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20/02/2004 - 00h03

Estados perderam o comando do jogo, diz empresário

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HUDSON CORRÊA
da Agência Folha, em Anápolis

O empresário do bingo Carlos Augusto de Almeida Ramos, 40, o Carlinhos Cachoeira, afirmou hoje que os governos estaduais perderam o comando das loterias e caça-níqueis para um mercado clandestino. Ele citou como exemplos Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal.

Cachoeira disse à Agência Folha que repassa R$ 2 milhões por mês ao governo de Goiás para explorar videoloteria (caça-níqueis) e bilhetes lotéricos. Segundo ele, Mato Grosso do Sul recebe R$ 130 mil e o Distrito Federal ganha R$ 50 mil de empresas que exploram os jogos. "Há algo de errado nisso", disse o empresário.

"Os governos deveriam cobrar mais e taxar. Colocar um sistema on-line [que permite saber o valor das apostas em todos os caça-níqueis] que não dê margem para a lavagem de dinheiro. Os Estados têm que combater os clandestinos [empresas que operam sem contrato com o governo]", afirmou.

No domingo, quando fez o primeiro contato com a Agência Folha em Goiânia, Cachoeira foi mais enfático: "Só tem pilantra nesse mercado. O governo não comanda coisa nenhuma. O mercado clandestino é quem comanda o jogo neste país".

Cachoeira aparece em fita gravada em 2002, onde o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz pede dinheiro para campanhas eleitorais. A fita foi divulgada pela revista "Época". Durante as entrevistas para a Agência Folha, Cachoeira não quis falar sobre as fitas. "Só falo em juízo", afirmou. Ele disse que nunca teve contato com o ministro José Dirceu (Casa Civil), de quem Diniz foi assessor.

Em relação aos jogos, Cachoeira afirma criticar os governos estaduais sem levar em conta os partidos. "Sou apartidário", disse.

Em Mato Grosso do Sul, um dos Estados citados por Cachoeira, o governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, baixou decreto em 2001, no primeiro mandato, para regularizar a exploração de caça-níqueis, chamados de máquinas de videoloteria.

O empresário Jamil Name, 65, que admitiu ter comandado o jogo do bicho em Mato Grosso Sul (leia texto nesta página), tem concessão até 2006 para explorar as máquinas no Estado. "Hoje é miragem dizer que existe jogo do bicho no Brasil. O que existe são 'maquineiros' [donos de caça-níqueis] que não dão dinheiro para o Estado e geram corrupção."

Cachoeira afirma ser o empresário da loteria que mais dá lucro ao governo. "Goiás fica com 90% da arrecadação", disse.

Segundo o superintendente de Loterias de Goiás, Jailton Naves, a Gerplan, empresa de Cachoeira com monopólio na exploração de loterias, aumentou de R$ 4,9 milhões (valor em 2002) para R$ 14 milhões em 2003 o repasse ao governo. Ele ainda deve R$ 7 milhões relativos ao ano passado.

Os caça-níqueis que rendiam R$ 277 mil por mês passaram a dar lucro de R$ 1,9 milhão para o governo em 2004. São 11.400 máquinas, segundo o governo.

A Superintendência de Loterias de Goiás afirma que a arrecadação anterior estava "aquém do potencial de mercado".

Para Cachoeira, o repasse aumentou porque o governo "combateu o jogo clandestino". Segundo Naves, em 2003 foram apreendidos 2.500 caça-níqueis que não tinham o selo da Gerplan.

Devido à falta de controle na exploração de jogos, "estão criando um Arcanjo em cada cidade, em cada Estado", diz Cachoeira. Ele se refere ao ex-policial civil João Arcanjo Ribeiro, 52, condenado a 37 anos de prisão em dezembro por lavagem de dinheiro, formação de organização criminosa e crime contra o sistema financeiro.

O MPF (Ministério Público Federal) acusa Arcanjo, preso desde abril no Uruguai, de explorar ilegalmente caça-níqueis em Cuiabá (MT). O advogado João dos Santos Gomes Filho afirma que a origem do dinheiro de Arcanjo está no jogo do bicho.
 

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