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16/01/2004 - 06h06

Lula hesita entre reforma política e administrativa

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ANDRÉA MICHAEL
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva hesita entre fazer uma reforma ministerial política para acomodar o PMDB no governo ou uma mudança que, além de contemplar o aspecto político, tenha também uma caráter gerencial, para corrigir aspectos considerados negativos dentro da administração pelo presidente.

"Ele [Lula] tem o cenário de uma reforma política e o cenário de uma reforma político/administrativa. Essa é uma questão que cabe ao presidente decidir", disse ontem o ministro José Dirceu (Casa Civil). Dirceu afirmou que o anúncio da reforma não tem data definida e que as mudanças serão feitas de uma só vez, pois nenhum ministro é candidato a prefeito.

Essa é uma referência velada ao ministro dos Transportes, Anderson Adauto (PL). O vice-presidente José Alencar (PL) havia pedido a Lula que mantivesse Adauto ao menos até abril, quando então ele deixaria o cargo com a desculpa de que disputará a Prefeitura de Uberaba. Ou seja, se nenhum ministro sairá candidato, como disse Dirceu ontem, isso significa que Adauto será demitido agora ou ficará de vez.

Na entrevista concedida ontem, Dirceu disse que já conversou com todos os partidos aliados, mas que as negociações não estão concluídas porque o presidente poderá apresentar contrapropostas às opções que lhe foram encaminhadas pelo núcleo duro do governo --grupo que reúne, além de Dirceu, os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), Luiz Gushiken (Comunicação e Gestão Estratégica) e Antonio Palocci Filho (Fazenda).

"O presidente já tem todos os elementos para tomar a decisão. É uma questão agora que está em suas mãos. Já conversamos com os partidos e já transmitimos ao presidente o ponto de vista deles", afirmou Dirceu, anfitrião ontem de um almoço que reuniu, em sua casa, Lula e o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB).

"As negociações não terminaram porque, se o presidente fizer uma contraproposta ou tomar uma decisão, eu terei que voltar aos partidos políticos. Mas o PTB e o PP deixaram o presidente totalmente à vontade para tomar a decisão que considerar mais adequada", disse o ministro.

A Folha apurou que Dirceu teme que os acordos costurados por ele sejam desautorizados por Lula. Fato semelhante já ocorreu no final de 2002, antes da posse, quando o ministro havia selado um acordo com o PMDB sobre participação no ministério e Lula derrubou a proposta.

Os possíveis cenários foram traçados anteontem em reunião com o núcleo duro convocada pelo presidente assim que chegou de uma viagem ao México. Para acomodar os novos aliados, o PT precisará vencer as dificuldades de "mover companheiros", conforme disse o chefe da Casa Civil na reunião. O PTB, que já tem uma pasta, está disposto a esperar. O PP também não deve ganhar agora uma vaga no primeiro escalão.

O PMDB já tem como certo o Ministério das Comunicações (Miro Teixeira) e, na falta de melhor opção --queria levar a Integração Nacional, hoje comandada por Ciro Gomes (PPS)--, aceita ficar com a Previdência, hoje com o petista Ricardo Berzoini.

A Berzoini pode ser confiada uma nova missão: conduzir uma pasta que resultaria da unificação dos ministérios sociais --Segurança Alimentar e Combate à Fome (José Graziano) e Assistência Social (Benedita da Silva).

"Já fizemos uma longa reunião ontem [anteontem]. Temos conversado a todo momento. Mas agora é uma hora do presidente. Ele deve tomar a decisão assim que se considerar devidamente em condições", afirmou Dirceu, após almoço, ressaltando que a reforma ministerial não paralisa o governo, nem gera ruídos que possam atrapalhar a convocação extraordinária do Congresso, que começa na segunda-feira.

Berzoini disse que acatará qualquer decisão do presidente. "São decisões que competem ao presidente da República, que acatarei com tranqüilidade". Miro Teixeira, que também deve ceder o seu lugar, disse que Lula não conversou com ele: "O Brasil é presidencialista, é o presidente quem define, o tempo é do presidente".
 

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