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23/09/2003
-
07h34
da Folha de S.Paulo
Foi exumado ontem em São Paulo o corpo da mulher do guerrilheiro Carlos Lamarca, Iara Iavelberg, que morreu em 20 de agosto de 1971, após a polícia invadir o apartamento em que ela morava, em Salvador (BA).
A versão do regime militar para a morte de Iara é a de que ela teria cometido suicídio. O irmão da guerrilheira, Samuel Iavelberg, afirma que a família pediu a exumação para tentar provar, após perícia, que ela, na verdade, teria sido morta pela polícia. Ele disse que a família não pretende pedir indenização ao Estado caso essa versão seja comprovada.
Além disso, diz Samuel, a família quer, caso seja provado que Iara não cometeu suicídio, mudar a forma como ela está enterrada.
Seguindo a tradição judaica, por ter supostamente se suicidado, a guerrilheira foi sepultada "com desonras", em terreno não-consagrado e "de costas" para o restante do Cemitério Israelita do Butantã --ou seja, com os pés, em vez da cabeça, próximos à lápide.
A exumação foi determinada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo no dia 4 de novembro de 2002, a partir de recurso da família, após a Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo conseguir, em primeira instância, impedir que o corpo fosse desenterrado para a perícia.
Segundo Abrão Bernardo, assessor da presidência da entidade, exumá-la vai contra a religião judaica, por ser, ele diz, "uma violação do corpo, que é sagrado".
Paralisação
Na semana passada, o juiz Alexandre Alves Lazzarini, da 16ª Vara Cível de São Paulo, cumprindo a decisão do Tribunal de Justiça, determinou que a exumação fosse realizada. Segundo o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), advogado da família no processo, o IML (Instituto Médico Legal) marcou para ontem a data da exumação.
Ao meio-dia de ontem, porém, o juiz mandou suspender o procedimento, aceitando argumentação dos advogados do cemitério. "Não fomos notificados e não tivemos condição de nos preparar", disse Bernardo.
Segundo Greenhalgh e Samuel, também teria sido argumentado incorretamente que se tratava de um feriado religioso para os judeus, o que impossibilitaria trabalhos no cemitério.
Greenhalgh recorreu ao juiz e conseguiu um acordo com a Sociedade Cemitério Israelita para que a exumação prosseguisse sem a presença da imprensa, o que, ainda segundo Greenhalgh, teria sido exigido porque representaria uma "profanação do túmulo".
O irmão de Iara conta que a família briga na Justiça, em outros processos, há 13 anos para conseguir exumar o seu corpo. Segundo ele, o enterro foi uma "operação militar", em que o caixão chegou lacrado ao cemitério, e que não foi permitido que as cerimônias tradicionais, como a lavagem do corpo, fossem realizadas.
Abrão Bernardo afirma que a entidade aceitou a versão oficial de suicídio porque "o óbito veio dessa forma".
Samuel diz que a Sociedade Cemitério Israelita é uma "entidade ultraconservadora e com tendências direitistas". "É uma questão política, no fundo. Eles não querem que se afronte a versão militar", afirmou.
"Não tínhamos como agir de forma diferente naquela época", disse Bernardo sobre as declarações de Samuel, negando qualquer motivação política.
Após ser exumado, o corpo foi levado para a faculdade de medicina da USP, onde será analisado.
Corpo da mulher de Lamarca é exumado
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Foi exumado ontem em São Paulo o corpo da mulher do guerrilheiro Carlos Lamarca, Iara Iavelberg, que morreu em 20 de agosto de 1971, após a polícia invadir o apartamento em que ela morava, em Salvador (BA).
A versão do regime militar para a morte de Iara é a de que ela teria cometido suicídio. O irmão da guerrilheira, Samuel Iavelberg, afirma que a família pediu a exumação para tentar provar, após perícia, que ela, na verdade, teria sido morta pela polícia. Ele disse que a família não pretende pedir indenização ao Estado caso essa versão seja comprovada.
Além disso, diz Samuel, a família quer, caso seja provado que Iara não cometeu suicídio, mudar a forma como ela está enterrada.
Seguindo a tradição judaica, por ter supostamente se suicidado, a guerrilheira foi sepultada "com desonras", em terreno não-consagrado e "de costas" para o restante do Cemitério Israelita do Butantã --ou seja, com os pés, em vez da cabeça, próximos à lápide.
A exumação foi determinada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo no dia 4 de novembro de 2002, a partir de recurso da família, após a Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo conseguir, em primeira instância, impedir que o corpo fosse desenterrado para a perícia.
Segundo Abrão Bernardo, assessor da presidência da entidade, exumá-la vai contra a religião judaica, por ser, ele diz, "uma violação do corpo, que é sagrado".
Paralisação
Na semana passada, o juiz Alexandre Alves Lazzarini, da 16ª Vara Cível de São Paulo, cumprindo a decisão do Tribunal de Justiça, determinou que a exumação fosse realizada. Segundo o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), advogado da família no processo, o IML (Instituto Médico Legal) marcou para ontem a data da exumação.
Ao meio-dia de ontem, porém, o juiz mandou suspender o procedimento, aceitando argumentação dos advogados do cemitério. "Não fomos notificados e não tivemos condição de nos preparar", disse Bernardo.
Segundo Greenhalgh e Samuel, também teria sido argumentado incorretamente que se tratava de um feriado religioso para os judeus, o que impossibilitaria trabalhos no cemitério.
Greenhalgh recorreu ao juiz e conseguiu um acordo com a Sociedade Cemitério Israelita para que a exumação prosseguisse sem a presença da imprensa, o que, ainda segundo Greenhalgh, teria sido exigido porque representaria uma "profanação do túmulo".
O irmão de Iara conta que a família briga na Justiça, em outros processos, há 13 anos para conseguir exumar o seu corpo. Segundo ele, o enterro foi uma "operação militar", em que o caixão chegou lacrado ao cemitério, e que não foi permitido que as cerimônias tradicionais, como a lavagem do corpo, fossem realizadas.
Abrão Bernardo afirma que a entidade aceitou a versão oficial de suicídio porque "o óbito veio dessa forma".
Samuel diz que a Sociedade Cemitério Israelita é uma "entidade ultraconservadora e com tendências direitistas". "É uma questão política, no fundo. Eles não querem que se afronte a versão militar", afirmou.
"Não tínhamos como agir de forma diferente naquela época", disse Bernardo sobre as declarações de Samuel, negando qualquer motivação política.
Após ser exumado, o corpo foi levado para a faculdade de medicina da USP, onde será analisado.
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