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06/07/2003 - 07h00

Total de acampados cresce 147,5% em apenas 6 meses

JAIRO MARQUES
TIAGO ORNAGHI
EDUARDO SCOLESE

da Agência Folha

Mais de 600 mil pessoas, que representam quase 149 mil famílias, estão acampadas à espera de terra no Brasil. Esse número é 147,5% maior do que aquele que o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) divulgou à equipe de transição do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no final de 2002, que era de 60 mil famílias.

Isso indica um crescimento na busca de áreas rurais em seis meses do governo Lula, e representa mais que o dobro da demanda que o atual governo planejava assentar até o final deste ano --60 mil famílias. Já o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) reivindica o assentamento de 120 mil famílias em 2003 e de 1 milhão até o final de 2006.

A Agência Folha contatou todas as superintendências regionais do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e levantou que existem hoje, pelo menos, 148.491 famílias morando em barracos de lona em 1.297 acampamentos espalhados por 22 Estados mais o Distrito Federal.

Esses números ainda são parciais em alguns Estados e farão parte de um relatório que o órgão prepara e pretende divulgar no final deste mês. Ou seja, o número de acampados pode aumentar.

Não há dados sobre acampamentos no Acre, em Roraima e no Amapá. Apenas o Incra de Rondônia não forneceu informações e ficou fora da amostragem.

618 mil pessoas

Para chegar ao dado do total de pessoas acampadas, o método adotado pelo Incra é multiplicar o número de famílias por quatro. Porém, em Sergipe, no Rio de Janeiro, em Goiás e em Minas Gerais, as superintendências adotam a multiplicação por cinco, o que totaliza 618.490 pessoas.

No Estado de São Paulo, onde se encontra uma das regiões mais conflituosas do país --o Pontal do Paranapanema--, o Itesp (Instituto de Terras de São Paulo) contabiliza 97 acampamentos com 9.556 famílias.

No ano passado, a Ouvidoria Agrária Nacional do governo Fernando Henrique Cardoso anunciou que cerca de 60 mil famílias viviam à margem de rodovias ou em terras invadidas esperando ser assentadas, menos da metade do número atual (149 mil).

"O nosso levantamento terminou no final de maio [e foi repassado ao Incra Nacional], mas os números têm aumentado muito rapidamente, o que obriga estarmos sempre revendo para checar a realidade. A pressão pela terra é fortíssima aqui no Estado, mas estamos evitando o conflito com a negociação. Pelo tamanho do nosso território, a concentração de famílias acampadas é preocupante", declarou o superintendente do Incra em Sergipe, Carlos Antônio de Siqueira Fontenele .

Os dados tabulados não se referem apenas a acampamentos ligados ao MST. Grupos ligados à CPT (Comissão Pastoral da Terra) e à Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), por exemplo, também estão presentes no levantamento realizado pelo órgão.

Reivindicação

As próprias lideranças do MST falam no incremento do número de pessoas acampadas durante o primeiro semestre da administração do presidente Lula.

João Paulo Rodrigues, da direção nacional, disse que, das famílias do movimento instaladas em barracos em todo o país, 30 mil teriam aderido depois da posse de Lula, e o restante viveria "há mais de dois anos" em barracos.

Indagado sobre o número de assentamentos exigidos pelo MST em 2003, Rodrigues declarou: "Qualquer número que seja próximo de 90 mil [número de famílias ligadas ao MST acampadas no país, segundo o movimento]. Esse é o mínimo. Mas nós não vamos bater em números agora. Nós queremos que sejam assentadas as famílias acampadas, o que é o compromisso de campanha de Lula", afirmou o dirigente.

Dentre os Estados com o maior número de pessoas reivindicando terra no Brasil está Pernambuco, palco de diversos conflitos na última semana. O levantamento oficial do Incra local está atrasado, mas, na estimativa dos movimentos sociais pernambucanos, pode haver até 35 mil famílias acampadas em 320 locais diferentes.

Para o levantamento feito, foram consideradas 19 mil famílias, dado da ouvidoria do governo passado e encampado pela equipe de transição de Lula.

"A superintendência aqui de Pernambuco tem uma capacidade máxima de assentar 2.000 pessoas por ano. A demanda de acampados, ao longo dos últimos oito anos, foi sempre maior que isso, o que resultou em um saldo acumulado que foi se arrastando. Chegou-se ao cúmulo de termos pessoas acampadas há sete anos no Estado", disse o superintendente do Incra em Pernambuco, João Farias de Paula Júnior.
 

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