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02/11/2003
-
08h00
RICARDO WESTIN
da Folha de S.Paulo
O cofre administrado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) recebe doações vindas do exterior que, a cada ano, somam o equivalente a pelo menos R$ 752 mil.
O MST mantém suas fontes de renda em segredo, mas um levantamento feito pela Folha mostra que no mínimo oito ONGs e agências de cooperação internacional ajudam a financiar o principal movimento social do país.
Entre elas, estão a alemã Caritas (doa o equivalente a R$ 396 mil por ano), a canadense Développement et Paix (R$ 162 mil), a britânica Christian Aid (R$ 143 mil) e a americana Grassroots International (R$ 51 mil) --as duas primeiras são ligadas à Igreja Católica; a terceira, a igrejas protestantes.
Outras organizações ajudam a engrossar a lista de "patrocinadores", mas a Folha não teve acesso a informações sobre as cifras. São a FMST (Friends of the MST), dos EUA, a Frövännerna, da Suécia, o Conselho Mundial de Igrejas, com sede na Suíça, e a Mani Tese, da Itália.
Os dirigentes, além de não revelar os nomes das entidades estrangeiras, tratam de minimizar o peso do apoio internacional em seu orçamento.
"Não temos cifra exata, mas, nos últimos anos, a média [de doações vindas do exterior] não representa mais que 5% do financiamento do MST", afirma Geraldo Fontes, diretor do setor de Relações Internacionais do MST.
Esse dinheiro, no entanto, não é destinado apenas aos trabalhadores rurais que vivem em assentamentos e acampamentos.
Parte desses milhares de reais também sustenta outra face do movimento, menos conhecida. Ajuda a manter uma complexa hierarquia burocrática de coordenações, direções e secretarias (nacionais, estaduais e regionais), que, com tentáculos em quase todo o país, só não alcança quatro Estados (Amazonas, Roraima, Acre e Amapá).
Nos primeiros momentos do MST, nos anos 80, o principal mediador dos recursos vindos de fora eram igrejas, por meio de organizações como a Cese (Coordenadoria Ecumênica de Serviço), da Bahia. Hoje o movimento já é suficientemente conhecido no exterior para manter relações diretas com seus "parceiros".
O setor de Relações Internacionais do MST foi criado em 1989 e, segundo Geraldo Pontes, conta com o trabalho de 53 militantes.
O dinheiro estrangeiro pode chegar ao MST nacional ou diretamente aos Estados. A Grassroots, por exemplo, lida diretamente com os sem-terra do Maranhão e de Pernambuco.
A ONG americana destina à secretaria estadual de Pernambuco, em Caruaru, cerca de R$ 28 mil por ano. A verba garante a contratação de um advogado para cuidar dos interesses dos sem-terra na Justiça e dois "cursos de formação" anuais para líderes pernambucanos a respeito de direitos humanos.
"Esse dinheiro faria muita falta. Garante toda a assessoria jurídica do MST em Pernambuco", conta Severino Ramos, da coordenação estadual do movimento.
Prestação de contas
Em todos os casos, o MST é obrigado a fazer periodicamente uma prestação de contas. "Nunca tivemos problemas com isso", diz Wolfgang Hees, da Caritas, que frequentemente vem ao Brasil. Os R$ 400 mil que a ONG alemã destina aos sem-terra são depositados num fundo, que é administrado em conjunto pelo MST, pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) e pela Caritas brasileira.
Fora essas doações que são depositadas regularmente no caixa dos sem-terra, neste momento o MST conta com uma ajuda milionária vinda da parceria entre a Caritas, a francesa Frères des Hommes e até a União Européia para levantar seu centro de formação política e técnica de militantes em Guararema (SP).
A futura Escola Nacional Florestan Fernandes deverá consumir até a inauguração, prevista para o ano que vem, o equivalente a mais de R$ 7,3 milhões. Do total, cerca de R$ 2,5 milhões são bancados pelo próprio MST.
Se as doações externas representam cerca de 5% do caixa do movimento, chega-se a uma receita de no mínimo R$ 15 milhões por ano. Também procurando relativizar a importância desse orçamento, Mário Lill, da coordenação do Rio Grande do Sul, diz que o MST não é rico.
"Às vezes, cria-se uma paranóia a respeito do dinheiro. Fazemos um trabalho pobre e sofrido. O que nos move é mais a dignidade que o dinheiro."
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da Folha de S.Paulo
O cofre administrado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) recebe doações vindas do exterior que, a cada ano, somam o equivalente a pelo menos R$ 752 mil.
O MST mantém suas fontes de renda em segredo, mas um levantamento feito pela Folha mostra que no mínimo oito ONGs e agências de cooperação internacional ajudam a financiar o principal movimento social do país.
Entre elas, estão a alemã Caritas (doa o equivalente a R$ 396 mil por ano), a canadense Développement et Paix (R$ 162 mil), a britânica Christian Aid (R$ 143 mil) e a americana Grassroots International (R$ 51 mil) --as duas primeiras são ligadas à Igreja Católica; a terceira, a igrejas protestantes.
Outras organizações ajudam a engrossar a lista de "patrocinadores", mas a Folha não teve acesso a informações sobre as cifras. São a FMST (Friends of the MST), dos EUA, a Frövännerna, da Suécia, o Conselho Mundial de Igrejas, com sede na Suíça, e a Mani Tese, da Itália.
Os dirigentes, além de não revelar os nomes das entidades estrangeiras, tratam de minimizar o peso do apoio internacional em seu orçamento.
"Não temos cifra exata, mas, nos últimos anos, a média [de doações vindas do exterior] não representa mais que 5% do financiamento do MST", afirma Geraldo Fontes, diretor do setor de Relações Internacionais do MST.
Esse dinheiro, no entanto, não é destinado apenas aos trabalhadores rurais que vivem em assentamentos e acampamentos.
Parte desses milhares de reais também sustenta outra face do movimento, menos conhecida. Ajuda a manter uma complexa hierarquia burocrática de coordenações, direções e secretarias (nacionais, estaduais e regionais), que, com tentáculos em quase todo o país, só não alcança quatro Estados (Amazonas, Roraima, Acre e Amapá).
Nos primeiros momentos do MST, nos anos 80, o principal mediador dos recursos vindos de fora eram igrejas, por meio de organizações como a Cese (Coordenadoria Ecumênica de Serviço), da Bahia. Hoje o movimento já é suficientemente conhecido no exterior para manter relações diretas com seus "parceiros".
O setor de Relações Internacionais do MST foi criado em 1989 e, segundo Geraldo Pontes, conta com o trabalho de 53 militantes.
O dinheiro estrangeiro pode chegar ao MST nacional ou diretamente aos Estados. A Grassroots, por exemplo, lida diretamente com os sem-terra do Maranhão e de Pernambuco.
A ONG americana destina à secretaria estadual de Pernambuco, em Caruaru, cerca de R$ 28 mil por ano. A verba garante a contratação de um advogado para cuidar dos interesses dos sem-terra na Justiça e dois "cursos de formação" anuais para líderes pernambucanos a respeito de direitos humanos.
"Esse dinheiro faria muita falta. Garante toda a assessoria jurídica do MST em Pernambuco", conta Severino Ramos, da coordenação estadual do movimento.
Prestação de contas
Em todos os casos, o MST é obrigado a fazer periodicamente uma prestação de contas. "Nunca tivemos problemas com isso", diz Wolfgang Hees, da Caritas, que frequentemente vem ao Brasil. Os R$ 400 mil que a ONG alemã destina aos sem-terra são depositados num fundo, que é administrado em conjunto pelo MST, pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) e pela Caritas brasileira.
Fora essas doações que são depositadas regularmente no caixa dos sem-terra, neste momento o MST conta com uma ajuda milionária vinda da parceria entre a Caritas, a francesa Frères des Hommes e até a União Européia para levantar seu centro de formação política e técnica de militantes em Guararema (SP).
A futura Escola Nacional Florestan Fernandes deverá consumir até a inauguração, prevista para o ano que vem, o equivalente a mais de R$ 7,3 milhões. Do total, cerca de R$ 2,5 milhões são bancados pelo próprio MST.
Se as doações externas representam cerca de 5% do caixa do movimento, chega-se a uma receita de no mínimo R$ 15 milhões por ano. Também procurando relativizar a importância desse orçamento, Mário Lill, da coordenação do Rio Grande do Sul, diz que o MST não é rico.
"Às vezes, cria-se uma paranóia a respeito do dinheiro. Fazemos um trabalho pobre e sofrido. O que nos move é mais a dignidade que o dinheiro."
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