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18/10/2003
-
07h34
EDUARDO SCOLESE
da Agência Folha, em Oxford (Reino Unido)
Dois focos dominaram as discussões da conferência realizada ontem no Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, no Reino Unido: a impunidade de que gozam os responsáveis pelos assassinatos de trabalhadores rurais no Brasil e o processo de favelização dos assentamentos da reforma agrária.
O encontro reuniu professores de diversos países com estudos sobre a reforma agrária brasileira e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Além de acadêmicos do Brasil e do Reino Unido, havia representantes dos EUA, do México, da França e da Bélgica.
A prova de fogo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem hoje em relação ao lançamento ou não de um novo PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária), os limites governamentais em torno da desapropriação de terras devido ao acordo com o FMI e o histórico do MST dominaram as perguntas de cerca de 50 pessoas, a maioria estudantes, que acompanharam a conferência.
"É um governo limitado tanto pelos interesses nacionais e internacionais, pois a sua política econômica está definida sem possibilidade de variação. O acordo com o FMI é um caso. As lutas vão ser iguais ao governo Cardoso [Fernando Henrique, 1995-2002]", disse o professor de ciências políticas Joe Foweraker, da Universidade de Essex.
Miguel Carter, coordenador do evento e doutor em ciência política pela Universidade de Columbia (EUA), a respeito da origem do MST, disse que Lula tem no PNRA uma prova aguardada pelos movimentos sociais. "A aprovação desse plano é a chave para definir o perfil do governo. O Brasil tem uma dívida histórica para fazer a reforma agrária e tem uma desigualdade imensa."
Do Brasil, participaram do evento o geógrafo Bernardo Mançano Fernandes (Unesp), o engenheiro agrônomo Horácio Martins de Carvalho, Hamilton Pereira (Fundação Perseu Abramo), Guilherme Delgado (Ipea) e o advogado Carlos Guedes Amaral, da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Wendy Wolford, do departamento de geografia da Universidade da Carolina do Norte (EUA), apresentou um trabalho que realizou durante visita a assentamentos da Zona da Mata, no Nordeste, principalmente em Pernambuco:
"Em contato com os assentados percebe-se que a primeira intenção deles, quando conseguiram a terra, era uma espécie de estabilidade social", declarou ela.
Segundo Wolford, as questões da terra e da produção agrícola estão em segundo plano. "A conquista da terra é uma vitória social para eles. Trata-se de uma resistência política. Depois, passam a uma vida que consideram melhor, mas em condições muito precárias, com problemas de água e energia elétrica."
Sobre favelização dos assentamentos rurais falou a antropóloga espanhola Elena Calvo González, da Universidade de Edinburgh.
"Quando há os problemas de falta de infra-estrutura, a dificuldade de produzir, entre outros, acontece o seguinte: o assentado culpa o líder do assentamento, que culpa o representante do MST. Todos juntos, porém, culpam o governo pelo fracasso do assentamento", disse.
Impunidade
O sociólogo George Meszaros, da Universidade de Warwick, disse que a impunidade no país em relação aos crimes no campo chega ao Reino Unido como "escandaloso". Para ele, a falta de punição "é absolutamente intolerável e repercute negativamente".
Sobre o futuro da reforma agrária brasileira, as respostas dos pesquisadores do país foram, em geral, pessimistas. Para Bernardo Mançano Fernandes, professor de geografia da Unesp, os indicadores não são positivos.
Na Inglaterra, estudiosos criticam impunidade em mortes no campo
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da Agência Folha, em Oxford (Reino Unido)
Dois focos dominaram as discussões da conferência realizada ontem no Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, no Reino Unido: a impunidade de que gozam os responsáveis pelos assassinatos de trabalhadores rurais no Brasil e o processo de favelização dos assentamentos da reforma agrária.
O encontro reuniu professores de diversos países com estudos sobre a reforma agrária brasileira e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Além de acadêmicos do Brasil e do Reino Unido, havia representantes dos EUA, do México, da França e da Bélgica.
A prova de fogo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem hoje em relação ao lançamento ou não de um novo PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária), os limites governamentais em torno da desapropriação de terras devido ao acordo com o FMI e o histórico do MST dominaram as perguntas de cerca de 50 pessoas, a maioria estudantes, que acompanharam a conferência.
"É um governo limitado tanto pelos interesses nacionais e internacionais, pois a sua política econômica está definida sem possibilidade de variação. O acordo com o FMI é um caso. As lutas vão ser iguais ao governo Cardoso [Fernando Henrique, 1995-2002]", disse o professor de ciências políticas Joe Foweraker, da Universidade de Essex.
Miguel Carter, coordenador do evento e doutor em ciência política pela Universidade de Columbia (EUA), a respeito da origem do MST, disse que Lula tem no PNRA uma prova aguardada pelos movimentos sociais. "A aprovação desse plano é a chave para definir o perfil do governo. O Brasil tem uma dívida histórica para fazer a reforma agrária e tem uma desigualdade imensa."
Do Brasil, participaram do evento o geógrafo Bernardo Mançano Fernandes (Unesp), o engenheiro agrônomo Horácio Martins de Carvalho, Hamilton Pereira (Fundação Perseu Abramo), Guilherme Delgado (Ipea) e o advogado Carlos Guedes Amaral, da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Wendy Wolford, do departamento de geografia da Universidade da Carolina do Norte (EUA), apresentou um trabalho que realizou durante visita a assentamentos da Zona da Mata, no Nordeste, principalmente em Pernambuco:
"Em contato com os assentados percebe-se que a primeira intenção deles, quando conseguiram a terra, era uma espécie de estabilidade social", declarou ela.
Segundo Wolford, as questões da terra e da produção agrícola estão em segundo plano. "A conquista da terra é uma vitória social para eles. Trata-se de uma resistência política. Depois, passam a uma vida que consideram melhor, mas em condições muito precárias, com problemas de água e energia elétrica."
Sobre favelização dos assentamentos rurais falou a antropóloga espanhola Elena Calvo González, da Universidade de Edinburgh.
"Quando há os problemas de falta de infra-estrutura, a dificuldade de produzir, entre outros, acontece o seguinte: o assentado culpa o líder do assentamento, que culpa o representante do MST. Todos juntos, porém, culpam o governo pelo fracasso do assentamento", disse.
Impunidade
O sociólogo George Meszaros, da Universidade de Warwick, disse que a impunidade no país em relação aos crimes no campo chega ao Reino Unido como "escandaloso". Para ele, a falta de punição "é absolutamente intolerável e repercute negativamente".
Sobre o futuro da reforma agrária brasileira, as respostas dos pesquisadores do país foram, em geral, pessimistas. Para Bernardo Mançano Fernandes, professor de geografia da Unesp, os indicadores não são positivos.
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