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14/08/2003 - 20h15

Lula faz criticas à paralisação de obras no país

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da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez hoje críticas a quantidade de obras paralisadas no Brasil. Segundo ele, da forma como as obras foram pensadas, atenderam somente aos interesses econômicos de quem as projetou e não tinham nenhuma utilidade para a população.

As declarações foram dadas durante a inauguração do complexo industrial da empresa Kraft Foods do Brasil, em Curitiba.

"A quantidade de obras paralisadas no Brasil é um problema que temos que resolver com uma certa urgência, porque, no Brasil, os Planos Plurianuais sempre foram feitos como uma peça de ficção. Normalmente, os governantes contratam grandes e competentes consultorias. Essas consultorias elaboram grandes projetos de desenvolvimento nacional e regionais. E, como essas obras não têm a participação nem de Governadores, nem de Prefeitos, nem da sociedade, cada um que se elege se dá ao luxo de não dar continuidade às obras", disse.


Veja a íntegra do discurso de Lula:

"Minha querida companheira Marisa Lula da Silva,
Meu caro amigo Governador do Estado do Paraná, Roberto Requião, e sua senhora, Maristela Requião,
Minha cara Embaixadora dos Estados Unidos,
Meu companheiro Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues,
Meu caro Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, e sua senhora, Maria Furlan,
Meu companheiro Ministro Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, José Graziano,
Meu caro Natálio Stica, Vice-Presidente da Assembléia Legislativa,
Senhor Franz Josef, Vice-Presidente Mundial de Operação da Kraft,
Senhor Gustavo Abelenda, Presidente da Kraft no Brasil, e senhora Liliana Abelenda,
Meus amigos, minhas amigas,
Deputados aqui presentes,
Prefeitos,
Meu companheiro Jorge Samek, Presidente da Itaipu,
Meus caros companheiros Frei Betto e Oded Grajew, Assessores Especiais da Presidência da República,

Eu cheguei atrasado, duas horas ou um pouco mais, porque tive um compromisso, não menos importante do que este, de receber das entidades da sociedade civil um documento que retrata o pensamento da sociedade sobre o Plano Plurianual que vamos entregar ao Congresso Nacional no final de agosto.

E nesse Plano Plurianual nós estamos definindo não apenas o modelo de desenvolvimento que queremos para o Brasil nos próximos quatro anos, mas também estamos definindo as prioridades das obras de infra-estrutura, sobretudo que pretendemos executar nos próximos meses e nos próximos anos.

Ao mesmo tempo, estamos discutindo quais os empreendimentos que vamos fazer, enquanto Governo, quais os empreendimentos que vamos fazer em parceria com a iniciativa privada, quais os empreendimentos que vamos fazer com as empresas e os investidores estrangeiros, e quais os que vamos fazer entre Governo e empresas nacionais e empresas estrangeiras.

A quantidade de obras paralisadas no Brasil é um problema que temos que resolver com uma certa urgência, porque, no Brasil, os Planos Plurianuais sempre foram feitos como uma peça de ficção. Normalmente, os governantes contratam grandes e competentes consultorias. Essas consultorias elaboram grandes projetos de desenvolvimento nacional e regionais. E, como essas obras não têm a participação nem de Governadores, nem de Prefeitos, nem da sociedade, cada um que se elege se dá ao luxo de não dar continuidade às obras.

Da mesma forma, como essas obras são pensadas, muitas vezes, apenas do ponto de vista da engenharia que projetou o projeto ou, muitas vezes, de interesses eminentemente econômicos, muitas obras ficam paralisadas por conta de ações do Ministério Público ou por conta do Ministério do Meio Ambiente.

E nós, então, resolvemos fazer uma coisa diferente. Primeiro, resolvemos envolver a sociedade brasileira na construção das prioridades do Brasil, onde participaram empresários, trabalhadores e toda a sociedade organizada, Prefeitos e Governadores. E, ao mesmo tempo, nós estamos discutindo, concomitantemente, com o Ministério do Meio Ambiente e com o Ministério Público todos os problemas que poderão criar problemas nessas obras, antes de começar a executar a obra. Para que a gente possa começar e terminar essa obra sem que haja nenhuma liminar, nenhum embargo e nenhum processo quanto à obra.

E essa é uma tarefa que só pode ser feita se nós convencermos a sociedade. Aqui, no Brasil, nós temos muitas obras embargadas há, pelo menos, 18 anos. Obras embargadas há 10 anos e que, portanto, o material que já foi utilizado já está deteriorado e que, portanto, precisamos começar tudo outra vez.

E não poderia ser mais prazeroso para o Presidente da República, no dia que recebe da mão da sociedade um projeto de desenvolvimento para o Brasil, visitar uma fábrica da qualidade da Kraft.

Eu quero que a direção desta empresa saiba que não existem muitas fábricas com a qualidade sanitária, com a higiene, com a limpeza e com a cara prazerosa dos trabalhadores - e quem passeou lá dentro percebeu que os trabalhadores trabalham em condições totalmente humanizadas, muitas vezes tendo melhores condições de trabalho dentro da fábrica do que condições de moradia na cidade onde mora. Isso é um exemplo extraordinário, que nós esperamos que se repita por outras fábricas, pelo Brasil afora.

Por isso, é com satisfação que participo da inauguração do complexo industrial da Kraft. Esta é uma boa oportunidade para destacar a iniciativa de empresas que apostam no potencial de crescimento da economia brasileira. Empresas que acreditam, sobretudo, na retomada do desenvolvimento do nosso país. Empresas que acreditam na expansão do nosso mercado interno, no fortalecimento de nossas exportações e, em especial, na qualidade da mão-de-obra do trabalhador brasileiro.

A indústria de alimentos, no Brasil, cresceu, entre 99 e 2001, 15,4%. E gera 9,2% do Produto Interno Bruto brasileiro. E seus produtos contribuem com 17% das nossas exportações. Portanto, estamos falando de uma importante alavanca dinamizadora do crescimento. Uma alavanca reforçada, nos últimos três anos, por uma injeção de recursos de mais de 120 milhões de dólares em investimento feito aqui, em Curitiba, pela Kraft, e que tem gerado praticamente 4 mil empregos diretos e, até o final deste ano, possivelmente, mais de mil novos empregos.

Essa é, portanto, uma convergência de interesses, em que ganha Governo, ganha empresários e ganha toda a sociedade brasileira. Nosso país representa um mercado importante para a Kraft. Ele é responsável pelo seu principal faturamento na América Latina. Competitividade, no mundo de hoje, significa parceria, e isso muda muita coisa. Muda, porque acentua a necessária convergência de esforços e de interesses do Estado, da iniciativa privada e das forças sociais, para a construção de ambientes favoráveis ao desenvolvimento e à repartição de seus frutos.

Ou seja, um conjunto de fatores baseado na disponibilidade de infra-estrutura, na integração interna e externa e no avanço da justiça social e da cidadania.

O fundamental, portanto, é essa multiplicação de parcerias voltadas para a implantação de uma dinâmica sustentável. Essa visão do desenvolvimento --como um contrato social que se orienta pelo interesse coletivo-- é um dos eixos formuladores do nosso Plano Plurianual para 2004-2007.

Ainda neste mês estaremos enviando seu texto ao Congresso com diretrizes debatidas, aperfeiçoadas e enriquecidas ao longo de 27 Fóruns de Participação Social realizados em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal, com a participação de mais de 2.170 entidades organizadas da sociedade civil.

O desenvolvimento que nós buscamos é a expressão desse pacto de interesses em que todos os protagonistas se reconhecem como fiadores do futuro. O mesmo método nós temos aplicado no combate à fome. Prioridade social de meu governo, o programa Fome Zero se apóia num tripé de iniciativas que combinam a ação indutora do Estado, a participação social e a parceria com a sociedade.

A Kraft que já desenvolve vários projetos sociais, acaba, como vocês viram, de se tornar uma parceira detentora do selo de apoio ao Programa Fome Zero. Como ela, mais de mil outras empresas, federações empresariais, entidades locais e regionais já se credenciaram para usar a logomarca do programa.


Um grande número firmou compromissos para bancar projetos sociais estruturadores que vão se estender pelos próximos quatro anos. São projetos transformadores das realidades locais. Projetos indutores de desenvolvimento local e regional e não somente ações emergenciais.

Seja no nível local, regional ou nacional, o capital básico da sociedade --para se credenciar a um futuro melhor-- depende dessa capacidade de articular espaços, recursos, investimentos e justiça social. Trata-se, no caso do nosso país, de uma busca corajosa de mudança. E essa não é uma trajetória solitária.

O desenvolvimento só será desenvolvimento, de fato, se for a expressão política de um desejo coletivo de prosperidade, expresso na construção de sólidos consensos sociais. Esse, meus amigos diretores da Kraft, é o Brasil que todos nós desejamos e que, certamente, iremos construir.
Muito obrigado."
 

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