Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
10/12/2003 - 06h00

Ex-vice recua de depoimento à Promotoria

Publicidade

JULIA DUAILIBI
LILIAN CHRISTOFOLETTI

da Folha de S.Paulo

O ex-vice-prefeito de Santo André José Cicote, 65, recuou parcialmente das declarações dadas aos promotores que investigam a morte do prefeito Celso Daniel ao afirmar nunca ter visto Dionízio Severo com o empresário Sérgio Gomes da Silva.

A afirmação, feita em maio ao Ministério Público de Santo André, foi um dos principais argumentos usados pela Promotoria para denunciar Gomes da Silva como um dos mandantes do assassinato do prefeito em 2002.

Para os promotores, Severo é o elo entre Gomes da Silva e a quadrilha da Favela Pantanal, cujos integrantes estão presos pelo assassinato de Celso Daniel.

Em entrevista ontem à Folha, na sede da Associação dos Aposentados Metalúrgicos de Santo André, Cicote, fundador e ex-deputado federal do PT, disse não ter visto o empresário com Severo. Mas afirmou ter certeza de que viu "duas ou três vezes" Severo na Prefeitura de Santo André.

O "Termo de Declarações", assinado pelo ex-deputado federal em maio deste ano, contradiz as declarações dadas à Folha. À época, Cicote afirmara aos promotores ter visto Severo com Gomes da Silva no primeiro andar da prefeitura, onde ficavam os gabinetes do prefeito e do vice.

À Folha Cicote afirmou ainda não saber do envolvimento de Adriana Pugliesi, ex-mulher de Gomes da Silva, com Severo.

Em declaração ao MP disse ter ouvido comentários "dando conta de um desentendimento entre Gomes da Silva e Severo, relacionado à mulher".

Cicote afirmou ainda não ter assinado nenhum documento dos promotores. Vice-prefeito de Santo André entre 89 e 92, hoje está no PSB, pelo qual concorreu a deputado estadual em 2002.

Folha - O sr. viu o Dionízio Severo com Sérgio Gomes da Silva?
José Cicote
- Não. Não poderia dizer isso.

Folha - Mas o viu na Prefeitura de Santo André?
Cicote
- Ver eu vi. Poucas vezes, mas eu vi. Não sei se foram duas ou três vezes, mas eu vi. Por volta de 88, 89, mais ou menos.

Folha - Com Gomes da Silva?
Cicote
- Não. Não o vi nem com o Sérgio nem com o Celso. Com nenhum dos dois. Eu também saía muito naquela época. Era deputado. Não ficava muito em Santo André. Vou fazer de tudo para descobrir o assassino do Celso. Parece que está no caminho certo, há indício forte [de participação] do Sérgio. Vou fazer de tudo para descobrir o assassinato desse moço.

Folha - Mas o sr. disse para o Ministério Público que viu Gomes da Silva com o Severo?
Cicote
- O Sérgio com o Severo eu não vi. Nem o Celso.

Folha - Nem falou isso para os promotores?
Cicote
- Não falei isso.

Folha - O sr. tem certeza de que era Severo na prefeitura?
Cicote
- Claro. Eu via ele na Prefeitura.

Folha - Ele trabalhava lá? Tinha uma função?
Cicote
- Nem sei se ele trabalhava lá [na prefeitura]. O Celso e o Sérgio trabalhavam juntos. Eram eles que contratavam gente, seguranças. Agora o Severo, foram poucas as vezes que eu o vi. Duas ou três vezes. Quando saía com o Celso para ir para o bairro ou alguma coisa, reunião, o Severo nunca acompanhou a gente.

Folha - O Severo era uma figura conhecida na prefeitura?
Cicote
- Nem tanto. Para algumas pessoas era. Para outras, não.

Folha - O sr. era inimigo do prefeito Celso Daniel?
Cicote
- Não era inimigo. Não me dava bem por questões políticas. Tinha uma visão, e ele outra.

Folha - Por quê?
Cicote
- Por causa desse problema. Na primeira gestão dele, ele trouxe muita gente de fora. Achei que deveria trazer o pessoal de Santo André.

Folha - Quem é o pessoal de fora?
Cicote
- É o Klinger [de Oliveira Souza, ex-secretário de Serviços Municipais], o Sérgio. Foi um leque aberto para o pessoal de fora que não tinha compromisso com o PT da cidade.

Folha- Essas pessoas tinham envolvimento com corrupção?
Cicote
- Não conhecia. O dia que ele [Celso Daniel] falou comigo, "Vou colocar fulano", eu disse: "Celso, você é o prefeito. E eu vou te apoiar. Quero que você acerte, mas eu queria que você desse valor ao pessoal de Santo André".

Folha - Havia esquema de corrupção na prefeitura?
Cicote
- Eu era a pessoa que eles não conversavam. Era proibido conversar comigo coisas do tipo administração, sobre questão política do partido. Não tinha esse papo comigo.

Folha - Severo namorou Adriana Pugliesi [ex-mulher de Gomes da Silva]?
Cicote
- Não. Nunca vi isso. Ela era minha vizinha. O Sérgio morava perto da minha casa. Eu vi depois a imprensa falar isso.

Folha - Acha que o Severo pode estar envolvido no assassinato?
Cicote
- Ele mesmo falou que estava. Fico constrangido de numa morte bárbara como essa o processo ter sido encerrado com crime comum. Celso não tinha inimigo. Ele podia podia ter inimigo político. Era eu. Mas pessoalmente, nada contra o Celso. Era um rapaz inteligente, acho que ia ser ministro. O Palocci [Fazenda] deu certo igual o vice-prefeito [João Avamileno] deu certo porque o Celso abriu duas vagas.

Folha - O sr. foi procurado por alguém próximo de Gomes da Silva?
Cicote
- Não.

Folha - Tem mágoa dessa época?
Cicote
- Acho que se eu estivesse na prefeitura isso não teria acontecido. Eu era um cara muito expansivo, ainda sou. Falo o que eu vejo. Inclusive eu disse: "Celso, esse pessoal não é de confiança. Não são da cidade, não a conhecem".

Folha - O sr. não assinou algum depoimento?
Cicote
- Não.

Folha - Então por que o MP diz que o sr. viu Gomes da Silva com Severo?
Cicote
- Não acredito [que eles disseram isso]. O que eles me falaram é que o processo corre sob sigilo. Acho que uma pessoa que é um promotor, mesmo que você dê um depoimento que seja banal, não pode fugir do silêncio. É uma questão que diz respeito à profissão. Ninguém vai acreditar num MP que não diz a verdade.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página