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15/09/2003 - 20h00

Polícia identifica suspeitos pelos assassinatos de sem-terra no PA

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MAURÍCIO SIMIONATO
Free-lance para a Agência Folha, em Belém

A Polícia Civil do Pará afirmou hoje ter identificado cinco suspeitos pelos assassinatos de sete trabalhadores rurais e do fazendeiro Antonio Vieira da Silva.

Eles foram mortos com tiros na cabeça em uma emboscada no meio da mata na Fazenda Primavera, a 180 km de São Félix do Xingu, no sul do Pará. O crime aconteceu na sexta-feira à tarde, mas só no sábado a Polícia Militar conseguiu chegar ao local, uma área de difícil acesso.

Os corpos foram resgatados e seriam transportados ontem à noite, em uma avião da FAB (Força Aérea Brasileira), para identificação no IML (Instituto Médico Legal) de Belém.

Três dos acusados, conhecidos como Sansão, Bedé e Fininho, já tiveram os retratos falados feitos pela polícia com base no depoimento de uma testemunha que está sob proteção da Polícia Militar. Os outros dois identificados não tiveram nomes ou apelidos divulgados.

Segundo a polícia, uma testemunha avistou os crimes escondida na mata, e um outro trabalhador rural do grupo escapou da morte porque teria saído para buscar sementes na mata, mas não chegou a ver o assassinato. Os dois fugiram em uma moto para São Félix do Xingu.

Cerca de 300 policias que cumpriam reintegrações de posse na região foram deslocados para encontrar os assassinos, entre eles cinco delegados de dez investigadores.

Os trabalhadores mortos faziam a derrubada da mata para a formação de pastagens.

Segundo o delegado-geral da Polícia Civil do Pará, Luís Fernandes da Rocha, "tudo indica que a causa dos assassinatos seja a disputa por terras". "Já temos cinco suspeitos identificados, e as prisões podem ocorrer a qualquer momento", disse ontem à tarde.

Entre os mortos está o fazendeiro e comerciante de São Félix do Xingu Antonio Vieira da Silva, que havia comprado a área de 600 alqueires (1.632 ha), supostamente grilada, há cerca de dois meses.

Parte da área comprada ficaria dentro da Fazenda Primavera, que tem cerca de 10 mil alqueires e pertenceria ao fazendeiro Tadeu Bittar, de Belém. Ele não foi localizado ontem.

"Há duas semanas, um grupo de seguranças armados já havia alertado para que eles [trabalhadores rurais] deixassem a área. Senão, morreriam. E foi o que aconteceu. Na verdade estamos todos encurralados", disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Félix, Luís Pereira de Carvalho.

Segundo a PM, pelo menos dois dos corpos teriam apresentado marcas de bala na parte de trás da cabeça, o que indica que eles foram mortos quando estavam deitado no chão. Os assassinos estariam escondidos na mata, segundo a polícia.

O coordenador da CPT (Comissão Pastoral da Terra, ligada à Igreja Católica) na região de São Félix do Xingu, o frade dominicano João Raguenes, culpou o Estado pela série de mortes no campo. "A polícia é ineficiente e muitas vezes corrupta. Alguns policiais andam junto com pistoleiros. O que vale aqui é a lei do revólver e do dinheiro", afirmou.

Segundo a CPT, 30 trabalhadores rurais foram mortos neste ano no Pará por causa da disputa de terras griladas, incluindo os oito mortos na sexta, contra 16 no mesmo período do ano passado. "Se o governo do Estado continuar ausente na região, as mortes continuarão", disse um dos coordenadores estaduais da CPT, João Batista Araújo.

Para o delegado-geral do Pará, Luís Fernandes da Rocha, não há ausência do Estado na região. Rocha cobrou mais agilidade na reforma agrária na região. "As áreas naquela região, também conhecida como Terra do Meio, são muito grandes e de difícil acesso. Mas existe o problema da lentidão por parte do governo federal na reforma agrária". A Terra do Meio fica entre os rios Xingu e Iriri.
 

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