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17/11/2003
-
07h05
da Folha de S.Paulo
Conversas telefônicas interceptadas pela Operação Anaconda indicam que o grupo hoje preso na Polícia Federal sob acusação de participar de um esquema de venda de sentenças judiciais temia as repercussões da revelação de vínculos entre o doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, e o juiz federal da 7ª Vara Criminal, João Carlos da Rocha Mattos.
"É ruim porque vincula ele [Rocha Mattos], inclusive ao pessoal que está preso", disse, em conversa grampeada, o agente federal César Herman Rodriguez --braço direito do juiz Rocha Mattos-- ao delegado federal José Augusto Bellini em 24 de março último.
O "pessoal preso" citado por Rodriguez eram, segundo a polícia, os funcionários da casa de câmbio de Claramunt em São Paulo, a Barcelona Tour, que foi alvo de uma investigação do Ministério Público Federal.
Em 17 de março, a operação contra a Barcelona resultou na prisão de cinco pessoas, além de captar conversas telefônicas de quatro delegados e quatro agentes federais com o doleiro. Claramunt conseguiu escapar, e obteve no mês passado habeas corpus no Supremo Tribunal Federal.
Sete dias depois dessas prisões, a Folha revelou que o apartamento ocupado pelo juiz Rocha Mattos pertencia a uma empresa "offshore" cujo procurador era Carlos Alberto da Costa Silva, advogado de Claramunt em processos na Justiça Federal. Na reportagem, ele aparece citado apenas como "advogado de doleiros".
Na conversa, Rodriguez disse ter achado a vinculação "ruim". Bellini disse que, na sua opinião, a revelação não ia "dar em porra nenhuma", porque seria vista como uma "briga de velhos" --entre Rocha Mattos e a sua ex-mulher Norma Regina Emílio Cunha. Rodriguez não concorda com isso: "Não vai, é? Deixa descobrir as outras coisas aí, estão no caminho certo".
Claramunt é investigado pelo Ministério Público Federal como um dos principais doleiros de São Paulo e foi indiciado pela CPI do Narcotráfico, em 99, sob acusação de lavagem de dinheiro.
De acordo com o relatório final da CPI, a Barcelona Tour enviou para o exterior, entre 1995 e 1999, US$ 1,34 milhão, mas recebeu US$ 29,7 milhões. "Os rendimentos declarados no período são incompatíveis com essa movimentação financeira", concluiu a CPI.
A conversa entre Rodriguez e Bellini não é a única a tratar do doleiro. Ele é referido pelo menos quatro outras vezes.
De acordo com o relatório da Coordenação de Inteligência da Polícia Federal, que deu base à denúncia do Ministério Público Federal, em 3 de setembro de 2002, Rodriguez telefonou para Norma Cunha para pedir que ela ligasse para Toninho da Barcelona e marcasse um encontro com ele até as 12h30 daquele dia.
Norma pede então para Rodriguez ligar para um número de telefone, porque Toninho "acabou de entrar na Maranhão [rua onde mora o juiz Rocha Mattos]".
Meses mais tarde, depois das prisões dos funcionários da Barcelona Tour, a Operação Anaconda voltou a registrar uma conversa entre Norma e Rodriguez. Ela informou ao policial federal que naquele dia começariam os depoimentos do Toninho e pede que Rodriguez vá assisti-los. Ela achou que "pode ter muita coisa interessante", segundo o relatório de inteligência da PF.
Quatro dias depois, Norma telefonou para o agente federal para saber como foram os interrogatórios, como está "o negócio" do Toninho e "o que está rolando".
Ficou preocupada ao saber que Rodriguez, ao contrário do que ela pedira, não foi acompanhar os depoimentos. A ex-mulher do juiz Rocha Mattos indagou: "E o pessoal da polícia está preocupado com que, se não com isso?".
As investigações sobre o "caso Barcelona" resultaram na abertura de procedimentos no Ministério Público Federal para averiguar participação de policiais civis e federais. Também foram enviadas às corregedorias das polícias Civil e Federal cópias das conversas interceptadas, para que fossem feitas apurações internas.
Os nomes desses policiais são mantidos em sigilo pelo procurador que cuida da investigação sobre a Barcelona, Sílvio Luís Martins de Oliveira.
De acordo com a denúncia feita pelas procuradoras da República Ana Lúcia Amaral e Janice Ascari, "a toda evidência, o interesse de Norma pelo rumoroso caso de Toninho da Barcelona não é casual", "restando induvidoso que é assunto afeto ao interesse do grupo criminoso".
"Constata-se que as ações da quadrilha envolvem, também, outros ramos do crime organizado como lavagem de ativos e crimes contra o sistema financeiro nacional", diz a denúncia das procuradoras.
Esquema temia por vinculação a doleiro
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Conversas telefônicas interceptadas pela Operação Anaconda indicam que o grupo hoje preso na Polícia Federal sob acusação de participar de um esquema de venda de sentenças judiciais temia as repercussões da revelação de vínculos entre o doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, e o juiz federal da 7ª Vara Criminal, João Carlos da Rocha Mattos.
"É ruim porque vincula ele [Rocha Mattos], inclusive ao pessoal que está preso", disse, em conversa grampeada, o agente federal César Herman Rodriguez --braço direito do juiz Rocha Mattos-- ao delegado federal José Augusto Bellini em 24 de março último.
O "pessoal preso" citado por Rodriguez eram, segundo a polícia, os funcionários da casa de câmbio de Claramunt em São Paulo, a Barcelona Tour, que foi alvo de uma investigação do Ministério Público Federal.
Em 17 de março, a operação contra a Barcelona resultou na prisão de cinco pessoas, além de captar conversas telefônicas de quatro delegados e quatro agentes federais com o doleiro. Claramunt conseguiu escapar, e obteve no mês passado habeas corpus no Supremo Tribunal Federal.
Sete dias depois dessas prisões, a Folha revelou que o apartamento ocupado pelo juiz Rocha Mattos pertencia a uma empresa "offshore" cujo procurador era Carlos Alberto da Costa Silva, advogado de Claramunt em processos na Justiça Federal. Na reportagem, ele aparece citado apenas como "advogado de doleiros".
Na conversa, Rodriguez disse ter achado a vinculação "ruim". Bellini disse que, na sua opinião, a revelação não ia "dar em porra nenhuma", porque seria vista como uma "briga de velhos" --entre Rocha Mattos e a sua ex-mulher Norma Regina Emílio Cunha. Rodriguez não concorda com isso: "Não vai, é? Deixa descobrir as outras coisas aí, estão no caminho certo".
Claramunt é investigado pelo Ministério Público Federal como um dos principais doleiros de São Paulo e foi indiciado pela CPI do Narcotráfico, em 99, sob acusação de lavagem de dinheiro.
De acordo com o relatório final da CPI, a Barcelona Tour enviou para o exterior, entre 1995 e 1999, US$ 1,34 milhão, mas recebeu US$ 29,7 milhões. "Os rendimentos declarados no período são incompatíveis com essa movimentação financeira", concluiu a CPI.
A conversa entre Rodriguez e Bellini não é a única a tratar do doleiro. Ele é referido pelo menos quatro outras vezes.
De acordo com o relatório da Coordenação de Inteligência da Polícia Federal, que deu base à denúncia do Ministério Público Federal, em 3 de setembro de 2002, Rodriguez telefonou para Norma Cunha para pedir que ela ligasse para Toninho da Barcelona e marcasse um encontro com ele até as 12h30 daquele dia.
Norma pede então para Rodriguez ligar para um número de telefone, porque Toninho "acabou de entrar na Maranhão [rua onde mora o juiz Rocha Mattos]".
Meses mais tarde, depois das prisões dos funcionários da Barcelona Tour, a Operação Anaconda voltou a registrar uma conversa entre Norma e Rodriguez. Ela informou ao policial federal que naquele dia começariam os depoimentos do Toninho e pede que Rodriguez vá assisti-los. Ela achou que "pode ter muita coisa interessante", segundo o relatório de inteligência da PF.
Quatro dias depois, Norma telefonou para o agente federal para saber como foram os interrogatórios, como está "o negócio" do Toninho e "o que está rolando".
Ficou preocupada ao saber que Rodriguez, ao contrário do que ela pedira, não foi acompanhar os depoimentos. A ex-mulher do juiz Rocha Mattos indagou: "E o pessoal da polícia está preocupado com que, se não com isso?".
As investigações sobre o "caso Barcelona" resultaram na abertura de procedimentos no Ministério Público Federal para averiguar participação de policiais civis e federais. Também foram enviadas às corregedorias das polícias Civil e Federal cópias das conversas interceptadas, para que fossem feitas apurações internas.
Os nomes desses policiais são mantidos em sigilo pelo procurador que cuida da investigação sobre a Barcelona, Sílvio Luís Martins de Oliveira.
De acordo com a denúncia feita pelas procuradoras da República Ana Lúcia Amaral e Janice Ascari, "a toda evidência, o interesse de Norma pelo rumoroso caso de Toninho da Barcelona não é casual", "restando induvidoso que é assunto afeto ao interesse do grupo criminoso".
"Constata-se que as ações da quadrilha envolvem, também, outros ramos do crime organizado como lavagem de ativos e crimes contra o sistema financeiro nacional", diz a denúncia das procuradoras.
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