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19/03/2004 - 06h32

"Não posso impedir relações pessoais"

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CLÓVIS ROSSI
enviado especial da Folha de S.Paulo a Londres

O ministro Antonio Palocci (Fazenda) confirmou ontem que seu chefe-de-gabinete, Juscelino Antonio Dourado, não só foi sócio de Rogério Buratti como foi padrinho de casamento dele. "Não posso impedir que tenha relações pessoais", disse o ministro, ao falar com um pequeno grupo de jornalistas brasileiros, na embaixada do Brasil em Londres.

Buratti foi secretário de Governo de Palocci na sua primeira gestão como prefeito de Ribeirão Preto (1992-96). Em 1994, foi demitido por comportamento "inadequado", segundo o ministro.

A "inadequação": conversas gravadas com empresários, nas quais passava informações confidenciais sobre obras públicas.

Palocci diz que mantém a avaliação de "inadequação", embora nem a CPI da Câmara Municipal da cidade nem o Ministério Público tenham encontrado fatos que levassem a uma condenação de seu ex-auxiliar. "As informações que ele deu não se transformaram em fatos", recorda Palocci. Ou seja, a prefeitura não executou os projetos que Buratti antecipara a empresários que, portanto, não puderam se beneficiar de informação privilegiada.

"A partir daquele momento, não tive relação de amizade nem relacionamento profissional com ele", diz o ministro. Acrescenta: "Mas não quer dizer que tenha rompido com ele, que tem amigos em Ribeirão Preto e relacionamento com gente que trabalha ou trabalhou comigo".

O ministro observou que a Folha fez "uma matéria muito correta" sobre o episódio.

Ao pecado antigo, Buratti somou uma nova suspeita bem mais recente. Segundo depoimentos de diretores da GTech do Brasil, Waldomiro Diniz, ex-assessor da Presidência, solicitou que a empresa contratasse Buratti em troca de ajuda na prorrogação de um contrato com a Caixa Econômica Federal para gerenciar loterias.

Para essa nova "inadequação", Palocci diz que sua resposta foi chamar Jorge Mattoso, presidente da Caixa, indicado pelo próprio Palocci. "Tivemos uma conversa muito franca e ele me assegurou que não houve qualquer irregularidade", diz o ministro.

Palocci fez questão de pedir que os jornalistas registrassem um elogio à empresa Leão Leão, da qual Buratti é vice-presidente. A firma foi a principal financiadora da campanha do ministro para a Prefeitura riberopretana de 2000. Contribuiu com R$ 150 mil dos R$ 776 mil arrecadados.

"Toda a relação que tive com essa empresa e a relação que teve com prefeitos de outros partidos me dão a certeza de que não há qualquer questionamento a fazer a ela. Ao contrário, é motivo de orgulho para Ribeirão", afirmou.

Palocci escapou, uma e outra vez, a perguntas sobre a mudança de posição do PT, que apoiava, quando oposição, qualquer CPI proposta e, agora, barra a do caso Waldomiro Diniz. "O Congresso vai decidir em cada caso. Não cabe ao governo interferir", disse.

Depois, entrou com o discurso da governabilidade: "O fundamental é ter a certeza de que o país é capaz de apurar problemas que surjam na esfera pública ou privada e ao mesmo tempo continuar a executar sua pauta. É o que está acontecendo", acha o ministro.

Waldomiro foi demitido após a divulgação de uma fita de 2002 em que ele pede propina a um empresário. Na época, trabalhava para Benedita da Silva (PT-RJ).

Os temas Waldomiro Diniz e Rogério Buratti surgiram muito marginalmente nas perguntas que investidores britânicos fizeram ontem à tarde ao ministro, na sede do Banco da Inglaterra, o Banco Central inglês.

A exposição foi fechada à mídia, pelo menos à brasileira, mas a Folha ouviu de três participantes que houve uma pergunta a respeito que o ministro driblou, preferindo jogar o foco para as críticas à política econômica, estas sim motivo de maior inquietação.
 

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