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20/03/2004
-
05h10
FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Olinda
O bispo de Duque de Caxias (RJ), dom Mauro Morelli, disse ontem, em Olinda (região metropolitana de Recife), que a política econômica do governo interfere no combate à fome no país.
"Está interferindo porque, na concepção do governo, a prioridade é a estabilidade econômica, é cumprir os acordos. [...] Só que, cada vez mais, vai ficando evidente que o país não agüenta ficar engessado por muito tempo." A declaração foi dada em entrevista na 2ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.
Segundo o religioso, que também preside o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar) de Minas Gerais, a sociedade brasileira precisa "entrar num processo de diálogo sobre esse tal de engessamento".
"Tudo bem manter a economia estável, a moeda estável. Ninguém está pretendendo o contrário", disse. "Mas nós temos que descobrir o caminho de uma negociação internacional para que isso [o engessamento] não continue por muito tempo."
Dom Mauro acredita que a manutenção por longo prazo da atual política econômica agravaria os problemas sociais. Para o bispo, nenhum governo obtém grande avanço sem um movimento político. "O grande equívoco de um governo é achar que recebeu o mandato e se afastar do povo", disse, sem citar nomes. "O governante pode ser justo e santo, mas, sem a participação ativa da cidadania, dificilmente escapará de duas coisas terríveis: a burocracia e a corrupção."
Um dos idealizadores do Consea, o bispo participa como palestrante na conferência. O evento, que termina hoje, vai definir propostas de uma política de segurança alimentar e nutricional a serem apresentadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Entre as propostas que deverão ser aceitas está a do presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária, Plínio de Arruda Sampaio, que defende um plano de safra para a agricultura familiar para suprir a demanda de alimentos prevista com a expansão dos programas de distribuição de renda.
Fome Zero
A não-permanência de representantes do primeiro escalão do governo nos quatro dias de duração da conferência levou dom Mauro a reclamar de um suposto desinteresse oficial pelo encontro.
"Seria bom que os governos, nos vários níveis, prestassem atenção à conferência e que fizessem os seus planos de segurança alimentar", afirmou. O governo federal, declarou Morelli, "não tem um plano, mas precisa ter".
Para o bispo, o governo deveria fazer autocrítica e avaliar se "chegou aqui propondo alguma coisa". Dom Mauro criticou ainda a criação, no ano passado, do Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome. A pasta acabou absorvida, na reforma ministerial de janeiro, pelo Ministério do Desenvolvimento Social, um dos organizadores da conferência.
"Criar um ministério para cuidar da fome é embarcar, no mínimo, num equívoco desastroso", afirmou Dom Mauro.
D. Mauro ataca o Fome Zero e a política econômica
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da Agência Folha, em Olinda
O bispo de Duque de Caxias (RJ), dom Mauro Morelli, disse ontem, em Olinda (região metropolitana de Recife), que a política econômica do governo interfere no combate à fome no país.
"Está interferindo porque, na concepção do governo, a prioridade é a estabilidade econômica, é cumprir os acordos. [...] Só que, cada vez mais, vai ficando evidente que o país não agüenta ficar engessado por muito tempo." A declaração foi dada em entrevista na 2ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.
Segundo o religioso, que também preside o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar) de Minas Gerais, a sociedade brasileira precisa "entrar num processo de diálogo sobre esse tal de engessamento".
"Tudo bem manter a economia estável, a moeda estável. Ninguém está pretendendo o contrário", disse. "Mas nós temos que descobrir o caminho de uma negociação internacional para que isso [o engessamento] não continue por muito tempo."
Dom Mauro acredita que a manutenção por longo prazo da atual política econômica agravaria os problemas sociais. Para o bispo, nenhum governo obtém grande avanço sem um movimento político. "O grande equívoco de um governo é achar que recebeu o mandato e se afastar do povo", disse, sem citar nomes. "O governante pode ser justo e santo, mas, sem a participação ativa da cidadania, dificilmente escapará de duas coisas terríveis: a burocracia e a corrupção."
Um dos idealizadores do Consea, o bispo participa como palestrante na conferência. O evento, que termina hoje, vai definir propostas de uma política de segurança alimentar e nutricional a serem apresentadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Entre as propostas que deverão ser aceitas está a do presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária, Plínio de Arruda Sampaio, que defende um plano de safra para a agricultura familiar para suprir a demanda de alimentos prevista com a expansão dos programas de distribuição de renda.
Fome Zero
A não-permanência de representantes do primeiro escalão do governo nos quatro dias de duração da conferência levou dom Mauro a reclamar de um suposto desinteresse oficial pelo encontro.
"Seria bom que os governos, nos vários níveis, prestassem atenção à conferência e que fizessem os seus planos de segurança alimentar", afirmou. O governo federal, declarou Morelli, "não tem um plano, mas precisa ter".
Para o bispo, o governo deveria fazer autocrítica e avaliar se "chegou aqui propondo alguma coisa". Dom Mauro criticou ainda a criação, no ano passado, do Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome. A pasta acabou absorvida, na reforma ministerial de janeiro, pelo Ministério do Desenvolvimento Social, um dos organizadores da conferência.
"Criar um ministério para cuidar da fome é embarcar, no mínimo, num equívoco desastroso", afirmou Dom Mauro.
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