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26/09/2003 - 09h11

Não vou palpitar na política de Cuba, diz Lula

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PLÍNIO FRAGA
enviado especial da Folha de S.Paulo ao México

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou as pressões internacionais para que interceda pela liberdade de presos políticos em Cuba no encontro que terá hoje com o ditador Fidel Castro.

"Não é boa política um chefe de Estado se meter em assuntos internos de outro país. Vou tratar dos interesses do Brasil. Não vou dar palpite em política interna de outro país", afirmou Lula ontem, no México.

A ONG internacional Repórteres Sem Fronteiras divulgou nesta semana uma carta aberta em que pede ao presidente Lula que ajude na libertação de 30 jornalistas presos na ilha supostamente por motivações políticas.

O presidente brasileiro foi interpelado várias vezes por jornalistas estrangeiros sobre sua posição a respeito de Cuba. Ele respondeu:
"O que penso sobre Cuba está dito, escrito e publicado. O que penso sobre Cuba vai do direito de autodeterminação do povo cubano às discordâncias ao longo de todos estes anos que tenho demonstrado. Basta ver, por exemplo, a diferença de organização entre o PT e o Partido Comunista cubano. Ou, por exemplo, a estrutura sindical que sempre defendi e aquela existente em Cuba".

Será a primeira visita de Lula a Cuba na condição de presidente. Ele é amigo do ditador Fidel Castro desde 1980, quando se conheceram em Manágua (Nicarágua), na comemoração do primeiro aniversário da revolução sandinista. Em 1995, Fidel foi à casa de Lula em São Bernardo do Campo.

Lula afirmou que pretende discutir com Cuba a realização de acordos comerciais. Ao novamente ser questionado se não teria um papel humanitário a desempenhar na questão cubana, Lula respondeu, rindo:
"Tenho tantos problemas na minha terrinha, que, se eu resolver parte deles, já terei prestado um grande papel à humanidade."

O presidente brasileiro afirmou que começa hoje sua primeira visita oficial a Cuba independentemente dos atos com que concorde ou não de Fidel Castro.

Mas fez uma condenação do bloqueio comercial à ilha determinado pelos Estados Unidos.

"Os cubanos não tiveram a oportunidade de realizar muitas coisas que outros países puderam fazer por causa dele", disse Lula.

Ele se reuniu por duas horas com o presidente mexicano, Vicente Fox, na residência oficial.

Motivos sentimentais

Lula chega hoje a Cuba para uma visita de 26 horas que combina motivos sentimentais, políticos e econômicos. A comitiva de Lula, basicamente a mesma das viagens a Nova York e ao México, é composta por oito ministros, dois parlamentares e o governador do Estado do Amazonas, Eduardo Braga (PPS).

O ministro da Casa Civil, José Dirceu, que se exilou em Cuba durante o regime militar e diz ter ligação afetiva com o país, chegou ontem a Havana e foi recebido no aeroporto pelo embaixador brasileiro, Tilden Santiago --entusiasta do regime cubano. Apesar de não integrar a comitiva, pelo menos um membro do governo petista vai se juntar à equipe brasileira --o assessor especial da Presidência Frei Betto, amigo de Fidel, que chegou antes para proferir uma palestra numa universidade.

Segundo um diplomata brasileiro que participou da organização da viagem, o governo está convicto de que Fidel não vai criar nenhuma situação de constrangimento para Lula nem procurar tirar proveito político da visita.

A agenda de Lula, que começa às 12h e se encerra às 14h de amanhã --mais que o dobro da do México--, prevê uma única aparição pública, a oferenda de flores no túmulo do herói nacional José Martí, na praça da Revolução.

Está sendo esperado um público pequeno, porque o evento não está sendo alvo de divulgação.

Segundo a Embaixada do Brasil em Havana, em nenhum momento o governo cubano manifestou a intenção de promover um evento de massa para explorar a visita de Lula. Segundo o diplomata brasileiro, essa informação foi difundida por pessoas interessadas no fracasso da visita.

A agenda da viagem não prevê discursos de nenhum dos presidentes.
Grupos defensores de direitos civis pediram audiência a Lula, mas até ontem à noite ainda não havia sido definido quem os receberia. Estava certo que não seria o presidente. Lula terá dois encontros privados com Fidel.
 

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