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08/01/2004 - 06h09

Isolada, Boa Vista sofre falta de combustível

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JOSÉ EDUARDO RONDON
da Agência Folha

A cidade de Boa Vista começou ontem a enfrentar a falta de combustíveis em razão do bloqueio das estradas do Estado pelos manifestantes que protestam contra a homologação da terra indígena Raposa/Serra do Sol, em Roraima. Fazendeiros e garimpeiros do Estado condenam a homologação. Os índios estão divididos.

Ao final do segundo dia de protestos, 90% dos cerca de 40 postos da capital já estavam sem combustível, segundo o presidente interino do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Roraima, Abel Mesquita. O centro de distribuição da Petrobras fica em Caracaraí, a 134 km de Boa Vista. Com o bloqueio, os caminhões não conseguem alcançar a capital.

Os comerciantes de Boa Vista baixaram as portas em apoio aos manifestantes, tal como já haviam feito no dia anterior. As sedes da Funai (Fundação Nacional do Índio) e do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) permaneciam invadidas por manifestantes. Até a conclusão desta edição, um missionário e dois padres tomados anteontem como reféns continuavam detidos, segundo a Polícia Federal.

Ontem pela manhã, um grupo com cerca de 20 indígenas tentou invadir o prédio da catedral de Boa Vista, mas não teve êxito. Segundo o padre Edson Damian, os índios entraram na igreja e o ameaçaram. "Eles disseram que voltariam, com mais gente, e invadiriam a igreja", declarou.

Após ser ameaçado, o padre chamou a polícia, que interceptou o grupo --que viajava em duas camionetes-- nos arredores da catedral. Os indígenas foram levados para a Funai.

Protestos

Os protestos começaram anteontem, 15 dias depois que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, anunciou que será realizada ainda neste mês a homologação da terra indígena Raposa/ Serra Sol --uma área que compreende uma extensão de terra de 1,75 milhão de hectares, equivalente a quase 12 vezes o território do município de São Paulo.

Dentro da área, vivem, segundo dados do Censo 2000, 19 mil pessoas, sendo 7.000 não-índios. De acordo com o Ministério da Justiça, ao todo, há hoje 14.719 índios na área. A principal queixa dos manifestantes é que a proposta do Ministério da Justiça vai homologar a área como contínua, ou seja, incluindo as cidades e plantações (sobretudo de arroz) dentro de seus limites. Com isso, os não-índios --fazendeiros e garimpeiros- terão de ser removidos.

Alguns índios são contrários à homologação da reserva como contínua porque alegam que as comunidades indígenas ficariam isoladas dentro da reserva.

"Manipulação"

Outros índios, favoráveis à medida, acham que o isolamento não ocorrerá e que eles serão beneficiados com a homologação.

O chefe de divisão de assistência da Funai em Boa Vista, Manoel Tavares, disse que os índios que são contrários à homologação da reserva são manipulados pelos produtores de arroz do Estado.

"Esses protestos são orquestrados pelos produtores de arroz, que manipulam as lideranças indígenas", declarou Tavares. Segundo Tavares, a Funai aguarda que a polícia retire os manifestantes do prédio da sede do órgão.

Para o coordenador do CIR (Conselho Indígena de Roraima), Jaci José de Souza, que é favorável à homologação da terra indígena como uma área contínua, a culpa pelos protestos é do governo federal: "Se era para homologar a área, o governo federal tinha de ter feito isso, e não avisado antes. Com o aviso por parte do ministro da Justiça, as pessoas que são contrárias à homologação tiveram tempo para se organizar", disse.

Colaborou ALESSANDRA KORMANN, da Agência Folha
 

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