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29/01/2004 - 20h30

Aécio diz que não há trabalho escravo em Minas; Procuradoria desmente

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THIAGO GUIMARÃES, em Belo Horizonte
da Agência Folha
TIAGO ORNAGHI
da Agência Folha

Presentes hoje ao velório dos três auditores do Ministério do Trabalho assassinados em Unaí (MG), o presidente interino da República, José Alencar, e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), disseram que o Estado não tem registros recentes de casos de trabalho escravo.

Aécio afirmou que todo o Estado não registra trabalho escravo "há muito tempo". "Temos trabalho em condições precárias, alguns conflitos no campo, mas que nos colocam, em relação a outros Estados, em posição ainda privilegiada."

Referindo-se ao noroeste mineiro, onde fica Unaí, Alencar disse que "não se tratava de uma região onde houvesse, pelo menos, indícios de trabalho escravo".

A Procuradoria da República em Minas Gerais não confirmou as declarações de Aécio e Alencar. O procurador-chefe, José Adérsio Leite Sampaio, disse que no Estado existem casos de trabalhos em condição análoga à escravidão.

"Não é algo generalizado como é em outras partes do país, como no Pará, mas já houve na região do Alto Paranaíba [oeste do Estado] casos de fazendas que mantinham trabalhadores assim."

Sampaio ressaltou que no noroeste de Minas Gerais --onde ocorreram os assassinatos-- o trabalho em condições análogas à escravidão não é o maior problema. "A questão maior lá é de condições subumanas de alocação dos trabalhadores."

Em outubro de 2003, a Procuradoria Regional do Trabalho em Minas ajuizou ação civil pública contra a Replasa S.A., de São João do Paraíso, norte do Estado. Diz trecho da denúncia sobre salários pagos pela empresa: "Por fim, desnecessário enfatizar o caráter alimentar do salário, sendo certo que sua denegação contumaz constitui a reprovável prática de trabalho escravo."

A ação ainda não foi julgada. A Agência Folha não conseguiu entrar em contato com representantes da empresa.

Também presente no velório, em Belo Horizonte (MG), o ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) afirmou que "onde há trabalho escravo, não há diligência sem a [proteção da] Polícia Federal".

"Não há denúncias de trabalho escravo há muito tempo em Minas", disse ele.

Hoje, durante o velório, Miranda e o ministro Ricardo Berzoini (Trabalho) afirmaram não ter dúvidas que os fiscais foram "executados", provavelmente por "gatos" (aliciadores de trabalhadores).

Os corpos dos auditores Nelson José da Silva, 53, Erastótenes de Almeida, 42, e João Batista Soares Lage, 51, foram velados no Crea (Conselho Regional de Arquitetura e Engenharia), na capital mineira. A comitiva com Alencar, Berzoini e Miranda chegou às 12h40 ao local.

Eles percorreram o velório por cinco minutos e foram, com Aécio, ao encontro de familiares dos fiscais em sala reservada no mesmo prédio, onde ficaram por cerca de 20 minutos.

Os corpos de Almeida e Soares foram sepultados no cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte. O corpo de Silva foi enterrado em Rio Preto (348 km de Belo Horizonte), sua cidade natal. O motorista do grupo de fiscais, Aílton Pereira de Oliveira, 52, que também foi assassinado, foi enterrado em Prudente de Morais (126 km de Belo Horizonte).
 

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