Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
27/07/2003 - 06h00

Crise do emprego se agrava na gestão Lula

PEDRO SOARES
da Folha de S.Paulo, no Rio

Um fenômeno atinge a maioria da população brasileira: o aumento do desemprego e a progressiva degradação das condições de trabalho. Desde dezembro do ano passado, a taxa de desocupação em seis regiões metropolitanas cresceu 2,5 pontos percentuais, passando de 10,5%, em dezembro, para 13,0%, em junho.

Além do desemprego, o problema da informalidade se tornou mais agudo nos primeiros seis meses de governo Lula: o emprego com carteira assinada caiu 2,1%, enquanto a ocupação sem carteira aumentou 2,3%.

Nas seis regiões em que o IBGE faz sua pesquisa de emprego, quase 21 milhões de pessoas constituíram, em média, a população economicamente ativa no primeiro semestre de 2003. São 2,2 milhões de novos cidadãos lançados ao mercado de trabalho, em comparação aos que estavam na PEA na primeira metade de 2002.O número de pessoas ocupadas, no período, aumentou em 1,9 milhão. As vagas, porém, foram insuficientes para conter o avanço do desemprego.

A participação dos trabalhadores sem carteira assinada no total dos ocupados aumentou de 21,4% no primeiro semestre de 2002 para 21,7% na metade deste ano. Os trabalhadores por conta própria também aumentaram sua participação relativa, de 19,2% para 19,6%. Já o emprego com carteira assinada declinou nessas seis regiões metropolitanas, de 45,5% para 44,7%.

Ao todo, as ocupações precárias (sem carteira e autônomos) foram responsáveis pela criação de mais de 900 mil novos postos de trabalho entre o primeiro semestre de 2002 e igual período de 2003. Sem essa "flexibilização" do mercado, a taxa de desemprego hoje estaria muito mais alta.

Sem carteira

O emprego sem carteira assinada vem subindo há quatro meses, tendo alcançado 4,024 milhões de pessoas em junho _um crescimento de 8% ante igual período de 2002. É praticamente a metade dos que têm carteira: 8,047 milhões. O número de trabalhadores por conta própria, também informais em sua maioria, cresceu 3,8% durante o governo Lula e 9,3% em relação a junho de 2002.

A precarização crescente das relações de trabalho vem se refletindo na queda dos rendimentos dos indivíduos. Durante o governo Lula, o contingente dos trabalhadores sub-remunerados _aqueles que recebem menos de um salário mínimo para cumprir uma jornada de 40 horas semanais_ cresceu 54%: eles eram 1,608 milhão em janeiro; em junho, somavam 2,474 milhões de pessoas.

Nos primeiros cinco meses do ano, a renda média do trabalhador caiu 11,4% em relação a igual período de 2002. Entre os que trabalham por conta própria, o rendimento médio despencou 19%. O secretário de Trabalho e Emprego do município de São Paulo, Marcio Pochmann, que ajudou a Folha de S.Paulo a tabular esses dados, ilustra a queda com um exemplo: "Imagine uma praça onde havia dois vendedores de cachorro-quente, e as pessoas que por ali circulam normalmente despendiam em média certa quantia para comprar sanduíches. Não apenas a renda média disponível para a compra dos lanches diminuiu como o número de pessoas vendendo alimento, naquela região, aumentou, o que fez cair o faturamento médio de cada vendedor".

São muitas as razões apontadas por especialistas para a expansão da informalidade: o menor rendimento do trabalhador, o enfraquecimento do nível de atividade econômica, a redução do poder de barganha de quem procura emprego e a maior entrada de mulheres e jovens no mercado.

Para Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a queda da renda "realimenta" a informalidade e vice-versa. Quando a crise se agrava, mulheres e filhos saem à caça de um emprego para recompor o rendimento familiar.

Acontece que eles, quando conseguem se empregar, recebem menos e, em geral, vão para o mercado informal. Com o aumento dos empregos informais, que pagam menos, a renda média da família cai.

Segundo Luiz Parreiras, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mesmo com a economia estagnada, o emprego sem carteira cresce porque ocorre uma substituição de vagas formais por informais, cujos salários são menores. Para o emprego com carteira assinada aumentar, no entanto, é necessário haver crescimento econômico.

Para Sônia Rocha, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o Brasil vive "o pior dos mundos": não chegou a ter um estágio de formalização com garantias sociais, como nos países desenvolvidos, e sofre com uma nova onda de informalidade, puxada pelo "conta própria de baixa renda".

Segundo ela, trata-se de um movimento diferente do que ocorreu na Europa, onde as pessoas migraram para o mercado informal por opção, acompanhando a modernização da indústria. Aqui, diz ela, é uma questão de necessidade: "Não é uma escolha pessoal".
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página