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21/01/2004 - 09h35

Comissário europeu vê risco de CPMF mundial lesar pobres

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ELIANE CANTANHÊDE
ANDRÉ SOLIANI

da Folha de S.Paulo, em Brasília

O comissário de Relações Exteriores da União Européia, Christopher Patten, disse que está "apreensivo" diante da proposta do governo brasileiro de uma "CPMF internacional" para financiar programas sociais em países pobres.

"Eu fico apreensivo com a possibilidade de se obter um efeito oposto ao desejado. O que queremos é ver mais investimentos em países mais pobres e em desenvolvimento, não menos. Qualquer coisa que possa restringir os fluxos financeiros significa o risco de obtermos o efeito reverso ao que pretendíamos", disse Patten à Folha, na segunda-feira à noite.

Ele se encontrara horas antes com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pretende apresentar a idéia da "CPMF internacional" em um encontro com o presidente da França, Jacques Chirac, e com o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Kofi Annan, no fim do mês, em Genebra.

Ao ressalvar que sua objeção era "pessoal", Patten acrescentou: "O governo brasileiro pode ter respostas para essas perguntas [sobre os riscos da proposta] e, certamente, há líderes europeus, como o presidente Chirac, que acreditam nela [na idéia]".

A idéia original de taxação de fluxos de capitais internacionais --agora chamada de "CPMF internacional" pelo governo Lula-- foi do americano James Tobin, professor da Universidade de Yale e Prêmio Nobel de Economia.

Em 1999, ela foi encampada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso para tentar impedir os efeitos das crises financeiras sobre os países mais pobres. Lula defende sua aplicação diretamente em programas sociais.

Se depender do britânico Patten, que completa 60 anos neste ano e desde o início da carreira tem laços com o Partido Conservador, a idéia não vai muito longe. Ele, porém, ressalvou que é cedo para conclusões: "Não há uma posição da União Européia, pois há diferentes pontos de vista apresentados por diferentes países membros".

Para ele, "de todos os modelos que foram experimentados para lidar com movimentos financeiros gigantescos, o que mais obteve sucesso não foi o que taxa o dinheiro quando ele sai de países, mas quando ele entra".

Programa espacial

Patten passou dois dias no Brasil, segunda-feira e ontem. Em Brasília, foi recebido também pelo chanceler Celso Amorim e pelo ministro José Viegas (Defesa).

Com Amorim, assinou um acordo de cooperação científica e tecnológica e outro de cooperação entre UE e Brasil. Também falaram sobre a possibilidade de fechar o acordo UE-Mercosul até o final do ano.

Com Viegas, o comissário europeu conversou sobre o sistema Galileo de navegação e posicionamento global, que se coloca como opção ao sistema americano para o programa espacial brasileiro, suspenso depois do acidente com a base aérea de Alcântara (MA), no ano passado.

América Latina

A uma pergunta sobre as recentes preocupações de Washington com um eventual processo de "esquerdização" da América Latina, Patten foi irônico:

"Eu não tenho nenhuma evidência para despertar no meio da noite tremendo de medo".

Ele criticou tanto Cuba como a política americana para a ilha: "Os direitos humanos em Cuba são deploráveis. As pessoas devem se perguntar como [Fidel] Castro se mantém no poder por tanto tempo. Se o objetivo das sanções e de isolá-lo foi o de se livrar dele, não funcionou muito bem".

Fichamento nos EUA

Patten discorda dos novos procedimentos impostos pelos EUA aos estrangeiros que chegam ao país: "Eu tenho dúvidas se colher impressões digitais vai aumentar nossa segurança. É uma questão mais ampla. O ideal seria que medidas de segurança fossem discutidas em fóruns internacionais e não impostas pelos americanos sem debates".

Em seguida, foi irônico: "O principal problema que enfrentamos foi que um vôo da British Airways foi cancelado e atrasado por vários dias. Depois, uma pessoa entrou num avião em Washington e foi pego em Londres, carregando cinco balas".
 

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