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11/12/2003 - 07h21

Presidente tenta explicar visita a ditador

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FERNANDO RODRIGUES
do enviado especial da Folha de S.Paulo a Trípoli

Na última etapa de sua viagem de nove dias a cinco países árabes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso explicando por que visitava países como a Líbia, onde o regime é fechado e sem democracia. Num jantar anteontem com o ditador Muammar Gaddafi, o brasileiro disse:

"Quero dizer ao presidente Gaddafi que, ao longo dessa trajetória política, assumi muitos compromissos políticos. Fizemos alguns adversários e muitos amigos. Hoje, como presidente da República do Brasil, jamais esqueci os amigos que eram meus amigos quando eu ainda não era presidente da República", declarou.

Essa é a mesma razão que levou Lula a visitar o ditador Fidel Castro neste ano. Durante o jantar, o brasileiro ficou na mesa com Gaddafi e dois outros líderes de esquerda, convidados pelo líbio: Daniel Ortega (líder da revolução sandinista na Nicarágua e presidente do país de 1985 a 1990) e Ahmed Ben Bella (que presidiu a Argélia de 1963 a 1965). Lula foi avisado da presença extra desses convidados em cima da hora.

Tidos como políticos da esquerda mais tradicional, que não emocionam mais o PT de Lula, Ortega e Ben Bella receberam deferência especial de Lula ontem, antes de o presidente partir de volta para o Brasil. Indagado se a aparição ao lado de políticos desse time não seria prejudicial à imagem de Lula, hoje mais light, o chanceler Celso Amorim declarou: "Não podemos interferir nos convidados daquele que nos convida".

Com relação ao silêncio de Lula sobre os regimes sem democracia visitados, Amorim argumentou que o Brasil não pode interferir em assuntos internos de outros países: "O presidente não veio aqui para dar lições. A lição que ele pode dar é a presença dele, de um político que foi eleito democraticamente".

Comenda de Gaddafi

No jantar de anteontem, Lula foi homenageado por Gaddafi com uma medalha. O brasileiro retribuiu a comenda e fez um discurso para rebater, em parte, o que havia dito antes o anfitrião líbio.

Gaddafi fez um discurso considerado "defasado" por quase toda a comitiva brasileira. O coronel fez uma peroração sobre o que é terrorismo. Num trecho, teria dito: "Quem é terrorista? As empresas farmacêuticas que deixam morrer de doença as crianças?".

Gaddafi também disse que o mundo árabe está fracionado. Seria melhor, argumentou, se Lula tentasse montar uma cúpula entre América Latina e África. O brasileiro deseja promover um encontro entre líderes sul-americanos e árabes, em 2004, no Brasil.

Lula não deu trela ao discurso socialista islâmico de Gaddafi: "Sei dos compromissos que tenho com o meu país e também sei dos compromissos que temos com outros povos do mundo. Entretanto, só vamos poder ajudar os outros se tivermos construído, na nossa casa, uma base sólida de segurança para ganharmos a respeitabilidade de outros povos".

No dia anterior, no Cairo, o brasileiro havia feito críticas indiretas ao presidente dos EUA, George W. Bush. Declarou que o norte-americano não admitia o "erro" da invasão do Iraque porque em 2004 tentará se reeleger.

Além disso, Lula também aproveitou para atacar seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, por ter "cedido às pressões" para que o brasileiro José Maurício Bustani fosse retirado do cargo de diretor da Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas), em 2002. Crítico da postura dos EUA em relação à busca de armas químicas no Iraque antes da guerra, Bustani foi destituído por pressão de Washington. Lula o reabilitou, colocando-o em Londres.

Ontem, Lula encerrou uma reunião com empresários líbios e brasileiros no início da tarde e decidiu antecipar sua volta. Embarcou para o Brasil uma hora e 25 minutos antes do previsto, às 17h35 (13h35 em Brasília).


Os repórteres FERNANDO RODRIGUES e ALAN MARQUES viajam no avião do governo nos deslocamentos do giro internacional do presidente pelos países árabes por falta de opção de vôos comerciais para esta cobertura jornalística
 

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