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18/12/2003
-
08h04
IGOR GIELOW
da Folha de S.Paulo, em Brasília
O governo da Rússia decidiu fazer uma oferta de parceria à Embraer que poderá definir a licitação para a compra dos novos caças da FAB (Força Aérea Brasileira) e eventualmente abrir um mercado estimado em US$ 12 bilhões para a empresa brasileira.
A proposta é complexa, não está totalmente fechada e depende de acerto de muitos detalhes para ser concretizada. Espera-se que o chanceler russo, Igor Ivanov, a discuta em sua visita ao Brasil a partir de hoje.
Segundo a Folha apurou, o estudo feito no Comitê de Cooperação Técnico-Militar do Ministério da Defesa russo prevê que a Embraer seja convidada a montar aviões regionais na Rússia, em parceria com o conglomerado de aviação Sukhoi.
Um dos pontos da parceria seria o Brasil escolher o modelo russo da Sukhoi na licitação da FAB, o Su-35 Super Flanker. A Embraer seria convidada a participar da montagem do avião, oferecido pelo consórcio russo-brasileiro Rosoboronexport/Avibrás.
Não se trata de uma simples troca. Até porque a licitação da FAB, conhecida como F-X, é um negócio de US$ 700 milhões --ainda que preveja cooperação, e consequentes contratos de manutenção, por até 30 anos. Os atuais Mirage IIIEBR da FAB param de voar em 2005.
Já a abertura do mercado de aviação regional da Rússia e da ex-União Soviética é visto como uma das maiores promessas no setor. Uma conta conservadora estima o fornecimento de até 800 aviões, a US$ 12 bilhões, em até 20 anos.
Aí entram os entraves.
O primeiro deles é referente à licitação da FAB. A Embraer oferece em consórcio com a francesa Dassault o caça Mirage 2000BR.
Logo, ela é concorrente do Su-35 --que é o aparelho preferido da FAB do ponto de vista puramente militar. A Dassault, que além de sócia integra o consórcio francês que controla 20% da Embraer, não gostaria de ver seu aparelho perdendo um mercado que já domina.
Do lado civil, há incertezas sobre a proposta russa. Em 2001, o Kremlin lançou o projeto de criar uma resposta aos bem-sucedidos aviões regionais da Embraer e da canadense Bombardier.
Dois projetos apareceram, o Tupolev-334 e o RRJ (Russian Regional Jet), da Sukhoi. O último vingou a partir do anúncio de uma parceria com a Boeing, que busca colocar o pé no mercado de aviação regional.
Então por que a Sukhoi abandonaria um projeto próprio com uma sócia forte para se associar a uma concorrente, a Embraer?
A resposta está no fato de que para desenvolver o RRJ são necessários pelo menos US$ 600 milhões, e ainda assim o avião só voaria em 2007. Na imprensa russa, cresce a especulação de que o negócio não está andando. Além disso, a associação atrelaria uma área estratégica da indústria russa aos soluços da Casa Branca.
Na lógica dos seus defensores, o acordo com o Brasil teria vantagem dupla. A Embraer tem praticamente pronta sua nova linha de aviões regionais, os ERJ-170/ 175/ 190, e já monta aviões na China.
Outro ponto a ser considerado é o cruzamento de interesses: a francesa Snecma Moteurs foi escolhida como parceira da russa Saturn para fornecer as turbinas do RRJ. Ocorre que a empresa é também sócia do consórcio do Mirage 2000BR com a Embraer, por fornecer o motor do caça. E a Saturn faz os motores do Su-35.
Coroando o processo, a política externa do governo Lula aponta exatamente para a abertura comercial a países fora do eixo EUA-União Européia, como China, Rússia e Índia. Dificilmente colocaria reparos na negociação.
Procuradas, Embraer e Rosoboronexport não comentaram o assunto. A decisão sobre o F-X deve ser tomada no começo de 2004.
Oferta russa pode definir licitação da FAB
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da Folha de S.Paulo, em Brasília
O governo da Rússia decidiu fazer uma oferta de parceria à Embraer que poderá definir a licitação para a compra dos novos caças da FAB (Força Aérea Brasileira) e eventualmente abrir um mercado estimado em US$ 12 bilhões para a empresa brasileira.
A proposta é complexa, não está totalmente fechada e depende de acerto de muitos detalhes para ser concretizada. Espera-se que o chanceler russo, Igor Ivanov, a discuta em sua visita ao Brasil a partir de hoje.
Segundo a Folha apurou, o estudo feito no Comitê de Cooperação Técnico-Militar do Ministério da Defesa russo prevê que a Embraer seja convidada a montar aviões regionais na Rússia, em parceria com o conglomerado de aviação Sukhoi.
Um dos pontos da parceria seria o Brasil escolher o modelo russo da Sukhoi na licitação da FAB, o Su-35 Super Flanker. A Embraer seria convidada a participar da montagem do avião, oferecido pelo consórcio russo-brasileiro Rosoboronexport/Avibrás.
Não se trata de uma simples troca. Até porque a licitação da FAB, conhecida como F-X, é um negócio de US$ 700 milhões --ainda que preveja cooperação, e consequentes contratos de manutenção, por até 30 anos. Os atuais Mirage IIIEBR da FAB param de voar em 2005.
Já a abertura do mercado de aviação regional da Rússia e da ex-União Soviética é visto como uma das maiores promessas no setor. Uma conta conservadora estima o fornecimento de até 800 aviões, a US$ 12 bilhões, em até 20 anos.
Aí entram os entraves.
O primeiro deles é referente à licitação da FAB. A Embraer oferece em consórcio com a francesa Dassault o caça Mirage 2000BR.
Logo, ela é concorrente do Su-35 --que é o aparelho preferido da FAB do ponto de vista puramente militar. A Dassault, que além de sócia integra o consórcio francês que controla 20% da Embraer, não gostaria de ver seu aparelho perdendo um mercado que já domina.
Do lado civil, há incertezas sobre a proposta russa. Em 2001, o Kremlin lançou o projeto de criar uma resposta aos bem-sucedidos aviões regionais da Embraer e da canadense Bombardier.
Dois projetos apareceram, o Tupolev-334 e o RRJ (Russian Regional Jet), da Sukhoi. O último vingou a partir do anúncio de uma parceria com a Boeing, que busca colocar o pé no mercado de aviação regional.
Então por que a Sukhoi abandonaria um projeto próprio com uma sócia forte para se associar a uma concorrente, a Embraer?
A resposta está no fato de que para desenvolver o RRJ são necessários pelo menos US$ 600 milhões, e ainda assim o avião só voaria em 2007. Na imprensa russa, cresce a especulação de que o negócio não está andando. Além disso, a associação atrelaria uma área estratégica da indústria russa aos soluços da Casa Branca.
Na lógica dos seus defensores, o acordo com o Brasil teria vantagem dupla. A Embraer tem praticamente pronta sua nova linha de aviões regionais, os ERJ-170/ 175/ 190, e já monta aviões na China.
Outro ponto a ser considerado é o cruzamento de interesses: a francesa Snecma Moteurs foi escolhida como parceira da russa Saturn para fornecer as turbinas do RRJ. Ocorre que a empresa é também sócia do consórcio do Mirage 2000BR com a Embraer, por fornecer o motor do caça. E a Saturn faz os motores do Su-35.
Coroando o processo, a política externa do governo Lula aponta exatamente para a abertura comercial a países fora do eixo EUA-União Européia, como China, Rússia e Índia. Dificilmente colocaria reparos na negociação.
Procuradas, Embraer e Rosoboronexport não comentaram o assunto. A decisão sobre o F-X deve ser tomada no começo de 2004.
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