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28/05/2003 - 21h22

Parecer do PT critica repasse do ITR para os Estados

EDUARDO SCOLESE
da Agência Folha

Um parecer da assessoria econômica do PT na Câmara, feito na semana passada a pedido da liderança do partido, critica a tentativa do governo federal de entregar aos governadores o controle do ITR (Imposto Territorial Rural).

O documento, ao qual a Agência Folha teve acesso, sugere a manutenção do imposto no "âmbito federal" em vez de passá-lo aos Estados, como está na proposta de reforma tributária.

Coloca também em xeque o principal argumento do Ministério da Fazenda de propor a ida do imposto para o controle dos Estados: que eles teriam as melhores condições para arrecadar e fiscalizá-lo.

"Uma cobrança séria do ITR não exige fiscais federais nos rincões do país, exige, isto sim, a constituição de cadastros atualizados e de um sistema eficiente de detecção de áreas por satélite. Dessa forma, o ITR é o único tributo cuja administração e cobrança pode ser feita dentro de um gabinete por meia dúzia de fiscais", diz o texto assinado pela assessora técnica Maria Emília.

Mesmo estando na casa dos R$ 245 milhões anuais (2002), com problemas de fiscalização apontados por especialistas, o valor arrecadado pelo ITR representa hoje cerca de 53% do recurso previsto neste ano para o Incra (R$ 462 milhões). Em 1996, quando o Congresso anulou a progressividade da cobrança, foram arrecadados R$ 450 milhões (valores atualizados).
Além do parecer, o núcleo agrário do PT no Congresso, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) integram um movimento contrário à essa proposta do governo.

Eles já estão colhendo assinaturas a favor de uma emenda que mantenha o ITR federalizado, taxe progressivamente as terras improdutivas (alíquota multiplicada por dois a cada ano reincidente) e destine a verba recolhida para gastos com reforma agrária.

"A bancada ruralista sempre quis isso [a estadualização do ITR] e agora teve um empurrãozinho [do governo]. É lamentável que isso tenha ocorrido. Não fomos consultados. Apenas os governadores", disse o deputado Adão Pretto (PT-RS), coordenador do núcleo agrário do partido no Congresso (formado por 18 deputados e quatro senadores).
O projeto de reforma tributária entregue pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Câmara e ao Senado prevê que o ITR deixe de ser de competência da União e passe para os Estados, que repartiriam o valor com os municípios.

Em documento enviado no mês passado ao ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), o presidente do Incra, Marcelo Resende, relatou seu descontentamento com a proposta do governo sobre o ITR. "Uma reforma agrária que efetivamente pretenda alterar a injusta estrutura fundiária brasileira não pode prescindir do citado tributo e de sua regulamentação", disse.

João Pedro Stedile, da direção nacional do MST, prossegue o bombardeio. "É um absurdo, uma vergonha levar o ITR para controle estadual. Deixará de ser um imposto para ajudar a corrigir a estrutura da propriedade da terra e será mais imposto de governo estadual para fazer estrada. Se eles transferirem [para os Estados], na prática acaba o ITR no seu espírito, e passa a surgir outro imposto."
"A decisão da terra nas mãos dos Estados inviabiliza a reforma agrária. O imposto precisa estar nas mãos do governo federal, e de forma progressiva", afirmou a deputada Luci Choinacki (PT-SC), autora da emenda que se opõe ao projeto do governo.
 

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