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09/06/2003
-
10h56
Diretor da Folha de S.Paulo, em Brasília
Preocupado em manter no Congresso um grupo parlamentar que lhe fosse fiel, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ajudou a angariar fundos eleitorais para 24 políticos durante a campanha de 2002. Valendo-se da intermediação de um ex-consultor da CNI (Confederação Nacional da Indústria), recorreu a nove empresas. Foram amealhados cerca de R$ 7 milhões.
A reportagem da Folha soube do empenho do presidente na obtenção de fundos eleitorais em diálogo com um deputado que integrou a base congressual da administração tucana. Foi, ele próprio, beneficiário da operação.
Ouvido na última segunda-feira, em São Paulo, o executivo de uma das empresas que contribuíram para a caixinha forneceu ao jornal a lista com os nomes preferidos de FHC -14 concorreram ao Senado; dez à Câmara.
O executivo informou:
1) a lista foi encaminhada a nove empresas. O portador se chama Ney Figueiredo, um consultor político e empresarial especializado em leitura de pesquisas de opinião. Aproximou-se de FHC no início do ano de 2000. Assessorava à época a CNI;
2) Figueiredo falou às empresas em nome de FHC. Pediu que contribuíssem financeiramente com as campanhas eleitorais das pessoas incluídas na lista. O documento é pluripartidário -contém 14 nomes do PSDB, três do PFL, cinco do PMDB e dois do PPB, depois rebatizado de PP.
3) são os seguintes os grupos empresariais que receberam a lista do Planalto: Bradesco, Itaú, Unibanco, Safra, Gerdau, Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Embraer;
4) de posse da relação, cada empresa selecionou os candidatos com os quais se identificava. Tudo somado, angariaram-se R$ 7 milhões. Foram distribuídos entre os 24 políticos de forma desigual, a critério de cada empresa;
5) o dinheiro foi entregue diretamente aos comitês de campanha dos candidatos. O mais bem aquinhoado recebeu cerca de R$ 500 mil. O que amealhou menos ficou com cerca de R$ 120 mil. Uma parte das contribuições foi registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Outra circulou pelo caixa dois da campanha;
6) dos 24 preferidos de FHC, apenas quatro fracassaram nas urnas. Para o Senado: Artur da Távola (PSDB-RJ), José Aníbal (PSDB-SP) e Geraldo Melo (PSDB-RN); para a Câmara: Osmar Terra (PMDB-RS).
7) todos os demais foram bem-sucedidos. Entre eles os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Renan Calheiros (PMDB-AL) e os deputados Alberto Goldman (PSDB-SP), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e Arnaldo Madeira (PSDB-SP).
Ouvido sobre o tema, FHC economizou comentários. Mandou dizer: "Desconheço essa lista". Ney Figueiredo não negou a existência da lista. Disse que conhece todos os parlamentares. "Procurei ajudá-los junto ao meio empresarial. Acho que tive certo sucesso". Quanto aos nomes dos doadores, foi evasivo: "Não confirmo nem desminto." Negou ter agido a pedido de FHC.
As declarações de FHC e Figueiredo não se encaixam com os depoimentos de parlamentares ouvidos pela Folha.
Um deles, o senador Edison Lobão (PFL-MA) admitiu ter sido procurado por Figueiredo. Falava em nome de FHC. "Gostei de saber que o presidente estava interessado pela minha sorte eleitoral", recordou-se. "O Ney disse: "Olha, tenho uma recomendação de tentar te ajudar." Eu disse: Isso é uma bênção, muito obrigado, vou agradecer ao presidente."
Não se lembra, porém, de doações que lhe tenham chegado graças à intermediação de Figueiredo: "Pelo que me recordo, não tive essa contribuição. A menos que você tenha um empresário que tenha dito que contribuiu e eu não me lembro quem é. Pode ser que eu confirme".
Sob a condição de que seu nome fosse preservado, outro parlamentar reconheceu a interferência de FHC. Disse que a intermediação de Figueiredo rendeu-lhe uma "modesta" ajuda financeira do Unibanco. Em encontro com FHC, agradeceu o apoio. A reportagem dispõe de gravação dos contatos feitos com os deputados e senadores, mesmo daqueles que falaram sob o compromisso de preservação da identidade.
Muitos disseram ter sido, de fato, procurados por Ney Figueiredo. Evitaram envolver FHC. Poucos reconheceram ter obtido verbas de campanha por essa via.
A Folha ouviu também as empresas. Deram respostas que caminham numa mesma direção: fizeram doações; agiram sempre dentro da lei; a despeito de eventual coincidência de nomes, tais contribuições não estão vinculadas a nenhuma lista palaciana.
Figueiredo atuou nos últimos 20 anos como consultor de entidades empresariais. Aproximou-se de FHC em janeiro de 2000. Compartilhava com o presidente números de pesquisas patrocinadas pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), da qual se desligou no ano passado. Em julho de 2000, coordenou manifesto de empresários em apoio a FHC.
Empresas ajudam a eleger "bancada FHC"
JOSIAS DE SOUZADiretor da Folha de S.Paulo, em Brasília
Preocupado em manter no Congresso um grupo parlamentar que lhe fosse fiel, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ajudou a angariar fundos eleitorais para 24 políticos durante a campanha de 2002. Valendo-se da intermediação de um ex-consultor da CNI (Confederação Nacional da Indústria), recorreu a nove empresas. Foram amealhados cerca de R$ 7 milhões.
A reportagem da Folha soube do empenho do presidente na obtenção de fundos eleitorais em diálogo com um deputado que integrou a base congressual da administração tucana. Foi, ele próprio, beneficiário da operação.
Ouvido na última segunda-feira, em São Paulo, o executivo de uma das empresas que contribuíram para a caixinha forneceu ao jornal a lista com os nomes preferidos de FHC -14 concorreram ao Senado; dez à Câmara.
O executivo informou:
1) a lista foi encaminhada a nove empresas. O portador se chama Ney Figueiredo, um consultor político e empresarial especializado em leitura de pesquisas de opinião. Aproximou-se de FHC no início do ano de 2000. Assessorava à época a CNI;
2) Figueiredo falou às empresas em nome de FHC. Pediu que contribuíssem financeiramente com as campanhas eleitorais das pessoas incluídas na lista. O documento é pluripartidário -contém 14 nomes do PSDB, três do PFL, cinco do PMDB e dois do PPB, depois rebatizado de PP.
3) são os seguintes os grupos empresariais que receberam a lista do Planalto: Bradesco, Itaú, Unibanco, Safra, Gerdau, Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Embraer;
4) de posse da relação, cada empresa selecionou os candidatos com os quais se identificava. Tudo somado, angariaram-se R$ 7 milhões. Foram distribuídos entre os 24 políticos de forma desigual, a critério de cada empresa;
5) o dinheiro foi entregue diretamente aos comitês de campanha dos candidatos. O mais bem aquinhoado recebeu cerca de R$ 500 mil. O que amealhou menos ficou com cerca de R$ 120 mil. Uma parte das contribuições foi registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Outra circulou pelo caixa dois da campanha;
6) dos 24 preferidos de FHC, apenas quatro fracassaram nas urnas. Para o Senado: Artur da Távola (PSDB-RJ), José Aníbal (PSDB-SP) e Geraldo Melo (PSDB-RN); para a Câmara: Osmar Terra (PMDB-RS).
7) todos os demais foram bem-sucedidos. Entre eles os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Renan Calheiros (PMDB-AL) e os deputados Alberto Goldman (PSDB-SP), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e Arnaldo Madeira (PSDB-SP).
Ouvido sobre o tema, FHC economizou comentários. Mandou dizer: "Desconheço essa lista". Ney Figueiredo não negou a existência da lista. Disse que conhece todos os parlamentares. "Procurei ajudá-los junto ao meio empresarial. Acho que tive certo sucesso". Quanto aos nomes dos doadores, foi evasivo: "Não confirmo nem desminto." Negou ter agido a pedido de FHC.
As declarações de FHC e Figueiredo não se encaixam com os depoimentos de parlamentares ouvidos pela Folha.
Um deles, o senador Edison Lobão (PFL-MA) admitiu ter sido procurado por Figueiredo. Falava em nome de FHC. "Gostei de saber que o presidente estava interessado pela minha sorte eleitoral", recordou-se. "O Ney disse: "Olha, tenho uma recomendação de tentar te ajudar." Eu disse: Isso é uma bênção, muito obrigado, vou agradecer ao presidente."
Não se lembra, porém, de doações que lhe tenham chegado graças à intermediação de Figueiredo: "Pelo que me recordo, não tive essa contribuição. A menos que você tenha um empresário que tenha dito que contribuiu e eu não me lembro quem é. Pode ser que eu confirme".
Sob a condição de que seu nome fosse preservado, outro parlamentar reconheceu a interferência de FHC. Disse que a intermediação de Figueiredo rendeu-lhe uma "modesta" ajuda financeira do Unibanco. Em encontro com FHC, agradeceu o apoio. A reportagem dispõe de gravação dos contatos feitos com os deputados e senadores, mesmo daqueles que falaram sob o compromisso de preservação da identidade.
Muitos disseram ter sido, de fato, procurados por Ney Figueiredo. Evitaram envolver FHC. Poucos reconheceram ter obtido verbas de campanha por essa via.
A Folha ouviu também as empresas. Deram respostas que caminham numa mesma direção: fizeram doações; agiram sempre dentro da lei; a despeito de eventual coincidência de nomes, tais contribuições não estão vinculadas a nenhuma lista palaciana.
Figueiredo atuou nos últimos 20 anos como consultor de entidades empresariais. Aproximou-se de FHC em janeiro de 2000. Compartilhava com o presidente números de pesquisas patrocinadas pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), da qual se desligou no ano passado. Em julho de 2000, coordenou manifesto de empresários em apoio a FHC.
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