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24/05/2003 - 02h38

Ouvidor agrário diz temer "várias mortes"

EDUARDO SCOLESE
da Agência Folha

Responsável pela mediação dos conflitos de terra, o ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, 55, diz temer "várias mortes" no campo. Ele afirma que nunca havia presenciado em todo o país um clima de tensão como o atual. "A violência está em um ritmo preocupante de crescimento."

No início da semana, Silva Filho esteve em Tracunhaém (PE), onde sem-terra invadiram um engenho, incendiaram as benfeitorias e ainda mantiveram seguranças particulares como reféns. "Fiquei e ainda estou assustado com o que vi, sem dúvida (...). Em termos de radicalização e violência, eu nunca tinha visto coisa igual."

Magistrado de carreira, o mineiro Silva Filho está no cargo desde a sua criação, em 1999. Quando estoura um conflito, ele deixa seu gabinete em Brasília e embarca no primeiro avião rumo ao local. A Ouvidoria tem o papel de prevenir e diminuir os conflitos. Abaixo, a entrevista que o ouvidor agrário concedeu à Folha ontem.

Agência Folha - O sr. ficou surpreendido com o que viu no engenho Prado [em PE, onde os sem-terra incendiaram as benfeitorias e fizeram reféns] no início da semana?
Gercino José da Silva Filho
- Fiquei e ainda estou assustado com o que vi, sem dúvida. É uma situação que não se enquadra às centenas de reuniões que já fiz como ouvidor. A radicalização lá é de 100%, de ambas as partes. Os donos da propriedade não querem nem conversa, e os sem-terra não admitem abrir mão da área.

Agência Folha - Então o sr. entende que a situação pode se agravar?
Silva Filho
- Eu confesso que nunca vi isso, o que me deixou altamente preocupado. Aquilo é um barril de pólvora. Se o trabalho do Incra [de vistoria e desapropriação] não progredir, vai acabar em morte. Há a possibilidade de várias mortes. Em termos de radicalização e violência, eu nunca tinha visto coisa igual. É o conflito agrário mais preocupante do momento.

Agência Folha - E no restante do país?
Silva Filho
- A avaliação neste primeiro semestre é negativa, mas há como justificar. É que o Incra, todos os anos, costuma ficar parado até junho, para depois começar a desapropriar. Neste ano, a expectativa dos trabalhadores rurais por causa do governo Lula agravou a situação. Houve mudanças nas superintendências. Até agora foram só 8.000 famílias assentadas num total previsto de 60 mil para este ano.

Agência Folha - O sr. possui algum temor específico?
Silva Filho
- Eu estou muito temeroso. A violência está em um ritmo preocupante de crescimento. Ela está aumentando muito em relação ao ano passado.

Por mais que a gente trabalhe, fazendo audiências públicas, mesmo assim a violência cresce. Vou propor ao ministro [Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário] uma reunião urgente para discutir essa situação.

Agência Folha - E a causa de tanta tensão?
Silva Filho
- Eu confesso que ainda não descobri. Quero reunir os movimentos sociais e as principais associações de produtores rurais para ouvir deles o porquê do aumento da violência. Está na hora de reunir os dois lados.

Agência Folha - Numa mesma mesa de negociação?
Silva Filho
- Se não der para reunir numa mesma mesa, vamos reunir com uma turma e depois com a outra. Há rejeição de colocar as partes na mesma mesa.
 

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