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15/06/2003 - 00h20

Tendências/Debates: Brasil e EUA: muito mais do que a Alca

DONNA J. HRINAK
especial para Folha de S.Paulo

As recentes visitas do representante de Comércio dos EUA, Robert B. Zoellick, e do subsecretário de Agricultura, J.B. Penn, chegaram às manchetes dos jornais brasileiros com enfoque mais uma vez na questão das relações econômicas e comerciais na linha de frente das nossas relações bilaterais. Às vésperas do encontro entre os presidentes Lula e Bush, em Washington, gostaria de enfatizar que a relação entre o Brasil e os EUA, como qualquer parceria saudável, é muito mais diversificada.

Os EUA foram o primeiro país a reconhecer a Independência do Brasil e a dar as boas-vindas ao primeiro enviado brasileiro a Washington, em 1824. Da mesma forma, eu me senti muito bem-vinda em Brasília, onde o presidente Eisenhower lançou a pedra fundamental da primeira embaixada na cidade, em 23 de fevereiro de 1960.

Nossos países têm diversas formas de cooperação em muitos campos, como segurança, aplicação da lei, saúde, educação, meio ambiente e ciência e tecnologia. Temos tratados bilaterais que cobrem quase todos os aspectos das relações internacionais.

Nossas comunidades empresarial e financeira continuam a prosperar, através das sinergias criadas pelas interações entre as duas maiores economias do hemisfério. Os investimentos dos EUA tiveram um papel importante no rápido crescimento do Brasil, e nossas importações de produtos brasileiros ajudaram a desenvolver indústrias-chave de exportação e tornar os EUA o maior parceiro individual do Brasil.

Nossos estudantes e jovens continuam a aproveitar as oportunidades de intercâmbio cultural entre os dois países mais populosos do hemisfério. Música, filmes, esportes e outros aspectos da cultura popular nos aproximaram de formas que não poderíamos imaginar quando nossos vínculos diplomáticos começaram, há mais de 180 anos.

Porém, no século 21, nossas sociedades enfrentam muitos dos mesmos desafios internos e externos: pobreza e fome, exclusão social e as ameaças à segurança pública representadas pelo crime transnacional e pelo terrorismo. Mas eles podem ser transformados em sucesso, se o Brasil e os EUA compartilharem suas experiências, aprenderem um com o outro e trabalharem juntos.

Durante recente viagem a Fortaleza, visitei três projetos patrocinados pela Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). Trabalhando com o governo, ONGs e comunidades locais, a Usaid concentra esforços em três áreas no Brasil: ajuda a crianças e jovens em desvantagem; combate à Aids e à tuberculose; e a promoção do desenvolvimento sustentável aliada à proteção ambiental e à busca de energia renovável e eficiência energética. No Ceará, o Ider (Instituto de Energia Renovável) desenvolve, com verbas da Usaid, programas de geração de energia solar e eólica que demonstram a viabilidade das fontes de energia alternativa para levar eletricidade àqueles que ficam fora da rede tradicional. O Ider também criou uma escola de treinamento em instalação e manutenção de placas solares para jovens carentes, ajudando a prepará-los para a carreira profissional.

Há três meses lançamos, em Recife, o Programa para o Futuro, visando preparar jovens carentes para a entrada no mercado de trabalho, proporcionando-lhes treinamento e facilitando o acesso a estágios e empregos na área de informática. Esse projeto de inclusão digital reflete a excepcional parceria entre organizações governamentais, corporações e ONGs do Brasil e dos EUA.

Nossos países também cooperam para promover a participação de todos os cidadãos na sociedade e na vida pública. Nos últimos anos, patrocinamos vários intercâmbios entre mulheres parlamentares dos dois países. Também compartilhamos experiências com líderes afro-brasileiros, como os fundadores da nova Universidade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, criada especialmente para brasileiros afrodescendentes.

Nossos líderes sabem que temos muito a ganhar trabalhando juntos, não só em termos bilaterais, mas também em escala hemisférica. Tendo passado a maior parte de meus 29 anos de serviço diplomático vivendo ou trabalhando com países do continente americano, estou convicta dos benefícios que a integração pode trazer aos nossos países e povos. O compromisso com a agenda hemisférica comum que transcendeu as mudanças nos governos, desde o início da Cúpula das Américas, em 1994, demonstra claramente o empenho das 34 democracias americanas.

O presidente Bush tem afirmado, desde sua eleição, que este seria o "século das Américas", e começou bem: seu primeiro encontro oficial foi com Vicente Fox, do México, e seu primeiro encontro com um grupo de líderes estrangeiros foi com os participantes da Terceira Cúpula Hemisférica, em Québec.

No entanto a realidade tem seu modo de se intrometer nos melhores planos, como mostraram os acontecimentos do 11 de setembro. Embora as consequências desses eventos tenham temporariamente demandado mais tempo e energia, o governo Bush nunca perdeu de vista a importância deste hemisfério. Talvez o sinal mais evidente disso tenha sido o telefonema do presidente Bush para parabenizar Lula, logo após eleito presidente do Brasil, e o convite para que visitasse Washington em dezembro passado, antes mesmo de sua posse.

Agora Lula retornará à Casa Branca como presidente do Brasil, acompanhado por membros de seu gabinete, para discutir uma ampla agenda de questões que nos confrontam e nos unem.

Há 90 anos, Theodore Roosevelt, um dos primeiros ambientalistas, então cinco anos longe da Presidência, veio ao Brasil para acompanhar o coronel Rondon em uma expedição para mapear o então inexplorado rio da Dúvida, afluente do Amazonas cujo curso era um mistério. Nascia uma parceria duradoura. Hoje, com a mesma determinação e coragem, Brasil e EUA lideram o curso das relações entre si e com o hemisfério. Embora possa haver contratempos ao navegarmos neste novo século, não há dúvida de que Brasil e EUA são parceiros essenciais nessa jornada.

Donna J. Hrinak, 52, é embaixadora dos Estados Unidos no Brasil
 

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