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05/11/2003 - 08h45

Lula defende Estado duro e vê crime infiltrado até na Justiça

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ELIANE CANTANHÊDE
Enviada especial a Angola e Moçambique

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o crime organizado no Brasil está infiltrado na Justiça, na política, nas empresas e na sociedade civil em geral. Segundo ele, "os bandidos estão ficando desaforados" e o Estado "tem de ser duro".

"Nós sabemos que no Brasil há uma parte do crime organizado ligada a vários setores da sociedade. O crime organizado é mais difícil de combater porque tem o seu braço político, o seu braço judiciário, o seu braço empresário, o seu braço da sociedade civil", disse Lula, numa entrevista coletiva em Luanda (Angola).

Foi uma reação às últimas ações dos bandidos, que resultaram na morte de
dois policiais em São Paulo e foram atribuídas pelo secretário da Segurança Pública do Estado, Saulo de Castro Abreu, à organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Para o presidente, essas ações não são apenas esporádicas, mas, ao contrário, estão se transformando numa "provocação feita habitualmente no Brasil".

"Tenho acompanhado pela imprensa e tenho visto que os bandidos têm ficado desaforados. Eles têm desafiado o Estado e eu acho que o Estado tem de ser duro", disse. Em seguida, defendeu que "o Estado precisa manter prisões em que proíba que os bandidos tenham privilégios".

A declaração de Lula sobre a infiltração do crime toca num ponto que já suscitou polêmica -a Justiça. Lula já defendeu o controle externo do Judiciário, no qual disse haver uma "caixa-preta", e apoiou uma inspeção da ONU no Poder. Os magistrados reagiram.

"A questão da segurança pública no Brasil é um problema muito delicado", continuou ele, ao lado do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, que na véspera o chamara de "porta-voz" dos pobres de todo o mundo.

Segundo Lula, o Ministério da Justiça tem atuado corretamente, construindo "a base sólida" para uma boa política de segurança pública no Brasil: "É preciso ter a polícia mais inteligente, mais preparada, que é isso que estamos fazendo para combater esses crimes que acontecem no Brasil".

Ele se disse "convencido de que a política que está sendo levada adiante pelo Ministério da Justiça é coerente", pois estão sendo criados grupos de inteligência e grupos especiais. Acrescentou que foram assinados 27 convênios com os Estados para uma integração de ação das polícias Federal, Militar e Civil, para o combate conjunto do crime organizado.

Segundo o presidente, agora é preciso mudar também o sistema prisional brasileiro: "Precisa mudar praticamente todo o sistema carcerário para que quem esteja preso não possa, de dentro da cadeia, organizar o que aconteceu ontem [segunda-feira passada], o que aconteceu em outros momentos da nossa história".

O discurso do presidente ontem em Angola foi marcado pela defesa da criação de uma instituição financeira internacional para promoção do desenvolvimento de países pobres da América Latina, da Ásia e da África.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) integraria esse órgão, que seria responsável pelo financiamento de obras de infra-estrutura nesses países (leia texto nesta página).

Lula viajou ontem mesmo para Maputo, Moçambique, onde chegou por volta das 18h (14h em Brasília). No aeroporto, ele e sua mulher, Marisa, ensaiaram alguns passos de dança africana com uma moçambicana. Depois, o presidente visitou o Centro de Estudos Brasileiros, para o lançamento do livro "Brasil-África, como se o Mar Fosse Mentira".

A jornalista Eliane Cantanhêde faz a parte interna da viagem à África no avião reserva da Presidência, por falta de opções de vôos comerciais compatíveis com o roteiro do presidente Lula
 

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