. Muito obrigado, Lobão. Muito obrigado, João Alberto. Muito obrigado, Prefeito. Muito obrigado, Marcelo, Governador de Tocantins. E muito obrigado ao povo de Balsas.

Até outro dia, se Deus quiser."
 

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