Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
12/11/2003 - 19h52

Após habeas corpus, José Rainha deixa prisão

Publicidade

CRISTIANO MACHADO
da Agência Folha, em Presidente Prudente

O líder do MST José Rainha Jr., 43, foi libertado às 19h40 desta quarta-feira da Penitenciária de Dracena (647 km a noroeste de SP), onde estava preso desde 11 de julho. Ele foi beneficiado por um habeas corpus concedido pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Na saída, Rainha mandou um recado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Quando ele tiver que dar a canetada para fazer a reforma agrária que ele pense em duas coisas: primeiro, na historia dele; segundo, no povo que o elegeu. Que não tenha medo", afirmou, em entrevista concedida em frente à penitenciaria, numa referência a uma promessa feita por Lula em sua campanha derrotada à Presidência em 1994. "Com uma canetada só vou dar tanta terra que vocês não vão conseguir ocupar", disse Lula, na época.

Rainha pediu a Lula tenha "convicção do que está fazendo" e disse que tem no presidente um aliado "para mudar o país". "Esse país precisa mudar essa forma repressora de como trata o povo. Quero parabenizá-lo pelo que tem feito e dizer que somos aliados para mudar esse país", disse.

Ao deixar o portão principal da penitenciária, Rainha foi recepcionado por sua mulher, Diolinda Alves de Souza, e pelos filhos João Paulo, 10, e Sofia, 2. "A felicidade é a coisa mais bonita que tem", repetiu várias vezes, enquanto abraçava a família e militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que foram recebê-lo.

Sobre a prisão, Rainha disse que a encarou como um "aprendizado". Desde 11 de julho, ele passou por quatro penitenciárias da região: duas em Presidente Venceslau, uma em Presidente Bernardes e, por último, em Dracena. "Tudo na vida a gente aprende. Eu estudei muito, li 48 livros."

Rainha disse que sua liberdade significa "uma vitória da solidariedade". "Desde os políticos, como os senadores, aos mais humildes, essa é uma vitória da solidariedade da sociedade."

Dirigindo-se aos sem-terra, o principal líder do MST no Pontal do Paranapanema disse que recomeçará a luta pela reforma agrária na região, considerada o foco do conflito fundiário do Estado. "A luta nem começou no Pontal. Vamos continuar o trabalho para dar ao povo pobre dignidade de viver como cidadãos."

Diolinda

Diolinda Alves de Souza afirmou que a decisão de libertar seu marido "é mais do que nunca a liberdade da reforma agrária". A afirmação foi feita no início da noite, enquanto aguardava Rainha em frente à penitenciária.

Diolinda reafirmou que não pensa em deixar o Pontal do Paranapanema, como orientou o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, que teme novas condenações a líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
terra) por parte da Justiça da região.

"A saída não faz parte de nosso pensamento. A decisão caberia à direção do movimento, mas como o movimento não se posicionou neste sentido, nós não pretendemos sair."

Em nome de Rainha Jr., ela agradeceu as visitas que recebeu e às pessoas que enviaram cartas, principalmente Frei Betto, assessor especial da Presidência da República. "Esse apoio nos dá direito de fazer a luta pela reforma agrária."

Sobre a decisão, Diolinda voltou a afirmar que as prisões de Rainha e de outros sem-terra na região do Pontal foram políticas.

Comemoração do MST

Para João Paulo Rodrigues, membro da coordenação nacional do MST, a decisão do STJ simboliza um recado ao Poder Judiciário para não mais "criminalizar o movimento".

"O mérito dessa decisão, além de nossos advogados, é de toda a sociedade, parlamentares e da própria mídia, que perceberam a perseguição política. Simboliza para todo o Poder Judiciário retirar a tese de criminalizar o movimento."

Segundo Rodrigues, os cerca de 1.500 sem-terra que participam de uma marcha rumo a Brasília festejaram assim que souberam da decisão. "Quando anunciamos a decisão da Justiça aqui no acampamento [em Anápolis, GO] todo o pessoal da marcha comemorou bastante. Sabíamos que era uma prisão injusta, e a Justiça conseguiu, mesmo que tarde como sempre, corrigir a perseguição política do juiz Atis de Oliveira."

Rodrigues se refere a Atis de Araújo Oliveira, juiz da comarca de Teodoro Sampaio, no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de SP), que determinou a prisão de Rainha.

Em entrevista dada em setembro, Atis disse que "cumpriu a lei" ao condenar Rainha.

Colaborou EDUARDO SCOLESE, da Agência Folha
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página