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04/06/2003 - 22h21

Conflito na Paraíba mata um sem-terra e deixa outros 12 feridos

EDUARDO SCOLESE
EDUARDO DE OLIVEIRA

da Agência Folha

Num episódio que tem potencial para acirrar ainda mais o clima de tensão entre sem-terra e ruralistas por todo o país, um trabalhador rural foi assassinado e outros 12 ficaram feridos, sendo dois em estado grave, ao serem recebidos a bala por funcionários de uma fazenda em Jacaraú (PB), durante invasão ocorrida hoje.

O ouvidor agrário nacional, Gercino da Silva Filho, em entrevista à Agência Folha no último dia 23, já havia alertado sobre o seu temor de "várias mortes" no campo e o "ritmo preocupante" de crescimento da violência rural. Gercino é responsável pela mediação dos conflitos de terra e, nos momentos de tensão, escalado pelo governo federal para falar com a imprensa.

A morte de hoje foi a nona registrada pela ouvidoria neste ano em conflitos agrários, contra oito em todo o ano passado (leia texto nesta página). De janeiro até agora, foram cinco assassinatos no Pará, sendo os demais divididos por Mato Grosso do Sul, Amazonas, Pernambuco e Paraíba.

A atual onda de tensão no campo não se reflete apenas nos conflitos entre ruralistas e sem-terra. Ambos os lados também trocam farpas direto com o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Para o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), a "paciência" com o governo está no limite, enquanto para as entidades de fazendeiros o Planalto tem sido "conivente" com as invasões.

Hoje, em Jacaraú (106 km de João Pessoa), a ação dos funcionários que faziam a guarda da fazenda São José ocorreu por volta das 5h30, quando cerca de 300 sem-terra ligados à CPT (Comissão Pastoral da Terra) invadiram a área para, segundo eles, "promover um mutirão de plantio e colheita".

O clima de tensão no local vem desde agosto de 2001, quando os mesmos sem-terra invadiram a propriedade pela primeira vez. Dias depois, o pedido de reintegração de posse foi cumprido, e os trabalhadores rurais passaram a viver acampados numa área vizinha, que pertence ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Em setembro do ano passado, funcionários da fazenda atearam fogo nos barracos dos sem-terra.

A CPT aponta Marco Antônio Barbosa, conhecido por Napoleão, como proprietário da fazenda e um dos que atiraram contra os sem-terra. Markyllwer Góes, que se identificou ontem como advogado de Napoleão, disse que seu cliente "foi surpreendido com a invasão e teve que se defender para não morrer".

O Incra-PB informou, por meio de sua assessoria, que Napoleão, que hoje não foi localizado pela polícia paraibana, é arrendatário de outras duas áreas na região. O órgão, porém, não confirmou se ele seria o dono da São José. "Estamos com a polícia no encalço dele [Napoleão]", disse ontem o governador Cássio Cunha Lima (PSDB).

De acordo com a Polícia Civil, que enviou ontem uma equipe ao local, os funcionários da fazenda utilizaram revólveres calibre 38 e espingardas calibre 12. Ao ouvir os primeiros tiros, a maioria dos invasores fugiu, enquanto o restante deitou-se na terra.

Antônio Chagas da Silva, 42, atingido por um tiro no peito, morreu no local. Outras nove pessoas tiveram ferimento a bala, e três se machucaram na fuga. Lindalva Tomé de Oliveira, 25, e Severino Amaro da Silva, 52, ambos atingidos por disparos na região do abdômen, permaneciam internados ontem à noite em estado grave no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena. Maria dos Santos, 14, atingida no peito, foi operada e não corria risco de morte.

 

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