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30/10/2003 - 15h46

Veja a íntegra do discurso de Lula na Paraíba

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da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou hoje, em discurso na cidade paraibana de Campina Grande, seus antecessores no cargo e atribuiu a culpa pela fome causada pela seca à "falta de vergonha" dos governantes.

Ao longo do pronunciamento, também falaram os ministros Ciro Gomes (Integração Nacional), José Graziano (Segurança Alimentar), Jacques Wagner (Trabalho) e Olívio Dutra (Cidades).

Veja abaixo a íntegra do pronunciamento:

"Eu, durante muitos anos na minha vida, disse que Deus tinha sido muito generoso comigo. Porque um nordestino que não morre até completar cinco anos de idade, de fome, e consegue sobreviver, a tendência natural é ele se transformar numa pessoa forte, sadia e, quem sabe, conquistar alguma coisa na vida. E eu acho que Deus foi justo e generoso, porque não estava previsto nas escritas de alguns poucos intelectuais brasileiros, ou de alguns poucos políticos, que um metalúrgico, pernambucano, pudesse chegar à Presidência da República, da oitava economia mundial do planeta Terra.

E cheguei à Presidência da República para fazer as coisas que precisavam ser feitas neste país e que muitos presidentes, antes de mim, foram covardes e não tiveram coragem de fazer o que precisa ser feito. Transformei-me no sindicalista mais importante deste país, sem ter medo de cara feia, de direita ou de esquerda. Me transformei e criei um partido que, em apenas 20 anos, se transformou no mais importante partido político da esquerda deste país.

E havia muita gente que não queria que eu criasse um partido político. Pois bem, o partido está criado, o sindicalismo hoje é forte, e graças a vocês aqui da Paraíba, pelo menos da grande maioria, eu estou presidente da República por quatro anos.

Aprovamos a reforma da Previdência Social. E aprovamos porque era preciso aprovar. Aprovamos porque previdência é direito e não privilégio de uns poucos que tem acesso a ela. Queremos previdência para todas as pessoas.

Da mesma forma que vamos aprovar a reforma tributária no Senado. Vai ter gente que não vai gostar, mas eu deito todo dia com a cabeça tranqüila, sabendo que a reforma tributária é para desonerar a produção, desonerar as exportações e fazer com que quem ganha mais pague mais, e quem ganha menos pague menos. É fazer justiça e distribuição de renda.

E sabe, meu caro governador Cássio Cunha Lima, sabem meus companheiros deputados e sabe o povo da Paraíba, que se um pernambucano de Garanhuns tivesse medo de cara feia, não sairia sequer da barriga da sua mãe.

Eu estou presidente da República para fazer as grandes e as profundas reformas que este país precisa. Vamos fazer a reforma agrária, vamos fazer a reforma da legislação trabalhista, vamos fazer a reforma na estrutura sindical brasileira e faremos tantas quantas reformas forem necessárias neste país, porque este país precisa recuperar a auto-estima, este país não pode ser de 35 milhões, este país tem que ser 176 milhões de almas que habitam no nosso planeta.

Da mesma forma que universidade não pode ser privilégio de uma parcela muito pequena da população, é preciso garantir ao pobre, poder chegar a uma universidade e se transformar em doutor neste país. Eu estou convencido de que vamos fazer isso. Eu queria lembrar aos deputados e ao governador, que conviveu comigo esse período e sabe perfeitamente bem qual era a desesperança deste país a apenas dez meses atrás.

Muita gente torcia para que as coisas não dessem certo, e nós com muita tranqüilidade, assumimos o governo dizendo: nós vamos fazer primeiro o que é possível, depois vamos fazer o que é necessário e depois vamos fazer o impossível. E eu não tenho dúvida de que vamos fazer tudo aquilo que prometemos durante tantos anos que fizemos política neste país.

Eu queria começar Cássio, dizendo o seguinte, a inauguração deste aeroporto aqui é apenas uma parte dos R$ 4,5 bilhões que a Infraero vai gastar nos próximos cinco anos com os aeroportos brasileiros. Porque se queremos escoar a nossa produção e queremos trazer turistas para as cidades brasileiras, é preciso que tenhamos boas estradas, é preciso que tenhamos bons aeroportos.

Não é possível uma cidade da importância econômica de Campina Grande ter um aeroporto pequeno e acanhado que não mexia com a auto-estima do povo da Paraíba. Mas vamos fazer mais. Quem andar pelo Brasil vai perceber nos principais aeroportos brasileiros --todos estão passando por reformas profundas. E vamos fazer aquilo que era necessário porque quando nós criamos o Ministério do Turismo, não foi para dar emprego para o meu amigo Walfrido Mares Guia, foi porque era preciso para este país a dimensão turística que a natureza nos deu.

Não é possível que o Uruguai ou Israel, países pequenos geograficamente, recebam anualmente mais turistas que a imensidão do território nacional. Não basta a gente querer que as pessoas venham para cá, é preciso criar condições para as pessoas virem e se sentirem bem. E Deus fez duas coisas com o Brasil, deu uma beleza da natureza incomparável a qualquer país do mundo, deu um povo maravilhoso, ordeiro e generoso, mas lamentavelmente, durante muitos anos, as pessoas que dirigem o país não tiveram a dimensão da importância do que o turismo representava para o nosso querido país.

Quero dizer que não vai ficar apenas no aeroporto não, eu queria chamar o ministro da Ciência e Tecnologia aqui, para que ele pudesse dizer aos companheiros de Campina Grande, ao governador, à nossa querida prefeita Cozete, a decisão que nós tomamos, porque vamos fazer uma coisa aqui em Campina Grande, porque Campina Grande é uma cidade que tem uma estrutura universitária muito boa, porque tem um aeroporto muito bom, porque é uma cidade de peso econômico importante e tem a base intelectual para que possamos dar o passo que vamos dar agora. E eu queria que o ministro da Ciência e Tecnologia anunciasse para o governador, para a prefeita e para o povo de Campina Grande, qual é a novidade para Campina Grande."

Ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral:

"Senhor governador,
Senhora prefeita,
Povo de Campina Grande,

Agradeço a oportunidade que o presidente me deu, de anunciar, certamente, a mais importante decisão que o Ministério da Ciência e Tecnologia pôde adotar até aqui.

O presidente da República determinou a criação, a instalação do Instituto Nacional do Semi-árido de Campina Grande.

Com este ato, o presidente da República dá início à redenção de uma região na qual habitam 22 milhões de brasileiros, que se estende do norte de Minas até o leste do Maranhão. São 900 mil quilômetros quadrados.

Sua finalidade é fixar o homem na terra, fazer com que ele conviva com a natureza e que a domine. Toda a natureza a serviço da igualdade social e do desenvolvimento.

Esse Instituto vai reunir toda a sabedoria, todo o conhecimento reunidos no Nordeste, em torno do semi-árido. Vai reunir todos os institutos públicos e privados, vai construir uma rede das universidades e vai servir de ponto de referência para decisões do governo da República.

Presidente, obrigado por ter me dado a oportunidade desse anúncio."

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

"Mais ainda, meu companheiro Cássio Cunha Lima e minha prefeita Cozete, meus caros senadores Maranhão e Suassuna, meu querido Ronaldo.

Eu já fui vaiado no estado da Paraíba, quando me recusava a defender a transposição das águas do rio São Francisco, em 1994. Eu lembro que, uma vez, na cidade de Souza, fizeram manifestações contra mim, porque eu não aceitava a idéia de que a gente pudesse discutir a transposição das águas, sem discutir antes a recuperação do rio São Francisco. Eu achava que não era possível discutir a transposição das águas sem recuperar as matas ciliares do São Francisco. Eu me recusava a discutir a transposição das águas sem antes discutir nas terras de quem essa água iria passar e qual era a utilidade que a gente daria para essa água; se iríamos ou não fazer reforma agrária.

E todo mundo sabe que, desde 1847, D. Pedro já pensava em trazer água para o semi-árido nordestino. Por isso eu queria agora, quebrando todos os protolocos que os cerimoniais arrumaram aqui, chamar o companheiro Ciro Gomes, que é o ministro da Integração Nacional para, em rápidas palavras, dizer para vocês o que nós vamos fazer para acabar com essa história de culpar a seca pela desgraça do Nordeste. A seca é um fenômeno da Natureza. A fome causada por ela, na verdade, é falta de vergonha dos homens que deveriam ter a responsabilidade de acabar com esse mal. Portanto, eu queria que o companheiro Ciro Gomes dissesse qual é a nossa intenção com a questão das águas aqui, para essa parte do Nordeste brasileiro."

Ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes:

"Obrigado, presidente.

O presidente Lula criou uma comissão coordenada pelo vice-presidente da República, José Alencar, e da qual fazem parte um punhado de ministros, entre eles eu e a ministra Marina, do Meio Ambiente, para negociar todas as dificuldades que havia a impedir que a água do São Francisco, reforçado pela revitalização, pela água do rio Tocantins, chegasse ao sertão do Nordeste semi-árido.

Esse trabalho está pronto e graças à coragem do presidente, à determinação do presidente Lula, o projeto do canal de transposição, chamado eixo leste, que vem em Campina Grande, e o eixo norte --que vai matar a sede do Ceará e do Rio Grande do Norte-- estão prontos para ser licenciados pelo Ibama e entrar em licitação."

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

"Eu demorei nove meses para vir aqui, mas agora quero anunciar algumas coisas importantes.

Eu quero chamar agora o companheiro Olívio Dutra, nosso ministro das Cidades. Companheiro como eu, sindicalista, ex-governador do Rio Grande do Sul, para falar da idéia da liberação de verbas da Caixa Econômica para o estado da Paraíba."

Ministro das Cidades, Olívio Dutra:

"Muito obrigado, presidente e companheiro Lula, para que anunciemos aqui uma decisão do seu governo, do nosso governo, o governo que o senhor preside na área do saneamento básico. Obrigado por esta oportunidade.

São 130 milhões de reais, que o governo federal, presidido pelo companheiro Lula, através do ministério das Cidades --que gere recursos do FGTS, que são operados pela Caixa Econômica Federal-- está já liberando um pleito do governo do estado da Paraíba, para que aqui execute 130 milhões de reais, em diversos municípios, em obras de saneamento básico, produção de água e esgotamento sanitário.

Muito obrigado, presidente."

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

"Foi feito um convênio entre o ministério da Justiça e o governo da Paraíba no valor de R$ 5,5 milhões. Este dinheiro vem do Fundo Nacional de Segurança Pública, dentro do programa da criação e desenvolvimento do Sistema Unificado de Segurança Pública.

Enquanto o Graziano vem, eu queria dizer para vocês, que lamentavelmente na vida política, e na vida, tem gente mais apressada, e gente mais tranqüila. Tem muita gente que não se deu conta ainda de que nós estamos apenas há 9 meses no governo, tem muita gente que não se deu conta que nove meses é o tempo de gestação de uma criança e que, portanto, essa criança acaba de nascer. Essa criança vai pegar o sol do Nordeste, o frio do Sudeste, a temperatura média do Centro Oeste, e essa criança, no final de um mandato de quatro anos, vai provar que o Brasil poderia ser mudado há muito mais tempo se nós tivéssemos tido coragem em outros momentos políticos, ou, quem sabe, consciência.

Mas nós sabemos o problema da seca no Nordeste e eu queria trazer aqui o companheiro Graziano, o nosso ministro responsável pela política de segurança alimentar e combate à fome, para falar do atendimento às cidades que foram declaradas em estado de emergência, para falar do programa do leite."

Ministro da Segurança Alimentar, José Graziano:

"Bom dia a todos e todas. Nosso programa do leite vai apoiar a expansão do programa do leite do governador Cássio Cunha Lima. Nós estamos passando de 20 mil para 120 mil litros por dia, comprados nessa região.

São dois detalhes importantes, estamos apoiando a compra de leite de vaca, vamos criar duas mini-usinas para adquirir 10 mil litros de leite de cabra nessa região, para incentivar o consumo de leite de cabra.

Estamos implantando 6 novas mini usinas para coleta de leite de vaca. Além do programa do leite, nós estamos fazendo um programa de atendimento emergencial nos 45 municípios da Paraíba que estão em situação de calamidade pública ou emergência.

Todos esses municípios estão recebendo carros-pipa monitorados pelo Exército através de aparelhos de GPS, que permitem identificar a rota desses carros-pipa.

Em cada lugar que o carro-pipa pára ele emite um sinal que nós registramos num mapa, e nesse lugar vai ser construído ou um poço ou uma cisterna para que no ano que vem nós não tenhamos que ter a mesma privação que essa população sofreu este ano.

Todos os municípios da Paraíba já estão sendo atendidos por este programa. Além disso, estamos cadastrando, também, todos os agricultores destes municípios que, por alguma razão, não puderam ser atendidos pelo programa do seguro-safra. É para fazer um atendimento emergencial através do programa cartão alimentação, durante os 6 próximos meses, para que estes agricultores não passem necessidade e possam, no ano que vem, voltar a produzir e fazer o seguro garantia de safra. É isso."

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

"Eu não sei se vocês viram a novidade, o carro-pipa, aos poucos está deixando de ser uma indústria. O ministro Ciro Gomes é quem faz a avaliação, depois que é chamado a ir servir, se a cidade está vivendo calamidade ou não. Quem controla os carros-pipas agora é o Exército. E os caminhões-pipas vão à cidade com um aparelhinho chamado GPS. Quando chega na casa, é acionado aquele aparelhinho, tem um código. Esse código é mapeado no Ministério e depois nós vamos mandar, ou construir, recuperar cacimba, ou fazer a cisterna, ou ver se é possível fazer um poço para que as pessoas tenham mais liberdade.

Nós sabemos que, lamentavelmente, no meu querido Nordeste, ainda tem gente que é tratada como escravo durante a vida inteira, porque precisa de um caminhão pipa de água, na época na seca. E isso vai acabar. Nós queremos que as pessoas tenham liberdade.

Mas está aqui comigo também um baiano, companheiro também, sindicalista do setor petroquímico, ministro do Trabalho, o companheiro Jaques Wagner, que vai falar um pouquinho da idéia do Primeiro Emprego, que acaba de ser aprovado por unanimidade na Câmara, por unanimidade no Senado; e agora vamos ter que começar a executar a questão do primeiro emprego."

Ministro do Trabalho, Jaques Wagner:

"Bom dia a todos e a todas.

Eu quero cumprimentar o governador, a prefeita, senadores, deputados estaduais, federais, ao Ariano Suassuna e agradecer ao presidente essa oportunidade de, aqui, em Campina Grande, falar de um dos programas que eu sei que está no coração do presidente Lula, que é o Programa Primeiro Emprego para a juventude.

Como o presidente falou, ele já foi aprovado e já começou a sua operação. Nós acreditamos que, daqui até o final do ano, ele já deva ter chegado em todas as capitais e às grandes cidades como Campina Grande.

Eu sei que o drama maior da nossa juventude, além do estudo, é a oportunidade do primeiro emprego. E o Programa Primeiro Emprego faz uma parceria entre o governo federal, o governo estadual, as prefeituras e, principalmente, e aqui eu quero deixar o meu apelo a todos os empresários presentes, o programa do primeiro emprego só funcionará se os empresários aderirem ao programa. Há uma contrapartida que o governo federal vai dar para cada empresa que abrir uma primeira oportunidade para um jovem ou uma jovem entre 16 e 24 anos, das famílias mais carentes, para que esse jovem já possa se incluir no mundo do trabalho.

Então, presidente, eu posso garantir que, com o seu apoio e com o dinheiro já previsto no nosso orçamento, eu posso garantir à juventude de Campina Grande e da Paraíba que, em breve, nós já estaremos com o Primeiro Emprego aqui também, dando - repito - a primeira oportunidade a vocês.

Muito obrigado e parabéns a todos."

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

"E, por último, queria comunicar ao companheiro governador, aos prefeitos aqui, que o governo federal está liberando 300 mil reais para projeto do Prodetur Nordeste, para o desenvolvimento do turismo aqui nessa região.

Mas eu queria apenas pedir a esse povo extraordinário que, ao longo da minha vida política, tem tido uma fidelidade, um carinho excepcional.
Podem ter certeza de uma coisa, gente, eu perdi três eleições. Eu tenho de cór, na cabeça, cada coisa que eu assumi em praça pública com esse povo. E podem ficar certos que, nesses quatro anos, não haverá sol, não haverá chuva, não haverá cara feia, não haverá nada que impeça a gente fazer pelo Brasil e pelo povo brasileiro, aquilo que o Brasil e que o povo brasileiro merecem, que é: dar dignidade ao povo pobre desse país, recuperar a auto-estima da sociedade brasileira. E recuperar, sobretudo, o orgulho de podermos dizer nos quatro cantos deste país: somos nordestinos, com muito orgulho!

Muito obrigado, gente."
 

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