Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
11/06/2003 - 07h36

Planalto articula fim da CPI do Banestado

KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Diante da dificuldade para enterrar a CPI do Banestado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula do governo estão articulando uma tentativa de, pelo menos, paralisar a comissão parlamentar de inquérito por 60 dias. Motivo: avaliam que ela atrapalharia a votação das reformas tributária e da Previdência.

A idéia é tentar convencer os líderes partidários e o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), a desistir da investigação congressual porque a Polícia Federal e o Ministério Público teriam avançado bastante no tema da CPI: cerca de US$ 30 bilhões que teriam saído do país na segunda metade dos anos 90.

Em reunião ontem no Palácio da Alvorada, Lula definiu a seguinte estratégia com seus ministros mais influentes: fará uma última tentativa nos bastidores para que a CPI não seja instalada.

Como até ontem a avaliação era de que essa saída era praticamente impossível, devido ao avanço regimental na Câmara, a opção será pedir a paralisação da CPI por 60 dias, até que a fase mais importante das reformas (a tramitação nas comissões especiais) esteja concluída. Lula fará um apelo para que a Câmara priorize as reformas.

Para isso, enviará o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) para conversar com os líderes e com integrantes da CPI. O ministro dará um relato minucioso das investigações, dirá que darão fruto em 60 dias e pedirá tempo para conclusão dos trabalhos da PF e do Ministério Público.

O governo acredita que, diante dessa argumentação, a Câmara suspenderá a CPI. Ao mesmo tempo, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, terá reuniões com os líderes aliados para pedir que ajudem o governo a deixar a CPI em segundo plano.

Lula crê que o argumento colará porque seria do interesse de todas as legendas evitar uma investigação agora. Há possibilidade de políticos e grandes empresários serem atingidos. Bastos argumentará que a PF e o Ministério Público estão tomando medidas para evitar acusações infundadas.

Não seria hora de fazer "marola", teria dito Lula. Um auxiliar presidencial diz que, se parlamentares forem pegos numa CPI, haveria pressão por cassação, o que poderia gerar divisão na base do governo ou acirramento dos ânimos dos oposicionistas.

Apesar da enorme contrariedade de Lula com João Paulo Cunha, o governo decidiu optar pelo pedido de suspensão da CPI a fim de dar a ele uma saída honrosa. Ele estará no centro da articulação para suspender a CPI "em nome do bem do Brasil".

Nas conversas reservadas, Lula diz que foi um erro ter colocado João Paulo na presidência da Câmara. O presidente avalia que ele busca uma atitude de independência incompatível com seu cacife político, pois chegou ao posto pelas mãos do governo.

A interlocutores, João Paulo diz que não quer ficar conhecido como "engavetador de CPIs" e teleguiado pelo governo.

Outro petista que está na lista de problemas de Lula é o líder do partido na Câmara, Nelson Pellegrino (BA). Depois de João Paulo ter pedido que os líderes indicassem membros, Pellegrino tomou a dianteira, apontando os nomes e constrangendo outros líderes a fazer o mesmo.

A tentativa de enterrar ou paralisar a CPI deve contar com a simpatia de dirigentes da oposição (PSDB e PFL) e do PMDB. "CPI é como uma represa. Quando arrebenta, vem água para todo é lado. Mas, se quiserem investigar, não me oporei", disse o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE).

Em conversas reservadas, Lula demonstra contrariedade com o clima de "ciúme" que haveria entre João Paulo e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP). Obedecendo ao governo, Mercadante articulou o fim da CPI no Senado, mas João Paulo a ressuscitou na Câmara.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página