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18/02/2004 - 05h17

Dirceu diz que se afasta do cargo caso CPI seja aprovada

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KENNEDY ALENCAR
ELIANE CANTANHÊDE

da Folha de S.Paulo, em Brasília

O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, colocou o cargo à disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião anteontem de manhã no Palácio do Planalto. Na reunião, que discutia o impacto do caso Waldomiro Diniz sobre o governo, Lula nem respondeu, num sinal de discordância com a possibilidade, que, ao pé da letra, significaria a saída do ministro do governo.

Ontem, Dirceu voltou ao assunto de forma contundente. Ele avisou às presidências da Câmara e do Senado e a líderes aliados que já tomou uma decisão: caso haja qualquer CPI, seja restrita, seja ampla, seja unicameral ou do Congresso, ele vai se afastar do cargo para se dedicar "à defesa".

No mesmo dia em que Dirceu colocava o cargo à disposição de Lula, o governo recebeu o resultado parcial de uma pesquisa telefônica, que ele próprio encomendara, apontando que a maioria dos entrevistados achava "importante" uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Congresso sobre o caso Waldomiro.

A pesquisa aponta ainda desgaste do governo e do PT com o episódio da fita de vídeo gravada em 2002 que mostra Waldomiro Diniz pedindo propina e contribuição de campanha a um empresário de bingos. Na época, ele presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro). Depois, como homem de confiança de Dirceu, virou subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, cargo que deixou na última sexta-feira.

Surpresa

Segundo a Folha apurou, Dirceu deixou surpresos os participantes da reunião do Planalto em que ele pôs o cargo à disposição de Lula. Quando o ministro falou em sair do cargo, se discutia o impacto do caso e a ida de Dirceu ao Congresso para entregar a mensagem presidencial por ocasião do início do ano legislativo. Ou seja, falava-se da importância de prestigiá-lo e fortalecê-lo para evitar enfraquecimento do governo.

Apesar disso, Dirceu afirmou que, na hipótese de aumento da repercussão negativa do caso Waldomiro Diniz, talvez fosse preciso avaliar se não era conveniente que ele deixasse o governo. Olhando para Lula, ele disse: "Eu estou disponível". Mas Lula nem deu resposta, sinalizando que não pensava nessa possibilidade.

Ontem, ao confirmar a disposição para interlocutores do Congresso, o ministro disse que tinha dois exemplos. Um foi o do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações), que foi ao Congresso se explicar sobre as fitas das privatizações no governo FHC e acabou tendo que deixar o cargo. O outro foi o de Henrique Hargreaves, ex-chefe da Casa Civil de Itamar Franco, que se antecipou, pedindo afastamento e voltando ao cargo quando tudo foi esclarecido. "Prefiro seguir o exemplo do Hargreaves", disse Dirceu, segundo interlocutores.

Pessoas próximas do ministro político mais forte do governo dizem que ele está muito abatido e declarou ter ficado surpreso com o pedido de propina feito por Waldomiro, que conhecia havia 12 anos e com quem dividiu apartamento no tempo de deputado.

Lula avalia que uma eventual saída de Dirceu do governo seria uma espécie de confissão de culpa e enfraqueceria brutalmente sua administração. Em encontro com jornalistas na semana passada, Lula disse que Dirceu era o "capitão" do time. Na reforma ministerial, Lula tirou as atribuições políticas da Casa Civil a fim de liberar Dirceu para cuidar com mais afinco do gerenciamento.

A opinião da necessidade de preservar Dirceu foi unânime na reunião, da qual participaram os ministros Jaques Wagner (Conselhão), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e Aldo Rebelo (Coordenação Política).

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, também foi chamado a participar do encontro. Foi nessa reunião que se decidiu tornar público um trabalho que era feito nos bastidores: a varredura dos atos de Waldomiro na Casa Civil para evitar surpresas.
 

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