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13/02/2004 - 06h02

Lula quer flexibilização da CLT em 2005

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ELIANE CANTANHÊDE
KENNEDY ALENCAR

da Folha de S.Paulo, em Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, durante jantar anteontem com jornalistas, a flexibilização das leis trabalhistas, inclusive da multa de 40% sobre o FGTS, e descartou incisivamente mudar a política econômica: "Plano B é invenção, não existe".

"Falam em mudar a política econômica, mas o que é mudar? É mudar o superávit primário? Pois nisso eu não vou mexer", disse Lula, negando a possibilidade de um "plano B" --alternativa acalentada até por setores do PT e do governo insatisfeitos com a política econômica do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).

Lula justificou os superávits primários altos (economia para pagamento de juros da dívida pública) como fator fundamental para garantir "a credibilidade" e "a manutenção do clima de confiança" no país. "Eu preciso de credibilidade para falar lá fora, falar de igual para igual", disse o presidente no encontro, que foi organizado pelo secretário de Imprensa e Divulgação de Lula, Ricardo Kotscho, e pela colunista Tereza Cruvinel, do jornal "O Globo".

O jantar ocorreu na casa de Cruvinel em Brasília. Participaram, além de Lula e da primeira-dama, Marisa Letícia da Silva, 17 jornalistas de sete jornais (Folha, "O Globo", "O Estado de S.Paulo", "Jornal do Brasil", "Valor Econômico", "Correio Braziliense" e "Estado de Minas") e da TV Globo. Além de Kotscho, outros dois assessores do presidente --Malu Baldoni e Fábio Kerche-- acompanharam Lula no jantar.

Os organizadores disseram que seria uma conversa informal, sem gravadores nem blocos de anotação, e que cada um usaria as declarações livremente. Houve sorteio para acomodar os jornalistas nos lugares da mesa com Lula.

Cruvinel abriu o encontro com uma piada que já circulava antes mesmo da chegada do presidente: Lula foi levado a um centro espírita com um problema, e o pai-de-santo logo percebeu do que se tratava. Aproximou-se e disse: "Sai desse corpo, Fernando Henrique, que ele não te pertence!".

Lula, Marisa e os jornalistas riram da piada, que ironiza as semelhanças entre os governos Lula e FHC, principalmente na política econômica. O presidente diz que se diverte com as charges da imprensa. "Os chargistas têm uma imaginação!", disse Lula.

O jantar, um churrasco com carne de boi, frango e carneiro, transcorreu em clima descontraído, com Lula respondendo a perguntas. Ele bebeu dois copos de uísque, tomou sorvete de sobremesa e fumou um charuto cubano na hora do cafezinho e do licor de limão. Junto de Marisa, que trajava terninho azul esverdeado, chegou por volta das 21h e se retirou pouco antes da meia-noite.

Reformas

Lula disse que enviará ao Congresso em 2004 as reformas sindical e do Judiciário. "A reforma trabalhista só em 2005, porque este ano é um ano atípico", numa alusão às eleições municipais.

Foi nesse momento que defendeu, sem detalhes, uma reforma trabalhista que "incentive a geração de empregos". Disse que as partes, trabalhadores, empresários e governo, devem "ter liberdade" e se dispor a fazer uma negociação. "Mas, se cada um pensar só em ganhar, paralisa."

Apesar de rejeitar o uso da palavra "flexibilização", disse que poderia ser revisto o mecanismo que prevê multa de 40% sobre o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) nas demissões e citou o parcelamento do 13º salário.

Para Lula, a única coisa inegociável são as férias de 30 dias: "Direito que existe em todo o mundo (sic)". Quando lembraram que nos EUA, não, reagiu: "Estou tentando marcar um encontro com empresários lá em julho e não está dando. Não vai ter ninguém lá".

Apesar da defesa das férias, contou que, quando estava de folga, ficava angustiado após dez dias. "Perguntem à Marisa", brincou. Ela acenou que sim com a cabeça.

Aproveitou o tema reformas para criticar o antecessor FHC, que incentivou a criação de uma central trabalhista, a SDS (Social Democracia Sindical). "Um erro."

Economia

Segundo Lula, o país precisa de um superávit primário de pelo menos um terço do que paga de juros pela dívida pública (no ano passado, 9,49% do PIB), e há gente na própria esquerda que defende superávits "até mais altos". Os superávits, disse, garantem a "manutenção da confiança". "Eu preciso de credibilidade para falar lá fora. Falar de igual para igual."

Queixou-se que todos reclamam dos juros altos, mas ninguém lembra que "são os menores dos últimos dez anos". Voltou a criticar os empresários: "Só falam de economia às vésperas do Copom, só sabem falar em Copom". Anunciou, então, que vai procurar federações empresariais "para discutir preços, investimentos". Ou seja, quer negociar uma trégua nos reajustes de preços.

Universidades

Lula falou em "parcerias" para colocar mais estudantes nas universidades privadas: "Se colocarmos 100 mil, já vai ser ótimo!". Defendeu ainda que os pesquisadores da universidades se dediquem a estudos que tenham "maior aplicação prática": "Na China é assim. A pesquisa é sobre algo que vai ter utilidade prática".

A troca de ministros da Educação, de Cristovam Buarque para Tarso Genro, teria tido esse intuito. "Era preciso alguém que não fosse da área." Buarque foi reitor da Universidade de Brasília.

Ao falar de como "é duro demitir amigos", disse que em 1973, como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SP), demitiu um advogado que, além de velho companheiro, tinha sete filhas. "Tinha de fazer, fiz."

Palocci e Meirelles

Lula fez questão de distinguir Palocci: "Caminhamos todos os dias". Falou que usa esses momentos para "troca de idéias e de apostas". Disse ainda que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi uma surpresa e está indo muito bem. Virou-se para Kotscho e disse: "O Meirelles precisa fazer encontros assim. Organiza um desses com ele".

Depois de uma série de elogios ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, confidenciou: "Eu queria alguém com o perfil do Pratini de Moraes. Aí, veio o Rodrigues". Pratini foi ministro da Agricultura no segundo mandato de FHC (1999-2002) e da Indústria e Comércio no governo Emílio Médici (1969-1974).

Sobre a força do Joaquim Levy (secretário do Tesouro), deixou rastros claros de que não gosta do auxiliar de Palocci, ao se referir a Levy como "segundo escalão". Mas mostrou respeitar a decisão do ministro de bancá-lo no posto. "Esse pessoal do Tesouro joga duro, e precisa ser duro mesmo", havia dito no início da conversa. Já no fim, disse que delega confiança ao "primeiro escalão" e que este é responsável pelo "segundo". Se não der certo, quem sofre as conseqüências é o chefe. Nessa hora, citou ter confiança em Palocci.

"O Levy, perto do Sadao, é um santo", comparou. Sadao Higuchi, amigo de Lula que morreu em 1998, foi administrador do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
 

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