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27/07/2003
-
07h00
O economista e deputado federal pelo PP Antonio Delfim Netto diz que "o desemprego está evidentemente ligado ao crescimento". O diagnóstico é partilhado por outros economistas. Gilberto Dupas, coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP, vai noutra linha. Para ele, boa parte do desemprego atual tem origem no modo como a economia mundial vem se organizando desde fins dos anos 80.
Delfim associa a piora do desemprego à retração econômica causada pela alta taxa de juros. Segundo ele, um "ruído muito grande com a ameaça de eleição do Lula" acentuou o receio de que o Brasil não honrasse seus compromissos. Com isso, dólar e inflação subiram, e o Banco Central apertou a política monetária, com efeito recessivo. "Mas, se isso não tivesse sido feito, o governo teria perdido o controle da inflação."
O também economista Paul Singer, ligado ao PT, concorda que a crise é agravada pelos juros altos. Diz, porém, que é "impossível dizer se o crescimento do desemprego nesses seis meses é fruto da política econômica atual ou da anterior [a do governo FHC]".
Singer acredita que, caindo a inflação e os juros, "há uma grande chance de a economia voltar a crescer no próximo semestre". Mas, pondera, "isso depende de o mercado financeiro internacional continuar a confiar no Brasil".
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, compartilha da opinião de Delfim quanto à necessidade do aperto monetário. "Se não adotássemos medidas severas, as consequências seriam o descontrole inflacionário, a estagnação econômica por vários anos e a queda prolongada do emprego e do salário real", diz o ministro.
Ele afirma que o custo do ajuste no Brasil foi menor do que em outros países que passaram por crises semelhantes.
Desemprego estrutural
Numa linha diferente, Dupas coloca a falta de crescimento em segundo plano como causa do desemprego. Para ele, "neste novo paradigma de mercado global, não há nenhuma garantia de que o crescimento seja suficiente para a retomada do emprego".
O novo paradigma é a economia globalizada, em que as empresas multinacionais deslocam a produção de cada item dos produtos que fabricam para o país onde os custos são menores. Esse processo trouxe consigo a busca da automação e da terceirização.
Com isso, surgiram duas tendências perversas: uma rumo a um nível permanentemente maior de desemprego e outra rumo ao crescimento do trabalho informal. "Esses fenômenos aconteceram em todos os grandes países da periferia", diz Dupas.
Nessa lógica, o elevado desemprego de hoje é decorrente "de um processo estrutural que vem a partir da abertura econômica do final da década de 80".
Isso não quer dizer que um crescimento maior não possa melhorar o quadro. "Você crescendo, o agravamento da situação é mais lento", diz Dupas. Seu tom não é nada otimista: "Hoje, infelizmente, nossas escolhas têm que ser entre o ruim e o péssimo".
Crescimento baixo e globalização são "vilões"
da Folha de S.PauloO economista e deputado federal pelo PP Antonio Delfim Netto diz que "o desemprego está evidentemente ligado ao crescimento". O diagnóstico é partilhado por outros economistas. Gilberto Dupas, coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP, vai noutra linha. Para ele, boa parte do desemprego atual tem origem no modo como a economia mundial vem se organizando desde fins dos anos 80.
Delfim associa a piora do desemprego à retração econômica causada pela alta taxa de juros. Segundo ele, um "ruído muito grande com a ameaça de eleição do Lula" acentuou o receio de que o Brasil não honrasse seus compromissos. Com isso, dólar e inflação subiram, e o Banco Central apertou a política monetária, com efeito recessivo. "Mas, se isso não tivesse sido feito, o governo teria perdido o controle da inflação."
O também economista Paul Singer, ligado ao PT, concorda que a crise é agravada pelos juros altos. Diz, porém, que é "impossível dizer se o crescimento do desemprego nesses seis meses é fruto da política econômica atual ou da anterior [a do governo FHC]".
Singer acredita que, caindo a inflação e os juros, "há uma grande chance de a economia voltar a crescer no próximo semestre". Mas, pondera, "isso depende de o mercado financeiro internacional continuar a confiar no Brasil".
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, compartilha da opinião de Delfim quanto à necessidade do aperto monetário. "Se não adotássemos medidas severas, as consequências seriam o descontrole inflacionário, a estagnação econômica por vários anos e a queda prolongada do emprego e do salário real", diz o ministro.
Ele afirma que o custo do ajuste no Brasil foi menor do que em outros países que passaram por crises semelhantes.
Desemprego estrutural
Numa linha diferente, Dupas coloca a falta de crescimento em segundo plano como causa do desemprego. Para ele, "neste novo paradigma de mercado global, não há nenhuma garantia de que o crescimento seja suficiente para a retomada do emprego".
O novo paradigma é a economia globalizada, em que as empresas multinacionais deslocam a produção de cada item dos produtos que fabricam para o país onde os custos são menores. Esse processo trouxe consigo a busca da automação e da terceirização.
Com isso, surgiram duas tendências perversas: uma rumo a um nível permanentemente maior de desemprego e outra rumo ao crescimento do trabalho informal. "Esses fenômenos aconteceram em todos os grandes países da periferia", diz Dupas.
Nessa lógica, o elevado desemprego de hoje é decorrente "de um processo estrutural que vem a partir da abertura econômica do final da década de 80".
Isso não quer dizer que um crescimento maior não possa melhorar o quadro. "Você crescendo, o agravamento da situação é mais lento", diz Dupas. Seu tom não é nada otimista: "Hoje, infelizmente, nossas escolhas têm que ser entre o ruim e o péssimo".
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