Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
31/12/2003 - 22h20

Índio garimpa reserva em busca de diamante

Publicidade

HUDSON CORRÊA
da Agência Folha, Em Pimenta Bueno e Espigão do Norte (RO)

Índios da etnia cinta-larga se tornaram garimpeiros de diamantes na terra indígena Parque Aripuanã, em Pimenta Bueno (a 700 km de Porto Velho), no Estado de Rondônia. Diariamente, desde agosto, removem terra e cascalho em uma clareira aberta na floresta amazônica. A atividade de mineração é ilegal em áreas indígenas.

Como acreditam que a imprensa é crítica a eles, os cinta-larga vinham recusando a entrada de jornalistas na área. No último dia 18, líderes da etnia concordaram em deixar a Agência Folha entrar no território para que, segundo eles, o governo federal "veja a situação", legalize a extração de diamantes e ajude os índios a reparar os danos ambientais já ocorridos --como desmatamento e morte de igarapés (pequenos rios).

Os cinta-larga afirmam que, na falta de recursos da Funai (Fundação Nacional do Índio), ativaram o garimpo para sustentar as aldeias. A extração de diamantes começou em 2000 por garimpeiros brancos, que foram retirados da terra indígena em janeiro de 2003. Eles deixaram uma área desmatada de 9 km de extensão.

"A gente sabe que é errado. O governo federal é o culpado da gente fazer assim, porque não legaliza", disse Pandere Cinta-Larga, 29, gerente do garimpo.

Segundo Pandere, os índios querem vender os diamantes para a Caixa Econômica Federal, mas precisam da regularização do governo. Os atuais compradores, segundo a Polícia Federal, são contrabandistas que enviam as pedras principalmente à Europa.

Responsável também pela venda dos diamantes, Pandere não diz os nomes dos compradores nem fala de preços. Ele afirma que, se der essas informações, pode ser assassinado, pois quem compra as pedras pede sigilo.

"Nós temos esta riqueza [diamantes] aqui. Nós estamos guardando para quem? Para os alemães, para os americanos, para os franceses?", pergunta Nacoça Piu Cinta-Larga, presidente da Associação Pamaré, que explora parte do garimpo. Piu não sabe dizer a sua idade. "Antigamente, a gente sabia o tempo pela [época das] frutas", explica.

Os 1.300 cinta-larga vivem em quatro áreas, que somam 2,7 milhões de hectares. São as terras indígenas Roosevelt, Parque Aripuanã, Serra Morena e Aripuanã.

O garimpo está a 36 km da aldeia Roosevelt. Os índios usam camionetes Toyota Hilux e Bandeirantes, com tração nas quatro rodas, para vencer o atoleiro na estrada aberta na mata.

A região de garimpo é conhecida como baixão. Os índios têm acampamentos montados em torno da área, mas pretendem construir casas de madeiras.
Na definição de Pandere, a área já foi uma cidade com 5.000 garimpeiros brancos. Eles exploravam diamantes e pagavam 20% da produção para os índios autorizarem a extração das pedras.

Em janeiro do ano passado, a Funai retirou os garimpeiros brancos da área. Era o fim de uma história que teve início em 1999, quando um garimpeiro encontrou um diamante após passar semanas na mata e voltar com 70 bernes (larva de mosca que penetra a pele) pelo corpo. Vendeu a pedra por R$ 14 mil e deu R$ 1.400 aos cinta-larga.

A notícia sobre os diamantes correu o Estado de Rondônia. A cidade mais próxima, Espigão do Oeste, a 190 km da área, recebeu os novos garimpeiros, que atuavam na terra indígena.

A cada dois meses, os índios fechavam o garimpo. Eles não trabalhavam na extração, apenas autorizavam a entrada dos brancos.
Em 2002, os cinta-larga perderam o controle do garimpo. Mandaram parar a mineração em um dia e, no outro, 17 índios encontraram 3.000 garimpeiros armados com espingarda calibre 12 e metralhadoras, conta Pandere.
Dentro da área foi criada até uma casa de prostituição. Comerciantes também foram atraídos e vendiam caro as mercadorias. Um frango assado custava R$ 100.

Após a retirada dos garimpeiros da área, os índios ficaram sem o dinheiro que ganhavam ao autorizar a extração dos diamantes. Eles esperaram da Funai a liberação de verbas para as aldeias.
A Funai informa que, dos R$ 5,3 milhões do plano emergencial para atender os índios em 2003, foram liberados R$ 2 milhões em novembro e dezembro. Parte do dinheiro foi usada em um projeto de piscicultura. Em 2002, a Funai usou R$ 1,5 milhão para organizar um grupo-tarefa que visa impedir a invasão de garimpeiros no local.

O chefe do grupo, Walter Fontoura Blós, 40, disse que a Funai não pode ir contra a decisão dos índios de explorar diamantes.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página